No ano lectivo de 2021/2022, foram reportados, pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, 11.162 alunos do ensino secundário – 60% dos quais rapazes - “para quem foram mobilizadas medidas seletivas e/ou adicionais de suporte à aprendizagem e à inclusão”, no âmbito do novo paradigma da “educação inclusiva”.
Isto significa que um terço destes jovens, cerca de 3700, poderá ter terminado a escolaridade em 2021, com o grau do 12.º ano. Alguns terão conseguido entrar para o ensino superior, outros terão procurado a sua inserção profissional ou ocupacional, apoiados pelas suas famílias, quando capazes, e/ou por instituições sociais especializadas, em muitos casos, felizmente, mas não em todos. Qualquer um dos caminhos é uma enorme maratona para estes jovens adultos e suas famílias e, não raras vezes, uma "travessia do deserto", sobretudo na fase da inserção profissional. Esta situação, estruturalmente muito difícil, foi agravada durante os mais de dois anos de pandemia, como todos sabemos.
Vamos considerar então que, em termos de fluxo médio de cruzeiro, poderemos ter cerca de 4 mil jovens especiais por ano a tentar entrar no mercado de trabalho, com mais ou menos habilitações e competências, procurando uma profissão a tempo inteiro ou uma ocupação a tempo parcial compatível com as suas condições pessoais e com a sua dignidade.
Por outro lado, sabemos que, em 2020, de acordo com o INE/Pordata, havia em Portugal 1312 grandes empresas – com mais de 250 trabalhadores –, 7180 médias empresas – com menos de 250 e mais de 50 trabalhadores –, 43.678 pequenas empresas – com menos de 50 e mais de dez trabalhadores – e 1.264.086 microempresas – com menos de dez trabalhadores.
Como hipótese de trabalho, creio que seria razoável considerar que as 50.858 empresas portuguesas que têm dez ou mais trabalhadores – todas exceto as microempresas – são as que terão melhores condições humanas, de recursos e financeiras para integrar, pelo menos, um jovem especial nos seus quadros nos próximos anos – ou, em muitos casos, mais um jovem especial.
Quando fazemos a divisão de 51 mil empresas pelos cerca de 4 mil jovens especiais por ano à procura de emprego, o resultado são cerca de 13 anos. Ou seja, Portugal teria dimensão para integrar 4 mil jovens por ano durante 13 anos. Se descontarmos os jovens especiais que poderão estar inseridos profissionalmente no setor público – centralizado ou descentralizado, sobretudo autarquias e escolas – e no setor social – cerca de 7000 instituições –, bem como os que necessitam de apoio institucionalizado a tempo inteiro, estes 13 anos poderiam significar muitos mais anos.
Servem estas contas simples – e simplistas, claro – para sublinhar que o país parece ter dimensão para integrar mais os jovens adultos com necessidades especiais. Mas não tem tido essa capacidade, mesmo após o esforço legislativo para impor quotas de 1 a 2% dos colaboradores às empresas e instituições de maior dimensão – que entram em vigor a 1 de Fevereiro, com carácter obrigatório, após um período de transição de quatro anos.
Em jeito de "resolução de ano novo" para todos nós, lembrei-me então de fazer o convite aos portugueses para considerarem a possibilidade de "experimentar" a identificação e seleção de jovens especiais para, pelo menos, realizarem um estágio nos seus locais de trabalho. Por via de mínimos, seria uma oportunidade de crescimento em termos de competências profissionais e de auto-estima, que os prepararia para novos desafios. Por via de máximos, o céu é o limite.
E quem são estes portugueses que estou a convidar? São os empresários e trabalhadores das empresas privadas, são os funcionários públicos – em particular das autarquias, das escolas e dos hospitais –, são os colaboradores de todo o tipo de instituições públicas e privadas, sociais ou não.
Por experiência própria, sei que não é um caminho nada fácil e que, em muitos casos, acaba com um sucesso apenas parcial ou mesmo um insucesso – que deve ser entendido como transitório. Em qualquer caso, nunca voltamos ao ponto de partida e, com o muito que aprendemos, ficamos mais capacitados para tentar outra vez.
A boa notícia é que, felizmente, existem muitas instituições sociais por todo o país, especializadas e muito profissionais, que apoiam e preparam estes jovens adultos para iniciar um processo de abordagem ao mercado de trabalho, que dão a mão aos potenciais empregadores ao longo deste caminho inicial.
Em resumo, são 4 mil jovens especiais em 2023. Fica o convite aos portugueses, para que promovam a inserção profissional dos jovens especiais nos seus locais de trabalho.
Diogo Simões Pereira
Fonte: Público
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