Associações que vão às escolas fazer terapias aos alunos com deficiências garantem que estes não recebem os apoios de que necessitam. Criticam o tempo que cada técnico tem para cada um: meia hora.
As organizações que representam os técnicos que vão às escolas apoiar os alunos com deficiência recusam sentar-se à mesa com o Ministério da Educação (MEC) se não for para resolver o problema do tempo atribuído a estas terapias. Os centros de recursos para a inclusão (CRI) contestam a existência de apoios com a duração de 30 minutos e afirmam não ter condições para fazer um trabalho sério com estes 1.400 alunos.
«De que serve uma terapia da fala de 30 minutos? De uma semana para a outra o aluno perde o que ganhou na semana anterior», afirma (...) Rogério Cação, da Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade Social (Fenacerci). «Temos casos de alunos que precisam de dez apoios e que só têm cinco», acrescenta, garantindo ainda que há meninos que ficaram sem qualquer apoio especializado.
Técnicos defendem apoios com mais de 45 minutos
Todos os anos as escolas fazem uma previsão dos apoios especializados que cada aluno com necessidades educativas permanentes precisa para progredir nas aprendizagens. Essa lista é depois enviada para o MEC que faz a sua aprovação, alocando o número de horas que cada centro de recursos atribuirá a cada estudante. Cada CRI abrange um conjunto de escolas e desloca os técnicos até lá para fazer terapias com os alunos com deficiências graves, como paralisia cerebral, autismo, invisuais ou surdos.
«Depois de termos estado até maio a negociar com a tutela, tendo considerado inaceitável apoios com menos de 45 minutos, em setembro somos confrontados com isso», explica Rogério Cação.
O representante da Fenacerci diz que esta semana os CRI foram convocados pelo ministério para uma reunião da comissão de acompanhamento, mas recusam-se a participar. «Se não é para resolver o problema, mas para falar de como está a correr o ano letivo, achamos que nem vale a pena», afirma. Rogério Cação acrescenta ainda que, depois de terem anunciado a suspensão das relações com a tutela, em finais de setembro, os CRI reuniram com o Secretário de Estado mas dizem não ter recebido garantias de que algo vá mudar.
MEC garante mais apoio mas cada aluno tem menos tempo
Abílio da Cunha, presidente da direção da Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC), também está preocupado. E explica que, apesar de o MEC dizer que até aumentou o financiamento aos CRI e subiu o número de alunos apoiados, na prática foi reduzido o tempo atribuído a cada um.
Os números do CRI da sua instituição – que apoia 20 agrupamentos de escolas do norte do país – mostram isso mesmo. Este ano há mais 102 alunos para acompanhar (num total de 537) e mais 133 apoios atribuídos. Mas ao mesmo tempo houve uma redução de 18,4% no total de horas disponibilizadas e uma diminuição de 6,7% no financiamento (17 mil euros).
O presidente da APPC lembra: «Estes alunos passam a maioria do tempo na escola._Se não tiverem um acompanhamento adequado isso compromete seriamente o seu futuro».
Os estudantes com incapacidades permanentes inserem-se no universo dos 76 mil que estão no ensino especial. E o seu acompanhamento nas escolas também está a ser afetado pelo corte no número de professores, denuncia David Rodrigues, presidente da Pró-Inclusão/Associação Nacional de Professores de Educação Especial. «É feito o levantamento das necessidades das escolas mas depois não há resposta dos serviços», avisa David Rodrigues, acrescentando que há escolas com menos seis docentes do que no ano letivo anterior.
Fonte: Sol
Sem comentários:
Enviar um comentário