A propósito da media de alargamento da escolaridade obrigatória para doze anos, têm-se ouvido muitos comentários. Considero que a medida é tendencialmente positiva, pelo impacto que poderá ter ao nível pessoal e, também, ao nível do desenvolvimento do país. No entanto, pensando sobretudo nos alunos e nas suas reacções, esta medida precisa urgentemente de ser bem equacionada, ponderada e delineada, analisando e identificando todos as implicações daí resultantes, assim como as medidas colaterais a tomar, designadamente para os alunos com NEE com currículo específico individual. Caso contrário, estaremos perante mais uma medida de política demagógica!
Estes alertas têm sido publicados. Deixo o testemunho de Joaquim Azevedo, de Maria Madalena Matos e de Jorge Ramos do Ó, retirados do Público de hoje, em formato de papel.
"Esta é a parte fácil, fazer o decreto", comenta Joaquim de Azevedo. "A questão não é como obrigamos, mas como é que criamos condições para que todos possam ter um percurso educacional de qualidade", frisa. Trata-se de deslocar o foco de partida da "obrigatoriedade" para a "universalidade", o que só se conseguirá através de "formações muito flexíveis e abertas". "Os actuais cursos profissionais [onde estão 35,4 por cento dos mais de 300 mil estudantes do secundário] não chegam. São apenas um ponto de partida. É necessário criarem-se percursos individuais" que possam conduzir ao sucesso. Joaquim Azevedo não tem dúvidas de que este "é um caminho muito exigente", que só será possível com o envolvimento das instituições locais e uma maior autonomia, mas alerta que se não for feito o secundário transformar-se-á, também ele, num "contentor explosivo".
"Vão-se obrigar jovens, entre os 16 e os 18 anos, a estar contra a sua vontade numa escola que é completamente alheia aos seus interesses e motivações", lembra. E quando é feito assim o que se está a fazer também é "descartar a responsabilidade das instituições e colocar a pressão sobre o cidadão, obrigando-o a estar no contentor".
A socióloga Maria Madalena Matos considera imperiosa a "necessidade de ouvir as escolas". Vão entrar "novos públicos" no secundário, que consideram que "estar na escola não compensa o que teriam se não estivessem lá" e que vão sobretudo "sobrecarregar" os estabelecimentos que "já estão sobrecarregados", as grandes escolas dos meios urbanos. E acrescentar problemas pedagógicos, organizacionais e relacionais.
Jorge Ramos do Ó, historiador da Educação, considera que o aumento da escolaridade não responde ao que considera essencial: mudar o paradigma, substituindo um modelo que vem directo do século XIX, e que assenta na repetição e conhecimentos, por outro que aposte na criação e que seja mais deste século. Para motivar, a escola tem de estar organizada em torno de "um modelo credível para quem vive lá dentro".
Sem comentários:
Enviar um comentário