No contexto da adolescência dos nossos dias, os amigos dos adolescentes desempenham um papel muito importante. Podemos até afirmar, sem margem para dúvidas, que um jovem de 15 anos (fase média da adolescência) isolado e fechado em casa deve constituir motivo de preocupação para pais e professores, mesmo quando tem um resultado académico satisfatório.
Nos dias de hoje, os adolescentes saudáveis estão sempre em ligação com os seus conhecidos e amigos, através de constantes mensagens no telemóvel e nas redes sociais, nas quais as imagens desempenham agora um papel fundamental. No fim de semana, a pressão exercida sobre os pais para obterem autorização de saída até tarde leva a frequentes conflitos de gerações que, em certas famílias, atingem dimensão preocupante.
Muitas vezes, começam aqui as críticas aos amigos dos filhos e a expressão “más companhias” ganha relevo. Os pais assinalam aspetos negativos dos outros jovens, como a aparência física, os resultados académicos e até o tipo de família a que pertencem, sem um completo conhecimento das circunstâncias em causa; e os filhos exageram na defesa dos amigos ou, o que é mais grave, começam a não falar no assunto e passam a relacionar-se às escondidas dos pais.
Em famílias mais problemáticas, os pais começam a espreitar os telemóveis, o Facebook ou o Instagram dos filhos, ficando com frequência chocados com as palavras e imagens que encontram. A perplexidade aumenta a curiosidade e os pais, verdadeiros detetives do século XXI, invadem a privacidade dos filhos a horas improváveis, com o consequente aumento de inquietação. Noutros casos, telefonam aos amigos dos filhos para obterem informações, sem o conhecimento destes, com o que criam aos outros jovens complexos problemas de lealdade. Mais tarde ou mais cedo, os mais novos descobrem tudo e a sua resposta depressa se faz sentir: zanga e maior dificuldade na comunicação, não raro a ruptura no diálogo familiar.
E, no entanto, os pais devem preocupar-se com as amizades dos filhos e estar atento a eventuais “más companhias”. Para procederem de forma adequada, o caminho só pode ser um: abrirem as portas de suas casas aos amigos dos seus jovens, estabelecer pequenas conversas com eles e criar um clima para que voltem. Há um mito frequente sobre a comunicação entre gerações: os jovens não gostam de falar com adultos. Embora sejam ciosos da sua privacidade, muitos adolescentes são capazes de falar com pais e avós dos seus amigos e até têm curiosidade sobre muitos temas, sobretudo quando não os conseguem discutir em suas casas. A abertura da casa pressupõe disponibilidade dos mais velhos, sem abdicar das suas regras e dos seus valores, porque não resulta a tentativa de serem “populares” junto dos amigos dos filhos.
Existem “más companhias”? Claro que sim e os pais devem estar atentos. Quando está em risco a saúde e a segurança dos filhos adolescentes os pais devem intervir! Informações seguras de que existem consumos de drogas, marcado abuso de álcool ou comportamentos repetidos de risco no campo da sexualidade deverão implicar um diálogo frontal e firme com os filhos, que resultará tanto mais quanto melhor estiver sedimentada uma boa relação anterior.
Se os pais falarem de forma aberta e empática sobre as suas preocupações em relação às “más companhias”, os filhos serão os primeiros a compreender que os receios dos progenitores têm toda a razão de ser.
Daniel Sampaio
Fonte: Público
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