Portugal é o país onde sempre se espera o melhor resultado com o pior dos investimentos. Temos uma política de fé, quero dizer, uma que aposta mais numa espécie de sorte do que na competência e na força inequívoca de se tomarem decisões justas num sentido de missão pública. O PS e o PSD têm sido iguais no que respeita ao esperado pela Educação. A vontade é ir empurrando o maior número possível de alunos para as escolas privadas, depauperando a escola pública através, sobretudo, da desclassificação da carreira dos professores.
Curiosamente, sabe-se que as mais recentes são as gerações mais bem preparadas de sempre do país. Curiosamente, com a escola a ser desmontada lentamente, ainda se conseguiu esse incrível resultado. Embora estejamos a falar de alunos que, havendo oportunidade, fogem para trabalhar em países onde os salários tenham de verdade dignidade para tanto empenho.
Como poderíamos, pois, continuar a retirar aos professores os ovos e esperar que produzam omeletas e, desde logo, as melhores omeletas de sempre?
Portugal tem sido o país que, pagando entre os piores salários da Europa, tem as casas mais caras do Mundo. A simples oportunidade de habitar começa a tornar-se impossível para tanta gente que, mesmo estudada como nunca, não passa depois de uma miséria contida. Com a saúde a ser empurrada para os seguros privados e com a educação a ser empurrada para os colégios, o português comum tem de ser um cidadão em extinção. A hipótese de sobreviver às contas no fim de mês é absolutamente nenhuma.
O problema das escolas não pode começar em saber se os programas estão adequados à estranheza das novas gerações que, pelos vistos, não entendemos bem como são e não sabemos que lhes fazer. O problema tem de começar pela defesa franca dos professores, que precisam de ser respeitados como aqueles que nos entregam todas as ciências e desenvolvem todas as capacidades. Aqueles que efectivamente estruturam o país e o Mundo em todas as valências e todas as complexidades. São eles que têm por ofício sofisticar o nosso pensamento, enriquecer o nosso imaginário de informação e favorecer, com isso, a nossa auto-estima abrindo o futuro.
Salvar os professores é salvar o país. Porque nenhum país sairá da miséria com cidadãos educados pelo Google. Gente que nem saberá perguntar no sentido de chegar à resposta de que precisa.
É um desastre que, uma e outra vez, se assista à tragédia contínua das escolas. Há décadas que o mais que se faz é estrangular as carreiras e apontar a emigração como caminho para quem ensina e para quem aprendeu. Quem ainda não viu que destruir os professores é destruir o país, ou não foi à escola ou foi e cabulou do princípio ao fim.
Válter Hugo Mãe
Fonte: Notícias Magazine por indicação de Livresco
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