Os alunos que durante o ensino ‘online’ mantiveram um maior contacto com os professores foram os menos prejudicados pela pandemia de covid-19, revela o diagnóstico das aprendizagens que confirma a importância dos docentes mesmo à distância.
Esta é uma das principais conclusões do segundo relatório do estudo diagnóstico realizado em janeiro pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) divulgado hoje e que tinha como objetivo avaliar o impacto da suspensão das atividades presenciais nas escolas em 2020 devido à pandemia.
O estudo, que envolveu mais de 23 mil alunos do 3.º, 6.º e 9.º anos, procurou perceber o estado das aprendizagens em três áreas: literacia matemática; literacia científica e literacia de leitura e informação.
Nada substitui o papel do professor e o que este estudo nos mostra é que, mesmo em contexto de ensino à distância, a presença do professor em interação direta com os alunos é muito melhor para as aprendizagens”, sublinhou o secretário de Estado e Adjunto da Educação na sessão de apresentação do relatório.
Segundo os resultados do estudo de diagnóstico, os alunos que tiveram aulas síncronas ‘online’ conseguiram melhores desempenhos nas três áreas avaliadas.
“Isto volta a reforçar o reconhecimento que todos temos de ter do papel que os professores desempenham e não endeusarmos máquinas que nunca vão substituir o papel dos professores”, defendeu João Costa.
Outra das conclusões do estudo confirma também uma ideia de que ao longo dos últimos dois anos tem vindo a ser sistematicamente sublinhada e que tem a ver com o impacto do contexto socioeconómico dos alunos.
Com a maioria das escolas encerradas deste março de 2020 até ao final desse ano letivo, durante mais de três meses, levantou-se uma particular preocupação com as crianças e jovens mais carenciados, e que agora se sabe que era justificada.
“As condições socioeconómicas dos alunos têm um impacto significativo no seu desempenho e nas suas aprendizagens”, relatou o presidente do IAVE, Luís Santos, explicando que os desempenhos dos alunos com ação social escolar (ASE) foram, em geral, inferiores e que essa discrepância se acentua quando se trata de competências mais complexas.
No caso do 6.º ano de escolaridade, por exemplo a diferença média de desempenho dos dois grupos de alunos chega mesmo aos 9,6 pontos percentuais em literacia de leitura. Já no 9.º ano, os resultados referentes à literacia matemática dos alunos com ASE ficaram 8,3 pontos percentuais abaixo dos colegas.
Na mesma sessão, foram ainda apresentados os resultados preliminares do estudo de aferição amostral do ensino básico realizado entre 14 e 21 de junho e que abrangeu 308.042 alunos do 2.º, 5.º e 8.º anos, para quem as provas foram novamente canceladas, pelo segundo ano consecutivo.
À semelhança do estudo diagnóstico das aprendizagens, também este confirma o impacto negativo da pandemia, uma vez que os resultados revelam uma diminuição do desempenho dos alunos em comparação com os resultados das provas de aferição realizadas em 2018 e 2019 no caso do 2.º ano.
Durante a apresentação, o presidente do IAVE destacou, por exemplo, as diferenças verificadas na dimensão “organização e tratamento de dados”, relacionada com estatísticas, das provas de Matemática dos diferentes anos de escolaridade, em que a percentagem de alunos que não conseguiu responder às perguntas aumentou significativamente.
“É um domínio muito importante, são competências que são utilizadas depois na vida académica e profissional dos alunos com muita frequência e penso que este é um bom “aviso para a navegação” no sentido de termos de olhar para estes domínios com mais cuidado e trabalhá-los mais com os alunos”, afirmou Luís Santos.
Apontando os resultados dos dois estudos como sinais preocupantes, o secretário de Estado considerou que é importante fazer este tipo de diagnósticos, não só quantitativos como qualitativos, para que os responsáveis políticos e as escolas possam perceber efetivamente quais são as dificuldades dos alunos e trabalhar de forma a superá-las.
“Nós temos de tomar decisões sobre quais são as áreas que devem ter maior incidência e não podemos decidir com base em opiniões, temos de decidir com base em evidências”, disse, sublinhando a importância do trabalho desenvolvido pelo IAVE que, além de fazer a avaliação e análise dos resultados, apresenta também nestes estudos sugestões pedagógicas.
O objetivo, explicou Luís Santos, é que agora os diretores escolares e professores peguem em cada um dos relatórios apresentados hoje, que incluem também a análise das provas finais de 3.º ciclo desde 2015, para desenharem os seus planos de recuperação das aprendizagens, como previsto no “Plano 21|23 Escola+”.
“Estamos convictos que as escolas, como sempre, vão utilizar estes relatórios, com estes dados e esta informação muito rica, para também melhorar o seu trabalho em sala de aula e melhorar os resultados dos alunos”, concluiu o presidente do IAVE.
Fonte: Noticias de Coimbra por indicação de Livresco
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