quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Método para crianças autistas com taxa de êxito de 40 por cento aplicado em Portugal


Duas em cada cinco crianças autistas podem ultrapassar, em parte, esse diagnóstico através de um método norte-americano de Análise Comportamental Aplicada, que será utilizado a partir do final do mês numa escola perto de Almada, em Sobreda da Caparica.

Partindo da sua experiência de pai à procura de respostas, Carlos França conheceu no Natal de 2007 a escola ABC Real, localizada em Sacramento, Califórnia, nos Estados Unidos, e quase sete meses depois vê um desejo concretizado: aplicar em Portugal o método ABA (Applied Behaviour Analysis).

"No início do diagnóstico do meu filho houve um período de desorientação e procura de informação para descobrir algo. Nos Estados Unidos disseram-me que a altura ideal para uma intervenção teria sido entre os dois anos e meio e os quatro", contou Carlos França. Mesmo ultrapassada a "época de ouro", já que o filho tinha nove anos e sabendo que não iria aproveitar os resultados do método a 100 por cento, este pai percebeu que poderia beneficiar outras crianças portuguesas e decidiu fundar uma escola para autistas e doentes com síndroma de Asperger.

A factura de mil euros mensais afastou alguns interessados mas, ainda assim, Carlos França reforça que este custo fica muito aquém do valor real: a escola norte-americana não cobrou pelos seus serviços fora da Califórnia e o Colégio Campo de Flores, onde funcionará a escola, cedeu gratuitamente uma sala.

No futuro os impulsionadores nacionais do ABA querem fazer crescer a experiência-piloto e angariar apoios, de maneira a conseguir também diminuir os encargos dos pais. A primeira escola de ABA na Europa Continental vai juntar dez famílias, oriundas de vários pontos do país, tendo uma delas trocado Coimbra pela Sobreda da Caparica. "Foi só com a boa vontade dos pais que foi possível trazer este método para Portugal, mas isso é também o mais importante, porque o Estado é lento a auxiliar", reforçou o presidente da escola 'mãe' ABC Real, Joseph E. Morrow.

O ABA passa por integrar habitualmente crianças durante dois anos, mas o tempo de intervenção depende da gravidade dos problemas que afectam cada uma delas. Comum é o trabalho intenso de 25 a 40 horas semanais de um técnico para cada criança, que pode levar a "resultados espectaculares" e fazer com que 40 por cento das crianças deixem de ter características autistas, segundo o norte-americano.

Todas as crianças autistas têm problemas de comunicação e metade não verbaliza. Por isso, o método ABA começa por ensinar os mais novos a pedirem aquilo que querem e necessitam, de forma a conseguir mais tarde integrá-los no ensino regular. Aos pais, Joseph E. Morrow aconselha a estarem atentos a défices na comunicação, a perceberem se os filhos apontam para o que querem e se os olham nos olhos, porque caso contrário poderão ter problemas de autismo.

"As crianças parecem ser surdas por não darem atenção", acrescentou o norte-americano, referindo ainda que os pediatras não devem desvalorizar alguns sinais e dizer apenas que os problemas serão ultrapassados. "Costuma lembrar-se que o Einstein começou a falar aos quatro anos. Mas nos Estados Unidos, tal como em Portugal, há o ditado: 'mais vale prevenir que remediar'", concluiu.

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