segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Avaliação foi a gota de água do mal-estar nas escolas

O modelo de avaliação de desempenho foi apenas a gota de água que fez transbordar o copo do descontentamento que vem apoderando-se dos professores, à medida que as reformas do Ministério da Educação têm chegado às escolas. Nos últimos dois anos, o Governo encetou uma reforma profunda do sistema, sobrecarregando os docentes com inúmeras tarefas, muitas das quais vão para além da sua missão principal: ensinar.
Divisão da carreira
Com o novo estatuto da carreira docente, que entrou em vigor em Janeiro de 2007, o topo da carreira deixou de ser algo atingível por todos os profissionais e a classe foi dividida em dois tipos: professores e titulares. O Ministério abriu um concurso para que parte dos professores ascendessem a titulares. O concurso foi injusto, dizem os docentes, e fez com que algumas pessoas com menos experiência ganhassem mais pontos e progredissem em detrimento de outras. Exemplos: um professor que tenha tido um cargo executivo nos últimos sete anos (como presidente do Conselho Executivo) possui uma quantidade de pontos que um docente que tenha desempenhado a mesma função, mas há mais tempo, não possui. Ou seja, o segundo desempenhou as mesmas funções, tem até mais anos de serviço, mas não subiu a titular.
Estatuto do Aluno
Trouxe muito mais trabalho para os professores, especialmente para os directores de turma. Cada vez que um aluno excede o número de faltas a uma disciplina, o professor é obrigado a fazer uma prova de recuperação. Há alunos que faltam muito, por desinteresse, os professores fazem a prova mas muitas vezes estes nem aparecem para a realizar. Há ainda casos de alunos que faltam durante um período grande devido a um problema de saúde e depois são obrigados a fazer testes para recuperar matérias que nem chegaram a aprender.
Ensino especial
Ao integrar os alunos do ensino especial nas escolas públicas, o Ministério não transferiu muitos dos técnicos especializados para o seu acompanhamento, além de não ter reforçado o pessoal não docente. Ou seja, alunos com deficiências graves que, por exemplo, não se deslocam, não comem nem vão à casa de banho sozinhos, foram integrados nas turmas e os professores têm de ajudá-los nestas competências mais básicas. Além de que, fazê-los adquirir conhecimentos e competências ao mesmo ritmo do que os outros é uma tarefa quase impossível, lamentam os professores.
Nova gestão escolar
O novo modelo de gestão das escolas obrigou à definição dos regulamentos internos e à redefinição dos Projectos Educativos das escolas. Documentos estruturais que demoram a traçar exigem a realização de muitas reuniões e discussões. A nomeação dos novos directores escolares, que podem ser professores alheios à escola, tem de estar concluída até 31 de Maio, data em que estes terão de avaliar professores cujo desempenho demonstrado ao longo do ano desconhecem.
Avaliação
Só na fase de definição de objectivos os professores têm de prever o sucesso dos alunos e a redução do abandono escolar, parâmetros segundo os quais serão depois avaliados. Cada professor tem de olhar para as suas turmas, fazer o diagnóstico dos seus conhecimentos (através de um teste de diagnóstico, por exemplo, uma vez que não conhecem ainda os alunos) e estimar quantos vão passar e reprovar. O sucesso a atingir tem de estar de acordo com o projecto educativo da escola, que pode ser, por exemplo, melhorar o sucesso de 20% dos alunos. O professor tem ainda de traçar um plano para que os seus alunos alcancem estas metas. A redução do abandono escolar é ainda mais difícil de travar, principalmente em turmas com dificuldades. Depois, o professor tem de reunir com o avaliador e, numa entrevista, discutir os objectivos propostos. Os avaliadores têm de assistir às aulas dos avaliados. Se um avaliador tiver dez avaliados tem de assistir a dez aulas e reunir-se antes e depois com cada docente em avaliação. Se o seu horário não for compatível, o avaliador terá de faltar a uma aula sua e preparar uma aula de substituição, prejudicando assim os seus alunos.'
Magalhães'
Até o computador veio dar mais trabalho aos professores do primeiro ciclo que têm de tratar, com os pais, os papéis para a sua aquisição.

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