Todos os que temos filhos em idade escolar demos conta, estas semanas, das iniciativas de ensino à distância que foram lançadas, em escolas públicas e privadas de todo o país. Numa semana, os professores de todo o país tiveram a capacidade de alavancar os seus recursos e competências, para dar início a uma vaga de ensino remoto sem precedentes em Portugal.
Isto significa que, no “aftermath” desta crise, todos nós, como sociedade civil, mas em particular o Estado, temos obrigação de fazer o investimento necessário para consolidar e melhorar as boas práticas desenvolvidas:
- dotar as escolas das infra-estruturas tecnológicas e equipamentos necessários – que, em boa parte, datam do Plano Tecnológico de há mais de dez anos –, e disponibilizar acesso de banda larga à internet a todos os colaboradores e alunos;
- formar e treinar em tecnologias de informação os professores do 1.º ciclo ao secundário, com incentivos que assegurem massa crítica para que a cultura de ensino com recurso ao digital se consolide, em vez de “voltar tudo ao mesmo";
- consolidar os conteúdos e “tools” digitais desenvolvidos, em parcerias amplas entre escolas, editoras, universidades e empresas, adotando as melhores práticas nacionais e internacionais;
- rever os curricula, à luz do “Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória”, apostando em novos modelos não formais e informais de aprendizagem e de capacitação, com a participação da sociedade civil e das empresas, possíveis neste paradigma digital;
- ajustar o estatuto da carreira docente e a organização das escolas para modelos mistos de ensino presencial e à distância, que facilitem a vida aos professores e aos alunos, sobretudo em zonas e situações em que, atualmente, têm de percorrer muitos quilómetros por dia ou semana;
- não menos importante será garantir a inclusão digital e a igualdade de acesso dos alunos de famílias mais desfavorecidas, em particular no que diz respeito às infraestruturas e equipamentos disponíveis nas suas casas, eventualmente compensadas pelo apoio de salas geridas pelas juntas de freguesia, que já existem um pouco por todo o país.
Esta revolução digital na Educação deveria ser potenciada pelo Estado numa primeira fase, mas criaria todo um novo ecossistema de parceiros públicos e privados – que já existe em outros países europeus e no resto do mundo –, que seria fonte de criação de valor económico para o país, mas também de novas eficiências em termos de gestão dos recursos alocados à Educação.
A crise da covid-19 criou a oportunidade de ouro para darmos o salto, finalmente, para uma Educação do século XXI. Devíamos todos começar a trabalhar neste projeto desde já, com a ajuda do Governo, mas também da União Europeia, que potenciaria o alinhamento pelas melhores práticas internacionais. Há recursos humanos disponíveis e talento suficiente no país para iniciarmos este caminho já. Mãos à obra!
Diogo Simões Pereira
Director-geral da Associação EPIS – Empresários Pela Inclusão Social
Fonte: Público
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