É verdade, estamos todos confinados novamente. Pais e filhos. Sim, não é provável, que dure apenas 15 dias. Também já percebemos isso. Mas não entre já em desespero. Razão: este segundo confinamento poderá ser mais fácil do que o primeiro, acreditam os especialistas. "Tem duas caraterísticas diferentes: primeira, a experiência, não torna mais fácil mas é mais previsível, já sabemos o que vai ser e isso é um fator de proteção", diz (...) José Morgado, professor do departamento de psicologia da educação do ISPA.
Segunda: tem uma perspetiva de duração, o que não existia em março. "Tenho convicção de que não serão apenas 15 dias, mas o facto de sabermos que vai acabar torna-o menos pesado psicologicamente", admite o especialista. Mais um aspeto positivo: o facto de não haver ensino à distância, pelo menos nestas duas primeiras semanas. "Em março, os pais tiveram de assumir o papel de professores, para o qual não estavam preparados, agora não terão de o fazer", diz.
Assumindo as diferenças em relação a março, importa também "aprender com os erros do passado", alerta Bárbara Ramos Dias. "Percebermos o que desgastou a relação entre pais e filhos", diz a psicóloga de adolescentes. Magda Gomes Dias corrobora: "O primeiro confinamento deixou muitas família um trapo. Eu tive um aumento exponencial de consultas", revela a coach parental, autora do blogue Mum’s the boss.
A (...) preparou algumas dicas de sobrevivência para este novo lockdown com os filhos em casa. Não são só sugestões para entreter as crianças, mas sobretudo conselhos para os pais – para que ultrapassem este período sem enlouquecer. Há um que pode já reter: use a tecnologia a seu favor. "Não vale a pena criar mais sentimentos de culpa, os pais estão em trabalho remoto, não há hipótese. O importante é que defina um horário e uma duração", diz Magda Gomes Dias.
Organize-se e mantenha rotinas
É normal que em casa os tempos sejam diferentes dos da escola, mas é importante que se mantenha alguma consistência. "As rotinas são imprescindíveis", diz José Morgado. Os miúdos podem acordar um pouco mais tarde, mas têm de ter regras e tempos definidos para cada atividade. Bárbara Ramos Dias aconselha a que se faça esta organização através de um cronograma, que contemple as regras da família na quarentena, como a hora a que se acorda, em que trabalha, em que se estuda, etc. "No cronograma deve ter o chamado tempo para si próprio, o tempo para o trabalho ou para o estudo – é importante, mesmo em férias, os miúdos tirarem 1h para estudar –, o tempo para as redes sociais, o tempo em família, o tempo para os amigos, a criatividade e o exercício físico", enumera.
Não se esqueça de si
"Cuidamos muito melhor dos nossos filhos quando estamos a sentir algum equilíbrio e paz interior. Todos nós precisamos de uma pausa de vez em quando", diz à SÁBADO Clementina Almeida, psicóloga clínica, especialista em bebés. A ideia é que mesmo os pais possam ter um momento para si próprios, diariamente. "Hoje acordei com uma neura, então pus-me a fazer umas calças de ganga à boca de sino para o meu filho Vasco. Sei que quando estiverem acabadas me vai dar prazer. Chamo a isto costura criativa. É essencial para retirarmos o foco do que nos chateia e também para relaxarmos", conta Bárbara Ramos Dias. Não precisa de ser nada elaborado, "o importante é encontrarmos os nossos escapes. Pode ser apenas ler um livro enquanto bebe um chá", dá como exemplo a coaching parental.
Uma hora para estar ao colo dos pais
Um truque para chegar ao fim do dia sem gritar ou castigar os seus filhos é incentivá-los a portarem-se bem. "Substituir a crítica pelo elogio e não brigar mas sim incentivar. Ontem, estive o dia todo em consultas com o meu filho mais novo em casa. Disse-lhe que se se portasse bem, à tarde fazia uns jogos de tabuleiro com ele e foi o que aconteceu", conta Bárbara Ramos Dias. O tempo em família é importante, mesmo quando já são adolescentes, diz a psicóloga.
Não espere entretenimento de longa duração
Independentemente da faixa etária, uma estratégia é escolher com eles atividades de que gostem e que possam fazer de forma autónoma. "Ajuda os pais a não serem constantemente interrompidos e os filhos a entreterem-se", diz o professor do departamento de psicologia da educação do ISPA, José Morgado. Contudo, não espere que essa atividade dure uma manhã inteira, ressalva o especialista. Também é importante que os seus filhos não sintam que só os quer "despachar". "Ao meu neto de 7 anos se calhar posso dar-lhe um livro para ler, porque ele desenvolveu agora o gosto pela leitura, e depois conversamos sobre o livro. O mesmo com os mais velhos, incentivá-los a falar com os amigos e a falar connosco sobre isso depois", exemplifica.
Uma parede de escalada em casa
Não se assuste, pode parecer uma ideia fora da caixa mas é exequível até em casas mais pequenas. Basta ter uma parede livre. Não precisa de tanto espaço como um trampolim, que também é bom para relaxar e libertar energia, e tem vários benefícios, salienta Clementina Almeida. "Alguns estudos têm demonstrado que escalar numa idade jovem ajuda a aprimorar a consciência espacial e direcional e também aumenta as habilidades físicas, como o equilíbrio, coordenação de mãos e pés e até a agilidade", escreveu a especialista em bebés na sua página de Instagram. Já durante este segundo confinamento, a psicóloga construiu uma parede de escalada dentro da sua casa para a filha, de 8 anos. "É exequível a partir dos 2 anos, com supervisão", diz à SÁBADO.
https://www.instagram.com/forbabiesbrain.byclementina/?hl=pt
Jantares virtuais, porque não?
Usar a tecnologia a nosso favor também deve incluir o manter o contato com os amigos. "É um fator de proteção, trocar experiências acaba por minimizar o mal-estar", diz José Morgado. Sobretudo para os mais velhos, uma coisa que pode ser divertida é fazer um jantar (ou almoço) virtual uma vez por semana. "É uma ideia que podemos sugerir e que eles podem acolher com agrado", diz a especialista parental Magda Gomes Dias. E não é só para os filhos, também serve para os pais. "Eu rio-me tanto aqui a conversar com as minhas amigas. Ajuda a descomprimir", diz Bárbara Ramos Dias.
Fonte: Sábado por indicação de Livresco
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