Segundo diferentes estudos, as mudanças socioeconómicas e tecnológicas, que já começaram a acontecer, irão ter um grande impacto no mercado de trabalho, onde algumas profissões correm o risco de desaparecer e novas profissões vão surgir. Neste momento, existe uma grande competitividade no mundo laboral, sendo as competências sociais um elemento diferenciador fulcral.
As competências identificadas como as mais importantes em qualquer profissional no futuro são: criatividade; inteligência emocional; pensamento crítico; capacidade de resolução de problemas, flexibilidade e adaptabilidade; capacidade de negociação; capacidade de tomada de decisão e julgamento; gestão de pessoas e trabalho em equipa. Partindo desta lista se conclui que os fatores imprescindíveis para a empregabilidade serão as competências sociais e humanas, ou seja, as capacidades impossíveis de ser reproduzidas por máquinas.
Neste contexto, vale a pena refletir sobre como estamos a preparar as nossas crianças para o futuro e de que forma podemos contribuir para a superação das exigências que as esperam.
Sabemos que a criança é influenciada por diversos fatores ao longo do seu desenvolvimento: desde os genes que herdou dos seus pais, ao ambiente físico, social e cultural em que cresce até às diferentes experiências que a vida lhe proporciona.
O ambiente em que a criança vive tem um papel muito importante, pois proporciona um meio rico e diversificado de experiências, para que a criança aprenda e se desenvolva de uma forma harmoniosa. Desenvolvendo, assim, as suas potencialidades/capacidades necessárias para os desafios do futuro.
A criança nasce com um conjunto de ferramentas e as experiências sensoriais, motoras, cognitivas e de interação proporcionadas às crianças desde o nascimento, em contexto familiar, escolar e na comunidade alargada, são fundamentais. Estes são os alicerces para a construção da sua identidade e do seu equilíbrio emocional, contribuindo para a sua afirmação pessoal e social.
É no brincar estimulante, partilhado com os outros e organizado que a criança se torna mais autoconfiante, criativa, com capacidade de resolução de problemas, motivada, alegre e sente prazer no que está a fazer.
Incentivar, através das relações com os outros e das brincadeiras diversificadas, o espírito explorador e curioso (o que fazer com isto? quantas coisas posso fazer com isto?), promove as competências necessárias para lidar com os desafios do dia-a-dia.
Até aos 10/12 anos, é essencial brincar para desenvolver a capacidade adaptativa. A criança que aprende a organizar a sua brincadeira, tem oportunidade de desenvolver as suas competências num contexto lúdico e terá maior probabilidade de se conseguir organizar e de responder com sucesso às situações reais com que se deparar na vida.
Será que é isso que estamos a fazer, ou estamos a dar tudo pronto, tudo feito, e a não deixar as crianças confrontarem-se com problemas para resolver, seja com o meio que as rodeia, seja com os outros?
Por seu lado, os pais já estão a lidar com um mundo laboral em mudança, que lhes ocupa grande parte tempo e é cada vez mais exigente. Quando o tempo é escasso, focam-se em fazer da forma mais eficiente, em vez de dar à criança espaço para fazer sozinha correndo o risco de errar, de atrasar a saída para o trabalho ou sujar a roupa acabada de lavar.
Há que desligar o botão da eficiência e dar mais tempo ao tempo. Tempo para estar e aproveitar a vivência em conjunto, momentos em família que proporcionarão à criança a segurança, confiança, autoestima e estabilidade emocional, competências que a tornam única e que nenhuma máquina ou equipamento replicará e executará.
Sandra Nobre
Terapeuta Ocupacional do CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Fonte: Público
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