Metade dos professores portugueses têm níveis de stress que afetam o seu relacionamento com os alunos, sendo mais vulgar encontrar casos entre os docentes do ensino secundário, com mais idade e mais experiência, revela um estudo nacional.
Estes são alguns dos resultados do estudo "Burnout em professores portugueses", que começou a ser desenvolvido em 2009 por Ivone Patrão e Joana Santos Rita, duas psicólogas e investigadoras da Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).
As investigadoras entrevistaram 807 professores do ensino básico e secundário de todo o país. A maioria dos inquiridos era licenciada, dava aulas em escolas públicas a tempo inteiro e tinha, em média, 45 anos.
De acordo com o estudo, “20 por cento dos professores apresentam níveis médios de 'burnout' [uma espécie de esgotamento] e os outros 30 por cento têm níveis elevados, o que é preocupante", garantiu Joana Santos Rita, explicando que o 'burnout' se caracteriza por um tipo de stress ocupacional permanente, que afeta o relacionamento com as outras pessoas.
“Se nós promovermos a saúde mental dos professores também estaremos a promover a saúde mental das crianças", defendeu a investigadora, lembrando que os elevados níveis de 'burnout' estão directamente associados a elevados níveis de ansiedade e depressão.
"São os professores mais velhos, efetivos, com mais anos de experiência e do ensino secundário os que têm níveis de 'burnout' superiores”, acrescentou.
Os professores do ensino secundário apresentam valores mais elevados de stress, exaustão emocional e maior falta de reconhecimento profissional. A dificuldade em gerir problemas de indisciplina na sala de aula, a perceção da desmotivação para o estudo por parte dos alunos e a pressão para o sucesso são algumas das razões que levam a elevados níveis de 'burnout'.
Já os professores do ensino básico têm mais preocupações profissionais, que passam pela maior dificuldade na gestão dos conflitos com os pais e com a escola, uma vez que são eles que assumem o papel central na aprendizagem e na gestão de uma turma.
Numa comparação entre sexos, as mulheres aparecem como sendo mais suscetíveis ao 'burnout', situação que as especialistas acreditam poder estar relacionada "com o efeito cumulativo inerente ao desempenho de diferentes papéis: são mulheres, mães e professoras", lembrou.
Para fugir aos problemas, alguns professores acabam por utilizar estratégias como a rotina ou mesmo o absentismo laboral, acabando por ser um "estímulo negativo" para os colegas, alertou Joana Santos Rita.
A investigadora contou (...) que o trabalho até agora desenvolvido vai continuar, com a realização de mais entrevistas e a tentativa de "perceber quais são os fatores e as estratégias que facilitam a resiliência e o envolvimento dos professores que mantém níveis elevados de bem-estar".
In: CM online
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