O Diário de Notícias publicou uma notícia com o título "Ensino à distância. "Vão reviver-se os mesmos problemas e as mesmas frustrações"", a propósito do novo período de ensino à distância após o término da interrupção letiva. Neste texto, são auscultados diretores de agrupamentos de escolas, pais, alunos e professores que temem reviver os problemas do ano letivo anterior, designadamente no âmbito da educação inclusiva.
(...) Susana Silva é mãe de uma criança que está sinalizada como necessitando de educação inclusiva. "A escola pública que a Leonor frequenta não podia ser melhor, mas neste caso penso que o ensino à distância tem de melhorar face ao ano letivo passado. Para a Leonor foi complicado não ver os colegas e alguns professores (por causa dos direitos de imagem) e recusava-se a falar para um computador com retângulos e as suas iniciais", conta. Susana Silva teve de "fazer o papel de professor e explicar muitos dos conteúdos que estava a ouvir, por não haver tempo em aula para o fazer".
Relembra que "o apoio da educação inclusiva chegou muito mais tarde". "Acresceu em sessões síncronas ao seu trabalho diário e também não foi fácil. A Leonor chegou a uma altura que só gritava", confessa. Para o regresso ao ensino online, Susana Silva pede para que os professores não tenham "a pretensão de quererem fazer tudo". "Espero que façam uma adaptação ao horário em trabalho síncrono e assíncrono, que não deixem o período sem avaliação, que não desvalorizem todo o esforço das famílias em conciliar o teletrabalho e o acompanhamento real e efetivo que pais como eu têm de dar de forma presencial, para que a Leonor possa acompanhar as aulas", conclui. A filha Leonor está a viver uma situação emocional difícil com a interrupção das atividades letivas. "Não gosto da escola pelo Teams. Estou triste, estou zangada. Não quero a mãe no computador com os alunos. Não quero a mãe professora. Quero os professores da minha escola", conta.
Mário Nogueira também está apreensivo com a situação dos alunos de educação inclusiva e dos alunos sinalizados. "No ano passado as dificuldades foram imensas e os alunos sinalizados, fosse por que razão fosse, acabaram por ser os mais penalizados. O apoio à distância deixou alguns de fora, respostas, como terapias, que tinham de ser presenciais, foram suspensas e, na maior dos casos, o envio de atividades a desenvolver com os pais não teve a resposta adequada ou foi insuficiente", diz. Contudo, o dirigente sindical acredita que o cenário poderá ser, agora, melhor. "Esse parece ser um problema que terá alguma mitigação, uma vez que se mantêm as respostas da intervenção precoce, que é desenvolvida em domicílios, os alunos com necessidades educativas especiais terão apoios presenciais e, já em outro domínio, os serviços de CPCJ irão manter-se em funcionamento", sublinha.
Madalena Sofia Oliveira, docente e investigadora, defende que, "por forma a minimizar o impacto deve garantir-se o acesso ao ensino misto nomeadamente a crianças com necessidades específicas, quer em termos de desenvolvimento quer de cariz económico". "Há desigualdades que irão acentuar-se, e urge que se tomem medidas concertadas e eficazes para atenuar estas disparidades. A escola enquanto local de socialização ocupa um papel de destaque no desenvolvimento das crianças. A sua privação conjugada com a exposição durante horas à televisão, aos telemóveis, poderá provocar mais frustração e levar a mais birras e consequentemente um impacto significativo a curto, médio e longo prazo. Associar isto à instabilidade, ao cansaço e ao receio do que virá por parte dos pais poderá funcionar como preditor para a ocorrência de alguns conflitos. O facto de estarem isoladas, de não terem contactos com redes formais de apoio, também pode deixá-las numa situação de maior vulnerabilidade", afirma. A especialista faz um apelo: "É importante estarmos atentos por forma a garantir que qualquer situação em que se verifique que a criança se encontra numa situação de perigo para a sua saúde ou desenvolvimento seja comunicada."
Fonte: DN
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