Há cada vez mais alunos a terminar o ensino secundário no tempo esperado: em 2020/21, 76% dos estudantes dos cursos científico-humanísticos (que constituem a principal oferta do ensino secundário) concluíram o 12.º ano sem nunca terem chumbado. O que representa uma melhoria clara deste indicador (sete pontos percentuais) face aos dados do ano anterior.
O Ministério da Educação divulgou nesta sexta-feira à tarde dois relatórios sobre a chamada “conclusão em tempo esperado”. Em comunicado, destaca o “aumento progressivo dos alunos que concluíram os cursos científico-humanísticos nos três anos esperados, com especial destaque para 2020/21”. Nesse ano, diz, atingiu-se “o valor mais elevado desde sempre, 76%, representando um aumento superior a 20 pontos percentuais em relação a 2014/15 (ano de início da série de cálculo do indicador)”. Uma das explicações para a melhoria é atribuída à “diversificação das ofertas de educação e formação no ensino secundário”.
O que aconteceu aos 24% restantes, que não conseguiram acabar em três anos? O relatório divulgado no site da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência mostra que 14% dos alunos que se tinham matriculado em 2018 no secundário estavam em 2021 inscritos no mesmo tipo de curso, mas sem o terem conseguido concluir; 8% tinham mudado de curso e 2% não estavam matriculados em nenhuma formação (desistiram antes de terminar).
O relatório mostra ainda, e uma vez mais, que um passado de “chumbos” no ensino básico aumenta a probabilidade de voltar a ficar retido mais tarde. Dados: entre os que se inscreveram no 10.º ano na “idade normal” (com 15 anos ou menos), a taxa de “conclusão no tempo esperado” no secundário foi de 80%; entre os alunos que ingressaram no 10.º ano com 16 anos, a taxa de “sucesso” já só foi de 54%. Se olharmos para os alunos que só alcançaram o 10.º aos 17 anos, a percentagem caiu para os 35%.
Os mais pobres com piores resultados
Outro facto a reter: a diferença entre alunos com apoios de acção social escolar (mais pobres) e sem apoios. Entre os alunos do escalão A, os que pertencem a famílias com mais baixos rendimentos, a taxa de “conclusão no tempo esperado” foi de 63%. Entre os alunos sem qualquer apoio do Estado, foi de 77%.
O ministério faz questão de sublinhar, contudo, no comunicado enviado às redacções, que “existiu melhoria significativa em todos os alunos, sendo de destacar que os alunos do escalão A dos cursos científico-humanísticos foram os que tiveram maior aumento em relação ao ano anterior (nove pontos percentuais) e nos cursos profissionais foram os alunos do escalão B que registaram a percentagem mais elevada de conclusão (72%), o que sublinha a importância da consolidação das políticas de equidade que têm vindo a ser desenvolvidas no âmbito da educação”.
O relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência detalha ainda que, dentro dos cursos científico-humanísticos, os alunos dos cursos de Ciências e Tecnologias são os que têm mais sucesso (79% concluem no tempo esperado) e os de Artes Visuais são os que estão pior (66%). Por região, é o Norte que regista uma taxa de sucesso mais alta (81%) e a Área Metropolitana de Lisboa é a que está pior (69%). No ensino privado, a taxa de conclusão “no tempo esperado” foi de 89% e no público de 74%.
Também no ensino profissional há melhorias. “Em 2020/21, 70% dos alunos concluíram estes cursos no tempo esperado, correspondendo também ao valor mais elevado desde sempre e a um aumento de 17 pontos percentuais em relação a 2014/15”, sublinha o ministério. Que destaca mais esta conclusão: “Os alunos com melhores resultados no ensino secundário frequentaram, no ensino básico, o ensino básico geral ou os cursos artísticos especializados, reforçando o que anteriores estudos revelaram no que respeita ao impacto positivo de, rejeitando-se mecanismos de dualização precoce, adopção de soluções assentes em gestão autónoma e flexível do currículo, visando a inclusão e o sucesso escolar de todos os alunos.”
Os dados sobre conclusão “no tempo esperado" de 2020/21 analisam o percurso dos alunos que se matricularam em 2018/19, em Portugal Continental. Ou seja, os alunos que no ensino secundário viveram o impacto da covid-19. Recorde-se que, em 2020, e como medida excepcional por causa da pandemia, os exames nacionais do secundário passaram a contar apenas como prova de ingresso ao ensino superior, não tendo peso na avaliação final das diferentes disciplinas do secundário, o que terá contribuído para, nesse ano lectivo (2019/20), se registar uma diminuição significativa das retenções, como foi assinalado na altura. No ano seguinte, contudo, a retenção voltou a subir.
Fonte: Público
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