No ateliê da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), pessoas com deficiência trabalham o corpo. Enquanto desenham, fala-se de autorrepresentação, ganha-se amor-próprio e descobre-se que "cada um tem o seu traço, cada um tem o seu corpo".
Mário não fala, não ouve e não domina a linguagem gestual. Está sentado na sua cadeira de rodas, a terminar um desenho no ateliê, numa manhã soalheira de outono. Como não consegue esticar os braços, vai arrastando a cartolina para pintar no sítio onde quer, em riscos carregados, de lápis de cor, que agarra nos nós dos dedos.
Com auxílio de perguntas escritas num papel, Mário Carvalho diz ‘sim’ com a cabeça. Diz que gosta de pintar - que é a coisa que mais gosta -, para logo de seguida voltar ao desenho de traço expressivo e forte, por onde fica compenetrado.
"A condição motora dele dá-lhe um traço distinto", diz à agência Lusa a professora de expressão plástica da APCC, Suzete Azevedo, que já no dia anterior tinha atirado para outra turma, enquanto revia algumas das obras, um lamento, em jeito de brincadeira: "Andei tantos anos a estudar para isso e alguns de vocês já o têm [o traço distinto]".
O projeto chama-se "CRU - O Corpo (Im)Perfeito", começou em dezembro de 2018 e culmina com a apresentação pública dos trabalhos, com uma exposição que começa no Porto, no Artbeat, em 25 de novembro (onde fica um mês) e que depois segue em itinerância para Coimbra e Lisboa, onde, para além dos desenhos, haverá também legendas em jeito de pequenos poemas, a acompanhar algumas das obras, por parte de uma das alunas do grupo, Regina Graça.
Fonte: Sapo24 por indicação de Livresco
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