“Olá, sou a Francisca e tenho 11 anos. Aos sete anos fui diagnosticada com dislexia. Fiquei um bocadinho triste porque os meus amigos aprenderam a ler e escrever muito mais rápido do que eu”, é assim que começa o vídeo onde Francisca convida outras crianças a aprenderem sobre o que é a dislexia. O projecto para levar a informação às escolas sobre esta perturbação cognitiva arranca este sábado, 1 de Outubro, e vai premiar as três turmas mais criativas do país.
Quando a filha foi diagnosticada com dislexia, a economista Patrícia Teixeira de Abreu, à semelhança de tantos outros pais, não conhecia esta perturbação específica da aprendizagem. “A Francisca era uma criança muito feliz e começou a ficar triste, a dizer que não gostava da escola. Tinha dificuldade em ler. Longe de saber o que podia ser, foi à pediatra e foi enviada à terapeuta da fala”, começa por recordar (...).
Com o diagnóstico de dislexia, chegou uma mudança drástica na rotina familiar: Francisca teria de ser acompanhada pela mãe no dia-a-dia e com terapia semanal para conseguir aprender e acompanhar os colegas na escola. Mas afinal o que é dislexia? “A dislexia é uma perturbação específica da aprendizagem, de base linguística e que se manifesta ao longo da vida. Tem na sua origem um défice fonológico que se reflecte em dificuldades de descodificação, fluência leitora e escrita”, explicava a terapeuta da fala Sílvia Lapa, num artigo de opinião.
Sem uma rede de apoio suficientemente forte na escola, Patrícia Teixeira de Abreu teve de empreender um processo de aprendizagem por conta própria, de forma a encontrar a melhor forma de se ligar à filha e a auxiliar: “Comecei a ensiná-la de forma diferente. Aprendeu a tabuada a jogar ao balão e os verbos a jogar à macaca, por exemplo.”
Pouco depois, a pandemia, que atirou as crianças e os pais para casa, longe dos professores e da rotina de aprendizagem, foi mais um desafio para ambas. “Foi muito duro assistir às aulas por Zoom, perceber como é a interacção da turma e ver a criança a falhar”, lamenta a economista. Conseguir estar ao nível dos colegas, assegura, “é uma dedicação grande”, a nível de “capacidade de trabalho, paciência e criatividade”. E explica: “A minha filha trabalha todos os dias do ano. Temos direito a 15 dias de férias por ano.”
Fruto da experiência com a filha Francisca, Patrícia decidiu criar, em 2020, um blogue — publicado entretanto no livro Dislexia Dia a Dia — onde partilha a jornada de ambas. No ano passado, o projecto chegou às escolas para informar alunos e professores. Com bandas desenhadas, explicaram o que é a dislexia e desmistificaram mitos. “Se já é difícil porque alguns professores não sabem o que é, com as crianças há uma resistência muito maior. Continua a achar-se que o disléxico é preguiçoso”, lamenta.
Além da banda desenhada que distribuíram por 100 escolas, Patrícia Teixeira Abreu com a ajuda de especialistas em educação preparou um manual para professores que os ajuda a falar da dislexia aos alunos. “Nas escolas ainda há um estigma gigante. Queria sentir que fazia alguma diferença e ajudar algumas crianças que ainda não tinham sido identificadas”, justifica.
Este ano, além de um vídeo de sensibilização e do manual que vão disponibilizar a todos os docentes que se inscreverem, o projecto, patrocinado por empresas como a Fidelidade ou a Auchan, inclui um concurso que vai premiar as três turmas mais criativas, autoras de um trabalho sobre “o que é ser disléxico, os superpoderes que a dislexia traz e diferentes formas de aprender”. Deste sábado até ao final do mês, a propósito do Dia Mundial da Dislexia, celebrado a 10 de Outubro, podem inscrever-se todas as turmas entre o 1.º e o 6.º ano.
Os alunos das turmas vencedoras recebem o livro Dislexia Dia a Dia e um brinquedo. Já a escola terá como prémio receber uma oficina sobre dislexia leccionada pelo PIN, o centro do neuropediatra Nuno Lobo Antunes. O objectivo, termina Patrícia Teixeira Abreu, é promover a inclusão. Afinal, “é preciso acolher essa diferença”. E conclui: “É tal como ter o cabelo castanho.”
Fonte: Público, com vídeo.
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