terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Pode a Educação Especial deixar de ser especial?


Tomei conhecimento da publicação deste livro, pelo De Rerum Natura, e fiquei com alguma curiosidade em o adquirir e ler. É o que farei! No entanto, e para aguçar o apetite, deixo algumas palavras do prefácio:

"Este livro tem como objectivo apresentar uma perspectiva da educação especial que, no entender dos seus autores, veicula a melhor evidência científica disponível relativamente aos assuntos que nele são abordados. É importante salientar este aspecto, porque (…) o denominado relativismo pós-moderno tem impregnado a educação especial com ideias e concepções que não só não têm em consideração a investigação desenvolvida nesta área, como a reduzem à condição de «opiniões entre opiniões». Neste contexto, aquilo que é característico da ciência (como por exemplo o valor da prova ou evidência) é frequentemente apresentado como inútil, quando não nefasto.

Os movimentos científico não conhecem fronteiras e, por isso (…) é possível constatar que as questões fundamentais com que se debate a educação especial em Portugal e nos Estados Unidos são perfeitamente miméticas. Digamos que o sistema português constitui uma cópia tardia do sistema americano, não tendo infelizmente aprendido com os erros deste último (…)

A educação especial é possivelmente um dos sectores em que é mais fácil vender ilusões, avançar com soluções milagrosas e invocar falsos sucessos (…).

O ponto é que, na educação especial, estratégias sem suporte científico, como a inclusão de alunos deficientes em salas de aula regulares ou conceitos sem validade diagnóstica ou categorial como as denominadas «necessidades educativas especiais», são tomadas como verdades inequívocas ou dogmas, pelo que se dispensa qualquer investigação ou sequer discussão a seu respeito.

Este livro pretende marcar uma posição de defesa dos métodos da ciência, na educação em geral e na educação especial em particular, discutindo o que tem que ser discutido e rejeitando liminarmente postulados de fé ou de autoridade. O conhecimento progride no contraditório e dá-se sempre mal com os absolutos. Seja em biologia ou em educação".

Na apressentação do livro, na página da editora, pode ler-se o seguinte:

A educação especial é possivelmente um dos sectores em que é mais fácil vender ilusões, avançar com soluções milagrosas e invocar falsos sucessos. Este livro questiona frontalmente alguns conceitos e práticas apresentados como “indiscutíveis” nesta área, nomeadamente o inoperacional conceito de “necessidades educativas especiais” ou a denominada “inclusão educativa”, que em múltiplas situações nada mais significa que atirar alunos com deficiências para salas de aulas regulares, onde consabidamente não há condições para lhes fornecer apoio ou ensino. Este livro tem como objectivo apresentar uma perspectiva da educação especial que, no entender dos seus autores, veicula a melhor evidência científica disponível relativamente aos assuntos que nele são abordados.

8 comentários:

Atena disse...

Como mãe, há já algum tempo que relativiso um pouco, a vasta informação disponibilizada em geral, sobre as melhores terapias, os melhores médicos, as melhores "isto e aquilo" - concretamente sobre autismo... (após alguns anos, tal variadade vai cansando). Fica-me no entanto, uma ideia, depois de muito ler e ouvir: Pouco há de comprovado nesta àrea e a história vai-se fazendo há décadas de estudos, opiniões, de experimentações e suposições... ou seja, estamos longe de respostas concretas àcerca do que chamam o enigma do Autismo, que por acaso engloba um espectro tal, que vai de 8 a 80 na sua manifestação de características, de forma perfeitamente variada e distinta - práticamente como se cada individuo fosse comprometido com o Autismo de forma única - pelo que estranho, que se venha a confirmar ser resposta para esta problemática, uma mesma e unica via para todos.
(O que há de certo, é uma sentença de não cura, logo à partida, que quase desfaz os pais)! Ainda assim respeito todas as opiniões, porque muitas revelam por certo, o interesse que se deposita nesta àrea, e acima de tudo porque há caminhos que efectivamente podem ajudar a melhorar certas incapacidades, devendo cada criança ser acompanhada individualmente. Continuareí a procurar informação por toda a parte, porque continuo à espera de avanços e possiveis descobertas que possam clarificar o tal enigma, mas muito mais calmamente e com um filtro incorporado!
Relativiso alguma informação e prossigo o meu caminho OLHANDO PARA O MEU FILHO COMO SER ÚNICO QUE É - pessoa com qualidades e defeitos- como todos, com capacidades e incapacidades-(não digo como todos, mas como muitos).
Prossigo a busca porque tenho esperança que algum dia a comunidade científica chegue a algum lado que seja verdadeiramente útil a esta problemática. (E compreendo que tal não seja fácil).
Até lá, tento focar-me cada vez mais na pessoa que é o meu Vasco, que faz 8 anos dentro de 1 mês e que tem como diagnóstico uma perturbação do espectro do Autismo em caracterízação (ainda), mas que me prova a cada dia que é possivel ir superando algumas das suas dificuldades com o seu esforço e o das pessoas (algumas) que o rodeiam na escola e que graças a deus são do melhor que existe, tanto profissional como humanamente!
Para mim a melhor terapia é portanto, a INTEGRAÇÃO ESCOLAR (e não inclusão), acompanhada sobretudo por profissionais que mostrem sensibilidade, interesse, empenho e amor, e que as Entidades cumpram na íntegra a lei que criaram, não faltando com nenhum dos meios (humanos, ou materiais... Conseguir isto tudo é que é quase um milagre). Efectivamente, para o meu filho e até ao momento, essa resposta tem sido positiva, ainda que com todas as dificuldades que a sociedade nos coloca e que o Prof. João conhece por certo. A nossa luta tem que ser contornar e ultrapassar essas falhas.
Mas bem sei, que o meu filho é apenas 1 dos milhares com NEE's abrangidos pela dita Lei (e tb aqui isto é discutível - a elegibilidade para as NEE).
A questão é que, talvez mais que concensos e descobertas, há um longo caminho a percorrer que deve ser feito em sociedade de forma séria e dedicada e para o qual, pequena parte da sociedade está voltada.

