É o primeiro braço mundial do Centro Internacional de Reabilitação Neurológica (CIREN) e vai instalar-se em Portugal. Um protocolo de transferência tecnológica entre o centro cubano e a Fundação Padre António Vieira vai trazer para o país as técnicas ali aplicadas. A iniciativa tem como epicentro o Instituto Superior de Saúde do Alto Ave (ISAVE), que a partir de Julho de 2011 começará a receber os primeiros doentes em ambulatório, nas instalações na Póvoa de Lanhoso, e num novo hospital-escola de 30 milhões de euros a inaugurar em Valongo.
Em causa estão tratamentos para doentes com paralisia, deformações congénitas como síndrome de Down ou doenças neurodegenerativas como Parkinson. Pedro Paraíso, administrador do ISAVE, explicou que a grande diferença da metodologia aplicada em Cuba é a intensidade e a multidisciplinaridade do acompanhamento: o plano de tratamento é personalizado e envolve uma equipa de nove técnicos - um neurologista e um fisiatra, entre terapeutas da fala, terapia ocupacional ou cultura desportiva - em ciclos de 28 dias. A importação das técnicas, diz, vai demorar os próximos cinco anos, sendo o objectivo formar de raiz especialistas portugueses para acompanharem em casa os 300 doentes que recorrem a Havana, mas também doentes de outros países europeus.
Dia 15 de Novembro partem para Cuba dez técnicos do ISAVE para um mês de formação. Em Janeiro arranca a formação em Portugal, explicou o responsável. A ideia é virem para o país cinco técnicos cubanos para períodos de formação de três a seis meses, até 2016. Em Havana, cada quatro semanas de tratamento têm um custo base de 20 mil euros. Pedro Paraíso não adiantou os preços que serão praticados em Portugal.
Os familiares de doentes ouvidos falam de discriminação na comunidade médica em relação à abordagem cubana e garantem que os resultados são visíveis. Pedro Paraíso, que regressou esta semana de Cuba, dá um exemplo: conheceu uma doente portuguesa paralisada num acidente de automóvel há quatro anos e que num programa de tratamento de três meses voltou a falar e a andar.
Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, é peremptório: "É preciso a maior prudência em relação a estas iniciativas", diz, acrescentando que alguns tratamentos podem ser embustes. Rui Costa, especialista em neurociências da Fundação Champalimaud, é menos pessimista. "É óbvio que é preciso haver mais investigação na área, mas muitas técnicas de fisioterapia começam a ser aplicadas antes de se conhecerem os seus efeitos exactos." Sobre a técnica cubana, o especialista confirma que em alguns doentes os resultados superaram o acompanhamento tradicional, mas a grande dificuldade é garantir que funcione para todos. "É sempre bom testar novas metodologias, desde que se respeite o potencial de risco."
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