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Todos os alunos com insucesso escolar deveriam ler 'Calvin e Hobbes' para sentirem que não estão sós no mundo. Ler os pensamentos e os sentimentos do Calvin seria uma excelente forma de alguns alunos verem os seus próprios pensamentos e sentimentos reflectidos no espelho. Este exercício poderia ajudá-los a relativizar um pouco a dificuldade em obter o tão desejado sucesso escolar! Deixemos as consequências para o fim e comecemos pelas causas... As causas do insucesso escolar podem ser variadíssimas: problemas sensoriais, físicos, intelectuais, emocionais e processológicos são alguns dos responsáveis pelo insucesso escolar. Os problemas processológicos, mais vulgarmente designados por dificuldades de aprendizagem, são os que mais contribuem para o insucesso académico. Os alunos com dificuldades de aprendizagem apresentam problemas de recepção, organização e expressão de informação. Estes, embora apresentem uma capacidade intelectual média ou acima da média, apresentam uma realização escolar que é abaixo da média numa ou mais áreas académicas, embora não em todas. A discrepância entre a realização escolar e a capacidade intelectual é notória em uma ou mais das seguintes áreas: expressão oral, compreensão auditiva, expressão escrita, capacidade básica de leitura, compreensão da leitura, cálculos matemáticos e raciocínio matemático (Fedul Registar, 1977). Miranda Correia (1997) faz ainda referência a outro grupo de alunos considerados 'em risco educacional'. Estes alunos também poderão experimentar insucesso escolar na medida em que estão expostos a ambientes socioeconómicos e socio- emocionais muito desfavoráveis. Como poderão ter um percurso escolar 'normal' alunos (são tantos!) que vivem em condições habitacionais degradadíssimas e no seio de famílias completamente desestruturadas? As consequências do insucesso poderão manifestar-se de formas diferentes, mas têm sempre na base uma forte desmotivação, uma baixa auto-estima e um baixo autoconceito académico. Numa reunião com professoras do 1.º ciclo, em que foi abordado o insucesso escolar, afirmei que a escola 'assassina' muitos alunos. Face ao olhar espantado das professoras presentes, acrescentei que é 'assassina' na medida em que, dá a muitas crianças a certeza de que não são capazes de fazer nada certo... a escola 'assassina' a auto-estima de muitos alunos... Quando o aluno sente que apesar do seu esforço não consegue obter sucesso, vai procurar proteger a sua auto-estima desistindo da tarefa académica. Muitos destes alunos deixam de ir às aulas: as aulas tornam-se o espelho da sua incapacidade... A imagem que tem de si como estudantes é muito negativa (auto-conceito académico), por isso, procuram investir em actividades em que o sucesso seja realmente possível, por exemplo em actividades desportivas. O número de alunos que abandonam a escola antes de concluir a escolaridade obrigatória e aqueles que apesar de estarem na escola não vão às aulas é assustador! Uma das razões que justificam fortemente este facto é sem dúvida a sua incapacidade em obter sucesso escolar. Associado ao vazio de nada ter para fazer vem tudo o resto: o primeiro contacto com a droga, a prostituição, a gravidez indesejada... Não menos preocupante é a situação dos alunos que apesar do insucesso persistem na tarefa de aprender, vivendo dia a dia o sofrimento de receber negativa atrás de negativa... Muitos destes deprimem, outros permanecem em silêncio, sofrendo a angústia de não ser capaz... As consequências são dramáticas... por esta razão, a escola tem urgentemente que se reorganizar para dar a cada aluno a possibilidade de desenvolver as suas áreas fortes. Só desta forma a escola poderá ser verdadeiramente inclusiva. Adriana Campos |
Espaço de debate, informação, divulgação de atividades, partilha de documentos e troca de experiências relacionados com a inclusão, a educação inclusiva e as medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Insucesso escolar
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4 comentários:
Feito o diagnóstico, venha a receita. Ou não há receitas?
Pois... parece-me que as receitas terão de ser equacionadas pelos professores após um processo de diagnóstico o mais real possível. Na minha perspectiva, o mais grave não é o facto de haver receitas, mas antes não haver instrumentos adequados de diagnóstico! Depois disso, torna-se mais fácil definir estratégias!
O problema maior reside nas competências básicas: Quem não faz uma leitura compreensiva minimamente capaz, fica a ver navios. E os que ficam retidos, raramente t~em boas capacidades leitoras.
Concordo! Mas que fazer perante alunos que apresentam dificuldades de leitura?!
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