O norte-americano Eric Hanushek veio a Portugal explicar como o crescimento económico depende da qualidade da educação. Os maus professores devem ser dispensados
Um dos seus estudos relaciona as competências da população com o crescimento da economia. Como é que os portugueses podem ter essas competências?
É preciso ter atenção permanente ao que os alunos estão a aprender. A escola, o governo e os pais têm de prestar atenção. No PISA, 23% dos alunos portugueses não conseguem atingir o nível mínimo. Só esse feito significaria um crescimento de 7% nos salários dos portugueses em 15 anos.
Nos últimos anos foram introduzidas mudanças no currículo que dão mais peso a disciplinas como matemática, português, ciências. É uma forma de garantir as competências básicas?
O que sabemos é que aprender as competências básicas é extraordinariamente importante. É isso que nos abre horizontes. Para olhar para a história, para as artes é preciso ter as capacidades básicas antes. Por isso, penso que, em especial nos níveis primários, temos mesmo de garantir que todos têm as bases. E depois oferecemos-lhes opções para irem em direções diferentes.
Como é que Portugal pode ter competências para chegar aos níveis de crescimento de 166% do PIB em 80 anos, se todos os alunos tivessem o nível mínimo, que falou na conferência da Gulbenkian?
O mais importante é a qualidade dos professores, mas relacionada com a capacidade de saber se estamos a fazer melhor ou pior, por isso temos de medir o desempenho dos alunos e ter a certeza de que todos os alunos estão no nível mínimo. Precisamos de ter um sistema que está sempre a melhorar, a avaliar se está a fazer o melhor que pode e se é preciso fazer algo diferente.
Em Portugal temos exames em todos os ciclos. Eles deviam servir mais para avaliar os alunos ou o trabalho dos professores?
Os exames servem muitas funções e queremos que o desempenho dos alunos seja relevante para eles, mas também queremos avaliar como as escolas e os professores estão a trabalhar. Alguns testes são feitos para dar feedback ao professor de como os alunos estão a aprender, esses são os testes que dou normalmente aos meus alunos, durante o ano. Depois temos outros que nos dizem o que os alunos sabem num determinado momento e o que os professores e as escolas estão a fazer bem. Temos estes diferentes objetivos e devemos ter um sistema de responsabilização que presta atenção se as escolas estão a contribuir para a educação ou não.
Como se pode avaliar os professores, além dos exames dos alunos?
Pelo menos nos extremos qualquer pessoa da escola, quer seja o diretor, os pais ou outros professores, consegue identificar quem são os professores verdadeiramente bons e os verdadeiramente maus. Não existe nenhum mistério para as pessoas da escola. A questão é: podemos ter um sistema que usa essa informação de forma eficaz? É uma pergunta mais aberta, porque os sindicatos de professores estão contra qualquer avaliação. Os diretores são capazes de identificar os melhores e os piores, e estes deviam ser despedidos.
Em Portugal, um professor do quadro, mesmo que seja mau, não pode ser despedido.
Exato e vocês têm uma questão particularmente difícil de concursos e francamente acho que é uma questão de decidir entre se querem aceitar a situação atual para o futuro ou se querem melhorar. E melhorar é difícil se envolver mudar as regras da função pública e proporcionar outros sistemas. Não conheço em detalhe as leis da função pública, mas se não os podem despedir, podem pensar em pegar nesses professores e continuar a pagar-lhes, mas não lhes dar turmas, dar-lhes outros empregos. É difícil, ainda para mais quando há uma longa história de manutenção do cargo e leis de função pública. Mas se não resolverem isso, pode significar que estão dispostos a aceitar um crescimento económico mais baixo e uma economia muito diferente no futuro. Portugal alcançou um grande progresso e para continuar penso que são necessárias mais medidas.
Medidas mais profundas?
Sim. Mas isso não afasta o facto de que o país no seu todo fez um excelente trabalho. Começaram atrás, mas agora estão a bater à porta para estar no grupo do topo. A questão é se vão continuar a fazer força para estar no topo com as vossas escolas e a vossa economia. Isso vai precisar de medidas difíceis.
Uma grande fatia dos professores do quadro tem mais de 50 anos. Pode ser uma oportunidade para mudar as coisas?
De alguma maneira isso é uma vantagem. Se puderem mudar as regras para os professores que aí vêm. Porque nos próximos anos vão ter uma série de novos professores a entrar no sistema e aí o que não vão querer fazer é manter as mesmas regras rígidas para os mais jovens. Agora é a altura para mudar, vão querer dizer ao novo grupo de professores que existem regras diferentes para aplicar no futuro.
Isso também pode ser positivo porque o professor defende que os mais jovens podem ser melhores profissionais?
São melhores no sentido em que se quisermos um grupo diferente de pessoas eles vão estar lá. Depois dos primeiros anos, os professores não ficam melhor, apenas se mantêm. É igual em termos de resultados dos alunos um professor com 15 ou 25 anos de experiência. Não há ganhos só pela experiência.
Os professores portugueses que acabam o curso têm de fazer um exame de conhecimentos básicos para poder dar aulas. Isso pode ajudar a escolher os melhores?
Pode ajudar, mas não vai ser o fator principal. O que encontramos nos EUA é que existe uma pequena vantagem em ter professores mais inteligentes nas escolas, mas não é assim tão bom. Ensinar é um trabalho realmente complicado. As pessoas que são as melhores em conhecimentos de português, não são necessariamente as melhores a ensinar isso aos seus estudantes.
Defende incentivos às escolas com bons resultados. Isso não pode criar ainda mais desigualdades uma vez que se reforça as escolas boas, mas não se dá condições às más para melhorar?
Este é um debate constante. Para um economista é natural recompensar o sucesso, porque isso encoraja as pessoas a fazer melhor. Dar incentivos a uma escola má pode ser visto como: se tiver péssimos resultados recebo incentivos, e se tiver bons, não. O problema é que é difícil distinguir se o baixo desempenho se deve aos alunos e ao seu contexto desfavorável, ou se é porque a escola é má. Entre outras coisas devemos ter um sistema que consegue distinguir se o baixo desempenho dos alunos é por causa deles ou por causa da escola.
Fonte: DN
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