Trabalhar por projeto, de forma colaborativa, interdisciplinar e integrada é para mim a essência da escola do século XXI, tendo em conta que o mercado de trabalho exige, cada vez mais, profissionais competentes e empenhados que saibam trabalhar em equipa, com vista à resolução de problemas, e com capacidade de adaptação à mudança – que será cada vez mais célere com a inteligência artificial a entrar pela porta principal da nossa vida.
Mais do que saberem replicar os conteúdos de um manual ou de um conjunto de materiais disponibilizados pelo professor, sem se apropriarem verdadeiramente do conhecimento, procuro que os meus alunos aprendam a pensar, aprendam a relacionar, aprendam a colaborar, aprendam a aplicar o conhecimento que adquirem em sala de aula para além das quatro paredes onde estão inseridos.
Se parar para pensar no que tem sido o meu percurso enquanto eterna aprendente, a forma como «aprendi a dar aulas» não é de todo passível de ser aplicada numa sala de aula do século XXI. Os recursos que tinha ao meu dispor, há 18 anos quando entrei pela primeira vez numa sala de aula, não são os mesmos e, acima de tudo, os alunos não são os mesmos, não têm acesso à mesma informação nem aos mesmos recursos.
Enquanto professora de Português e de Inglês, para mim faz todo o sentido realizar projetos interdisciplinares com os meus colegas e alunos.
Já há 5 anos a minha visão era esta, quando propus uma abordagem interdisciplinar da magnífica obra de Sophia de Mello Breyner O Cavaleiro da Dinamarca – transmitir aos meus alunos que é possível aprender História, Geografia, Ciências, artes, Matemática, Português, Inglês ou Francês quando estudamos de forma aprofundada e integrada uma obra literária.
Em termos organizacionais, numa primeira fase procedeu-se à planificação do projeto num documento partilhado entre os professores do conselho de turma, em que cada um inseriu os temas a serem trabalhadas nas suas áreas disciplinares.
Na disciplina de Português, os alunos exploraram as categorias da narrativa (tempo, espaço, narrador, personagens, etc.), realizaram a biografia da autora e a bibliografia do trabalho, bem como um resumo da obra, recorrendo a diversas ferramentas. Para tal, foi disponibilizado aos alunos um padlet com diversas ferramentas que poderiam ser utilizadas Ferramentas úteis.
Nas disciplinas de Francês e Inglês, os alunos criaram uma apresentação com os países, nacionalidades, capitais e bandeiras europeias. Em Físico-Química, procederam à exploração das referências às estações do ano que o Cavaleiro enfrentou durante a sua viagem, bem como à explicação da posição do Planeta em relação ao Sol em cada uma das estações.
Na área das artes (Educação Visual), cada aluno fez uma ilustração do Cavaleiro que partilhou num padlet Cavaleiro da Dinamarca.
Em Geografia, descreveram as paisagens pelas quais o Cavaleiro vai passando, a vegetação, as formas de relevo, as construções humanas, entre outros elementos. Caracterizaram ainda os estados de tempo e os climas.
Nas Ciências Naturais, exploraram a sismicidade e o vulcanismo nessas mesmas regiões.
Em Matemática, calcularam, utilizando escalas, a distância percorrida pelo Cavaleiro e a média de quilómetros percorridos por dia.
Na disciplina de Educação Moral e Religião Católica, exploraram os passos que o Cavaleiro deu em Belém e as tradições natalícias dos países que aquele atravessa.
Em sala de aula, procedeu-se à constituição dos grupos de trabalho de forma aleatória recorrendo-se à aplicação Random Team Generator e todas as informações foram disponibilizadas na plataforma institucional utilizada pela escola.
Um outro aspeto que considero essencial é a reflexão sobre o percurso que é realizado de forma individual e colaborativa. Daí que, no final de cada aula, todos os alunos fizessem a autoavaliação do trabalho realizado com recurso a um wiki (um espaço colaborativo editável por todos os elementos da turma).
O resultado de cerca de 1 mês de trabalho colaborativo interdisciplinar foi absolutamente fantástico. Alunos que tinham acabado de chegar ao 3º ciclo produziram materiais excelentes, que colocaram, eles próprios, num Google Maps, a partir do qual as apresentações foram realizadas. Um exemplo do que falo pode ser visto aqui.
A gestão da apresentação dos trabalhos foi também realizada de forma aleatória recorrendo-se ao Wheeldecide.
No final das apresentações, os alunos realizaram ainda um teste de verificação de leitura disponível aqui, bem como a avaliação do trabalho realizado.
Na disciplina de Português, para além dos trabalhos produzidos que constituíram instrumentos de avaliação (resumos, vídeos, biografia, bibliografia), os alunos foram avaliados na componente da oralidade tendo em conta as rubricas definidas, fizeram um teste de verificação de leitura e um teste sumativo abarcando as várias componentes (compreensão do oral, leitura e educação literária, gramática e expressão escrita).
Em termos globais, para além da excessiva rapidez com que as aulas passaram para todos, verifiquei que os alunos retiraram aprendizagens do trabalho realizado, não só em termos de conteúdos programáticos mas também em termos das soft skills tão necessárias no século XXI.
Ana Paula Loureiro
Fonte: Aula Digital da Leya
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