Responder a esta questão é extremamente difícil, pois o normal e o patológico dependem muito do contexto. O que num contexto é anormal, num outro poderá não ser tanto assim.
"É sempre a mesma coisa: de cada vez que os pais pressentem que algo vai mal, em vez de tentarem compreender, marcam consulta para um psicólogo. Os psicólogos são os santos protectores dos pais do século XX. Recorrem a eles como se eles soubessem fazer milagres. Quase toda a malta que eu conheço já foi, vai ou arrisca-se a ir, mais tarde ou mais cedo, a um São Psicólogo dos Milagres. Nem quero pensar que me vai acontecer o mesmo... Até me dá vómitos!"
Gonzalez, M. (1994), A Lua de Joana - Editorial Verbo. Lisboa/São Paulo.
"É sempre a mesma coisa: de cada vez que os pais pressentem que algo vai mal, em vez de tentarem compreender, marcam consulta para um psicólogo. Os psicólogos são os santos protectores dos pais do século XX. Recorrem a eles como se eles soubessem fazer milagres. Quase toda a malta que eu conheço já foi, vai ou arrisca-se a ir, mais tarde ou mais cedo, a um São Psicólogo dos Milagres. Nem quero pensar que me vai acontecer o mesmo... Até me dá vómitos!"
Gonzalez, M. (1994), A Lua de Joana - Editorial Verbo. Lisboa/São Paulo.
A Lua de Joana é um livro constituído pelas cartas que uma adolescente, a Joana, escreve à sua amiga Marta, que falecera devido a problemas com drogas.
A ida ao psicólogo parece ser, no universo onde a Joana se move, uma moda. Moda esta frequentemente usada por pais que se querem desresponsabilizar e desculpabilizar face ao problema dos filhos. O pai da Joana tinha muito pouco tempo para ela, talvez por isso ela temesse que ele procurasse um psicólogo para a ajudar. A referência à ausência do pai é frequente: "Aliás, o meu pai tem outra justificação: ele não tem tempo para se chatear. Uma discussão, um ralhete, um sermão são coisas que podem durar horas, e ele não se pode dar a esse luxo, tem coisas muito mais importantes para fazer...". Esta é apenas uma citação, pois as referências à ausência do pai são muito frequentes ao longo deste livro, que desde já recomendo.
Desresponsabilização?!... Sem dúvida que por vezes esta atitude está subjacente à procura de um psicólogo. Muito recentemente um pai, num estado de grande tensão, afirmava: "Veja se o trata, pois nós já não o conseguimos aguentar". Subjacente a esta afirmação a ideia de que o único que seria envolvido no processo terapêutico seria esta criança com apenas 10 anos. Na verdade, quando os adultos levam a criança a um psicólogo quem vai falar das dificuldades e vai ser aconselhado é o adulto. O adulto é que terá de assumir o papel principal, mesmo quando o que ele preferia era de ser apenas figurante.
A insegurança é também a "mola" que muitas vezes impulsiona a procura de apoio psicológico. Há pais que consideram que se agirem desta ou de outra forma irão traumatizar os filhos, por isso procuram os psicólogos para saber como 'se deve' agir nesta, naquela e na outra situação. O medo de falhar perseguem-nos e por isso só se sentem aliviados se ouvirem a opinião de pessoas ditas mais sabedoras...
Mas, afinal, quando é que é aconselhável levar uma criança ao psicólogo? Responder a esta questão é extremamente difícil, pois o normal e o patológico dependem muito do contexto. O que num contexto é anormal, num outro poderá não ser tanto assim. Apesar desta dificuldade existem alguns sinais indicadores da necessidade de apoio psicológico, aos quais deverá estar atento. São eles:
- Mudanças bruscas de comportamento, sem que para tal exista justificação. Por exemplo, ele era muito alegre e agora começa a chorar frequentemente, sem que para tal exista uma justificação. Neste poderá ser importante pedir ajuda.
- Existência de um comportamento disfuncional, num dos contextos onde a criança se move. Se em casa ela está bem, mas na escola tem atitudes 'estranhas' e 'inexplicáveis', a ajuda de um especialista poderá ser necessária.
- Sentimento de inquietação permanente e falta de estratégias para lidar com uma determinada situação, mesmo quando todos que o rodeiam afirmam que a situação é normal.
- Redução significativa da qualidade de vida, devido à incapacidade para lidar com as características pessoais, situações e opções de vida.
- Se já usou diferentes estratégias e instrumentos e não foi capaz de solucionar esse problema que tanto o inquieta, então não hesite, procure mesmo ajuda...
Adriana Campos
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