Já agora este livro deve poder encontrar-se nas livrarias, não?
Grande abraço
Cristina Franco

João Adelino Santos disse...

Olá Cristina!
De facto, para algumas NEE não existe "cura", mas sim uma tentativa de melhorar a situação, quer pessoal, quer social. Integração ou Inclusão?! Vale a pena discutir os conceitos e, posteriormente, decidir! Cada aluno configura-se como uma situação diferente. Porque não conjugar/articular integração e inclusão?! Por vezes fica a sensação de que está na "moda" a inclusão! Vai daí, fala-se em "inclusão escolar", "inclusão social", "escola inclusiva", etc, etc... Vamos clarificar conceitos! Depois, aplicá-los correctamente na prática, para bem de cada aluno!
O livro pode ser adquirido directamente na livraria Psiquilíbrios, em Braga, ou mandar vir por correio.
Uma vez mais, obrigado pela sua participação!
Abraço!
João

nedav disse...

Desde já gostaria de lhe dar os parabéns Cristina...Pelo seu testemunho que revela um grande empenho e uma grande dedicação ao seu filho. É um gosto trabalhar com Pais com essa vontade e dedicação, e penso que falo por todos os professores. De facto, tal como afirma Luís Miranda Correia, INTEGRAÇÃO e INCLUSÃO são dois conceitos indissociáveis. Muito se terá de investir em termos integrativos, sustentando a filosofia da inclusão, para que um dia ambas se fundam e construam a tão ambicionada “escola para todos”, integrada numa sociedade inclusiva.
Gostaria de terminar apenas de lembrar com uma citação que se encontra no meu blogue:"Não Desistimos, porque as más pol´´iticas não são tão fortes como os bons sonhos." (Pereira, Mário.2009).
Os meus sinceros parabéns ao criador deste blogue pela excelente qualidade do mesmo.

João Adelino Santos disse...

Cristina, tomei a liberdade de publicar o seu comentário. Considerei-o interessante, oportuno e potenciador de debate. Assim o espero!

Atena disse...

Prof. João,
Muito obrigada e esteja sempre á vontade. A minha opinião é publica (tomara eu pudesse ser mais). Não por acha-la a mais certa de todas, mas para provocar debate, interesse, outras opiniões e visibilidade para as incapacidades.
Visibilidade que pudesse ser positiva para desmitificar estas questões.
Ao Prof. Nelson, o meu agradecimento também... são muito agradaveis as suas palavras. Além disso fico sempre tão satisfeita quando penso que não foi só o meu filho que têve sorte em encontrar uma professora amiga e dedicada... ver outros tranquiliza-me muito por todos estes meninos e motiva-me a seguir em frente, com força.
Admiro muitíssimo a vossa dedicação, o gosto pelo saber mais para poder desempenhar melhor o vosso importante papel, e admiro ainda mais quando verifico que o vosso empenho nos nossos filhos é um pouco amor a eles.
Já agora para terminar, a citação que deixa no final, é do mais animador que ouvi nos ultimos tempos... ganheí o dia:)))))
Grande abraço e vamo-mos "lendo" por aqui.

nedav disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
nedav disse...

É uma frase que cito para reforçar que somos nós enquanto professores/educadores/pais que fazemos a diferença no dia-a-dia de crianças e jovens.
Não são as políticas que desenvolvem as nossas crianças...somos nós com os nossos sonhos, com o nosso empenho que criamos melhoria na qualidade de vida dessas crianças/jovens, proporcionando um futuro melhor.
Para mim não se educa sem essa dedicação e empenho...
E a cooperacção família-escola é essencial.
Sem querer ferir susceptibilidades (peço desculpa Prof. João pelo atrevimento), gostaria de convidar a Cristina a passar pelo meu blogue e deixar um testemunho sobre si e sobre o seu filho.
Cumprimentos e mais uma vez peço desculpa ao Prof. João pelo atrevimento

João Adelino Santos disse...

Nedav
Já visitei o sei blog e tenho a dar-lhe os parabéns! É interessante, apresenta documentos e textos actuais, oportunos!É com prazer que passei a visitá-lo! Todos (sobretudo professores de Ed. Especial e pais),talvez ainda sejamos poucos para mudar mentalidades e, depois, quem sabe, as práticas!
Cuprimentos