"Quando li o artigo "Vítima de bullying" tive de repente a impressão de que o meu filho mais novo pode estar a ser vítima de bullying! É uma criança que tem uma atitude de revolta em relação à escola, que desafia constantemente os professores e que se queixa dos colegas gozarem com ele. Revolta-se com os colegas e recusa-se a fazer o que os professores mandam, pois diz que tem vergonha de responder. Podem dar-me alguma orientação? Presentemente encontra-se a ser seguido por uma pedopsiquiatra, que diz não haver razão psíquica para estas reacções. Se pudessem responder a esta minha pergunta, ficaria agradecida."
Responder sim ou não à questão aqui colocada não é possível, porque os dados fornecidos são tão reduzidos que não permitem sequer arriscar hipóteses. De qualquer forma há alguns aspectos que poderão ajudar a clarificar se esta criança estará ou não a ser alvo de um processo de bullying.
Antes de mais, é necessário definir bem o conceito bullying. Segundo alguns peritos, o bullying pode ser definido como uma acção em que um ou mais indivíduos agridem física, verbal ou emocionalmente outro. Não se trata de uma zanga entre amigos, nem de uma cena de ciúmes, mas de um padrão repetido de intimidação física e psicológica, cuja intenção é provocar mal-estar, ganhar controlo sobre o outro e demonstrar poder.
Um outro aspecto que é importante ter presente, para tentar responder à questão lançada, é o perfil típico da vítima. Segundo alguns estudos, as vítimas são geralmente crianças que apresentam características físicas específicas (usar óculos, excesso de peso), maneirismos ou outras particularidades que as distinguem da maioria. As crianças portadoras de deficiência, de uma doença crónica ou cujos pais são demasiado protectores ou dominadores são frequentemente vítimas de agressão por parte dos seus colegas. Os bons alunos podem também ser alvos preferenciais, pois as boas notas são muitas vezes percepcionadas pelos agressores como resultado da "graxa" dada aos professores.
Os sinais de alerta são muito importantes e devem também ser tidos em consideração nesta análise. Segundo Allan Bean, especialista nesta área, uma mudança repentina na assiduidade e no desempenho escolar, a perda de apetite, sintomas físicos como dores de cabeça e de barriga, pesadelos, quebra de auto-estima e súbitas mudanças de humor são alguns dos principais sinais de alerta para os quais pais e professores deverão estar particularmente atentos. Se esta análise vem aumentar as suspeitas parentais, então é fundamental haver uma actuação por parte desta família, uma vez que esta tem também um papel determinante no combate à violência escolar. Sempre que a ligação entre a família e a escola é reforçada, estão a ser dados passos importantes no combate ao bullying, dado que o trabalho conjunto de pais e professores é determinante para identificar e retirar o papel de vítimas a alunos que, por qualquer motivo, o assumiram.
O local da escola onde o bullying é mais frequente é o recreio, sendo a sua fraca supervisão uma das razões principais para que tal aconteça. Por este motivo, numa circunstância como aqui é descrita, a existência de um auxiliar que assuma uma atitude de observação mais atenta poderá ajudar a determinar se esta criança está realmente a ser alvo de violência por parte dos colegas. Obviamente que este tipo de medida só pode ser implementado em resultado de uma articulação próxima entre pais e professores.
Ser vítima de bullying é sem dúvida fonte de grande perturbação emocional. Por isso, se esta reflexão veio reforçar mais aquilo de que já suspeitava, há que pedir urgentemente a colaboração dos elementos da comunidade educativa, no sentido de pôr fim a uma eventual situação de violência, se tal for o caso. Se não for, outras estratégias terão de ser encontradas, no sentido de esta criança percepcionar a escola como um local onde é bom estar.
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