quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Agentes ou executantes dos currículos?


Os currículos são elaborados, programados, e aplicados nas escolas. Ensinados pelos professores, absorvidos pelos alunos. Há, contudo, vários desafios neste processo. Os professores devem ser meros executantes dos planos curriculares ou agentes que se envolvem nesta caminhada? A questão é pertinente. Dias antes do início de mais um ano letivo, o II Colóquio Internacional sobre “Desafios curriculares e pedagógicos na formação de professores”, organizado por um grupo de docentes da Universidade do Minho, liderado pelas investigadoras Maria Assunção Flores, Maria Alfredo Moreira e Lia Oliveira, debruçou-se sobre a formação em contexto de trabalho. 

Um tema oportuno e, em simultâneo, complexo, tanto para formadores e responsáveis pela formação como para professores. Até porque as questões da colaboração e da supervisão nas escolas são temas-chave para melhorar a qualidade do trabalho dos professores e, por conseguinte, a qualidade das aprendizagens dos alunos e dos seus resultados. Várias questões sociais, culturais, económicas e políticas, relevantes para a educação e formação de professores, estiveram assim no centro do debate. É necessário analisar as repercussões das decisões curriculares e pedagógicas das instituições educativas e de formação de professores. Na plateia do colóquio, em Braga, estiveram cerca de 100 participantes de Portugal, Espanha, Brasil, Angola, Timor-Leste e Cabo Verde. 

Maria do Céu Roldão, da Universidade Católica Portuguesa, abriu o colóquio precisamente pelo lado da ação profissional dos professores. Segundo nota enviada à imprensa, a conferencista convidada destacou a centralidade do currículo e da didática no conhecimento profissional dos docentes e defendeu “a necessidade de olhar para os professores como agentes do currículo e não como meros executantes de um currículo inerte, destacando a necessidade de desenvolverem uma prática profissional refletida e analisada”. 

A investigadora defendeu ainda a necessidade de uma “mudança cultural no interior da classe docente e de uma visão do currículo enquanto elemento que estrutura e sustenta o saber profissional dos docentes”. Isto porque, como sublinhou, “a escola não pode ficar prisioneira de um currículo inerte, mas a necessidade de emagrecer o currículo requer a participação dos docentes, enquanto especialistas do ensino, através do seu conhecimento e agir profissional e do reforço da função curricular da escola”.

Um novo ano letivo está a começar e o desenvolvimento do plano nacional para o sucesso escolar não passará despercebido. Por isso, é importante, e consensual, a necessidade de formação e trabalho colaborativo nas escolas, envolvendo alunos, professores, famílias e comunidades, bem como a implementação de práticas de supervisão colaborativa. Além disso, e o debate focou essa parte, é “reconhecida a importância de lideranças fortes e a valorização social do trabalho dos professores e das escolas”. 

No debate surgiram várias questões. Que conhecimentos são mais valiosos para as escolas e para os alunos? Quem os determina? A quem interessa esses conhecimentos? Porque razão se continua a pressionar para a produção imediata de resultados? Por que não se dá tempo para refletir e pensar no ensino, nas aprendizagens, na formação e na avaliação? Será que estes processos estão enraizados em práticas transmissivas e elitistas? Será que a escola pública consegue cumprir o seu desígnio democrático, de inclusão de todos, e de promoção de aprendizagens assentes em conhecimento valioso? 

“Embora os desafios sejam muitos, as conclusões do colóquio evidenciam ainda as ‘boas práticas’ em curso, mostrando que é possível existirem escolas fortes, quando professores, alunos e famílias trabalham em colaboração, numa ética de respeito e valorização mútuas e quando os projetos de inovação dão respostas a problemas e necessidades locais, no estrito cumprimento da autonomia da ação profissional”, realça a nota de imprensa.

Fonte: Educare

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