"Se roubarem os livros a um miúdo, ninguém vem à escola. Se lhe roubarem o telemóvel, aparece logo o pai ou a mãe." O comentário é de uma professora do 2.º Ciclo. De miúdos com 10, 11, 12 anos, habituada a discutir cada vez mais o assunto com os encarregados de educação. Muitos admitem que para os filhos o telefone é um vício, a companhia com quem conseguem passar o dia fechados no quarto. Mas intervir ou tirá-lo está fora de questão. Que adolescente sobrevive, hoje, sem um telemóvel? (...)
Entre os investigadores que teorizam sobre os novos dispositivos de comunicação, surgem duas visões opostas. Há quem considere a tecnologia intrinsecamente positiva por potenciar o conhecimento e o democratizar. E há quem a diabolize, lembrando os novos riscos para a privacidade, segurança e relação com o outro. Algures no meio estará a virtude, mas é inequívoco que há alterações e reconhecê-las é o primeiro passo para as controlarmos, antes que elas nos controlem.
A Internet e os aparelhos eletrónicos acarretam um risco elevado de dependência e não é por acaso que já existem, no Serviço Nacional de Saúde, consultas e serviços especializados no tratamento de jovens considerados viciados. E motivam a exploração de redes, aplicações e programas para os quais os pais não estão, muitas vezes, preparados. As novas gerações estão quase sempre um passo à frente. É difícil acompanhá-las na sua constante mobilidade e agilidade tecnológica.
O que nem todos os pais percebem é que os filhos não estão mais seguros por estarem fechados no quarto. Podem, pelo contrário, estar mais expostos a um mundo paralelo e virtual com desafios perigosos. Um telemóvel pode ser uma arma. Tanto mais perigosa por parecer inofensiva. Como pais, compete-nos retirá-lo do centro dos dias e reduzi-lo ao papel de ator secundário.
Inês Cardoso
Subdiretora do JN
Fonte: JN
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