Capacitar a comunidade na compreensão e aceitação das características próprias do autismo é o objetivo da palestra gratuita que a associação Vencer Autismo promove, no âmbito do projeto "Autism Rocks!", no próximo dia 17, pelas 18 horas, no auditório do Fórum Cultural de Ermesinde.
A associação Vencer Autismo está a levar a cabo, desde junho no ano passado, nos 17 municípios da Área Metropolitana do Porto, o projeto "Autism Rocks", que terá a duração de três anos e tem por missão sensibilizar a população em geral para a Perturbação do Espetro do Autismo. Depois de passar por várias outras cidades, chegou a vez de Valongo.
O projeto divide-se em três fases: as palestras de duas horas para sensibilizar a comunidade em geral na mudança do estigma negativo do autismo; os workshop de 24 horas para a partilha de técnicas e estratégias de intervenção no autismo com famílias e profissionais que acompanham crianças e jovens com autismo, contribuindo para o máximo desenvolvimento do potencial da criança e jovem; e a mentoria de três anos de acompanhamento personalizado de monitorização das famílias e profissionais que participaram no workshop.
"O desafio foi-nos lançado pelo Portugal Inovação Social, candidatámo-nos a fundos do Portugal 2020 e apresentámos este projeto, cujo objetivo genérico é capacitar a comunidade e população em geral para compreender e aceitar as pessoas com autismo", explica Susana Silva, presidente da Vencer Autismo e mãe de um jovem com autismo, continuando: "O projeto Autism Rocks! consiste em dar uma palestra, fazer workshop de dois dias e mentoria durante três anos aos habitantes dos municípios da região do Porto que tenham ou acompanhem uma criança com autismo".
"As palestras já fazíamos, os workshop são novidade, mas o que é inovador é a mentoria. Estamos a finalizar um call-center, onde vamos dar a todas as pessoas que fazem os workshop apoio ao longo destes três anos", salienta a responsável, apontando que tal acompanhamento, no final de todo o programa "irá permitir ter o maior estudo vivo de casos de crianças com autismo e a respetiva evolução que tiveram ou não".
"No final deste projeto queremos medir se houve alteração, quer na forma como as pessoas lidam com o autismo, quer se a comunidade em geral está mais sensível para as questões do autismo. E, nas próprias crianças, saber se há alteração em termos de evolução ou não, com pais mais capacitados, com profissionais mais informados, se conseguimos ver esse impacto na área metropolitana do Porto", aponta a presidente da associação.
Desde 2010, a Vencer Autismo tem vindo a desenvolvido um trabalho no sentido de consciencializar mais as pessoas sobre o autismo e a recetividade aos eventos mostra que há cada vez mais interessados. "Vemos muito professores e técnicos à procura de informação, porque cada vez há mais casos de crianças com autismo e os professores não têm preparação para lidar com as particularidades cada um deles. Todas as nossas palestras têm mais de 200 pessoas a assistir, porque há este interesse da população em querer saber mais, principalmente as pessoas que lidam com estas crianças", anota Susana Silva, avançando que "a Perturbação do Espetro do Autismo vai de um grau mais severo a um mais funcional".
"Agora já não há diagnóstico de síndrome da Asperger, passou a ser tudo autismo, Grau I, II e III. Isto porque os desafios são os mesmos: a relação e a interação social", frisa a presidente da Vencer Autismo, justificando: "Uns são mais verbais outros menos, uns têm mais capacidades do que os outros, mas os desafios são os mesmos. A essência do problema e o desafio de cada um deles é a relação e a interação social".
Sem dados concretos sobre os casos de Autismo em Portugal, estima-se que o número ronde o um caso por cada 100 crianças. "Com este projeto queremos ter uma perspetiva do que é a realidade na Área Metropolitana do Porto e depois podemos extrapolar para o resto do país. Nem em termos nacionais há esse apanhado, porque esta questão é tratada por várias entidades e não há consenso. Neste momento, baseamos em dados internacionais, mas queremos afinar um bocadinho mais estes dados", explica Susana Silva.
Uma vez que as causas ainda não são conhecidas, a deteção precoce desta patologia é fundamental. "Quanto mais precoce for o diagnóstico e mais intensiva a abordagem, mais sucesso vão", frisa a responsável, anotando que "atualmente, entre 1 a 5 por cento das crianças diagnosticadas com autismo, perdem o diagnóstico".
"Mas também sabemos que isso acontece quando são crianças que são intervencionadas precoce e intensivamente. E quando estamos a falar intensivamente não estamos a falar de duas horas por semana de terapia, que atualmente é o que o Estado comparticipa. Estamos a falar de, no mínimo, quatro horas por dia", salienta a presidente da associação, lembrando: "Ao restringir estas crianças de uma terapia intensiva, potencialmente, estamos a criar indivíduos que não vão ser independentes, que vão necessitar continuamente de apoio e, mais tarde, alguém vai ter de pagar e suportar isso quando os pais já não estiverem".
"E esse é o maior drama dos pais, o que acontecerá ao nosso filho quando já cá não estivermos", finaliza Susana Silva.
Fonte: JN
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