Um deles tem 6 anos, o outro 17 e o Vasco já é maior de idade. São todos diferentes. Mas têm duas coisas em comum: Uma Perturbação do Espectro do Autismo e estão em quarentena.
Este abraço entre avô e neto, outrora dado com muita frequência, é agora mais raro. Vasco Franco é autista. Uma pandemia – uma coisa estranha para o jovem - veio impedi-lo de ir à escola, à canoagem no rio Lima e à natação, mas tem a sorte de viver no campo com a família. Mesmo em quarentena, sem aulas com professores e colegas na mesma sala e sem hora do recreio, pode respirar o ar puro de uma aldeia do Alto Minho. Nos tempos livres, ajudar o avô na quinta é um dos passatempos preferidos.
Entre revisões de módulos e os trabalhos enviados pelos professores, ocupa o resto dia a andar de bicicleta, a passear na mata ao lado de casa, vai dormindo a sesta e fala com os amigos pela internet. “Estou triste por não ir à escola. Tenho saudades dos meus amigos”, desabafou (...). Até fez uma lista. Eram mais de 20: “São muitos e são bons para mim. Os professores eram bons para mim. As pessoas do norte são boas”.
É feliz na escola há 2 anos. Está no primeiro ano de um curso profissional. Longe dos estabelecimentos de ensino onde sofreu de bullying. Cristina Franco, a mãe de Vasco, contou (...) que na aldeia para onde se mudaram, perto de Viana do Castelo, o filho é tratado como todos os outros jovens. Vasco ganhou liberdade e até já faz amigos na escola, na natação e na canoagem.
“UM NOVO CUMPRIMENTO”
Na conversa de 30 minutos com Vasco, deu para perceber que é divertido, gosta de conversar e de estar com pessoas. Em quase todas as mensagens, falava de amigos e de familiares. Está em casa com a família desde que a escola fechou, há mais de uma semana. Dias antes, já era cauteloso. Passou a cumprimentar os amigos “com o cotovelo e com os pés”, contou. Sabe que está em casa porque “há coronavírus”. É lá que todos os dias procuram novas formas de aprendizagem.
A mãe do jovem confessou que o maior desafio do isolamento social tem sido a alteração de rotinas do Vasco. “Queria que eu ou alguém lhe disséssemos em que dia volta a ser tudo como antes. Pergunta-me várias vezes quando vai poder voltar à escola. Começou também a querer saber o que vai fazer amanhã e depois”, relatou. No entanto, Cristina prefere ver o copo meio cheio. Esta família vai encarar os dias com calma e tranquilidade.
“ACOMPANHAMENTO CONTÍNUO”
Dias caóticos. É assim que Ana Teresa Fernandes descreve a quarentena com o marido e os dois filhos em casa. Os pais em teletrabalho. Os filhos, Pedro e Joana, em telescola. Num apartamento a tempo inteiro. Todos com prazos a cumprir. A psicóloga tem de dividir o tempo entre o trabalho, as refeições, as tarefas domésticas e o tempo para os filhos. Um deles é autista.
Pedro, de 17 anos, é atleta de natação adaptada. Teve uns “resultados engraçados”, contou a mãe, no último campeonato nacional. Está sem treinos há 3 semanas. Também não tem contacto com os colegas da escola. “A relação com os outros é uma das coisas a que dá importância”, realçou Ana Teresa (...).
Em casa, os pais estão a ajudar Pedro a terminar os trabalhos de alguns módulos do curso profissional. Está a começar a ler e a escrever. Para já, não estão preocupados com este período letivo. No entanto, a mãe do jovem confessou que não sabe como será daqui para a frente. É que Pedro precisa de acompanhamento contínuo da terapeuta.
Segundo Ana Teresa, o jovem de 17 anos tem-se adaptado com “relativa tranquilidade” ao isolamento social. Mas fica mais agitado quando está algum tempo desocupado ou quando os pais, os dois a trabalhar a partir de casa, não lhe dão atenção.
Ana Teresa teme não conseguir continuar a trabalhar, mesmo em teletrabalho, se o cenário se prolongar. “Em casa, o horário de trabalho prolonga-se muitas vezes pela noite dentro, para tentar cumprir prazos”, desabafou. Mas por agora, a principal preocupação é a escola: “Como é que se vai organizar com os alunos com necessidades específicas de educação. Que desafios vai ter para promover a inclusão e o sucesso educativo de todos?”.
“NOTO QUE ELE NÃO ESTÁ FOCADO”
Isabel Pereira fica em casa com os 3 filhos desde o dia 14 de março. O marido sai para trabalhar. Tem um filho de 6 anos que tem Síndrome de Asperger, uma Perturbação do Espectro do Autismo.
Com as atividades suspensas, as manhãs de Daniel são dedicadas às brincadeiras. À tarde, a mãe, sozinha em casa com os filhos e várias tarefas, tenta que o filho faça os trabalhos da escola. A criança recebe os trabalhos enviados pela professora titular da turma. No entanto, Isabel realçou que tem sido difícil: “Principalmente matemática, eu não sou professora, tento ajudar da melhor maneira que posso”. (...) avançou que o filho deixou de ter ajuda da Unidade de Ensino Especial. “Noto que ele não está focado, não está a absorver o que lhe ensino. Bloqueia muito e fica nervoso e ansioso”, explicou. As sessões de psicologia, o acompanhamento em várias especialidades no Hospital de São João, no Porto, e as terapias estão em suspenso. E esta altura de mudança de estação é especialmente complicada para Daniel.
Isabel sente-se professora, psicóloga, terapeuta e mãe. Ao mesmo tempo. Tem sido esse o maior desafio das últimas semanas. Numa altura em que uma pandemia para o país e o mundo, Isabel tenta ajudar o filho. O objetivo é continuar caminho.
Fonte: SIC Notícias por indicação de Livresco
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