A partir do momento em que se confirma uma gravidez desejada, o casal, e até mesmo a família alargada, vive momentos de verdadeira felicidade. Tudo é pensado em nome da criança vindoura. A mãe cumpre religiosamente as consultas de acompanhamento, o pai delicia-se com o crescimento da barriga e juntos deliram com os primeiros "pontapeares". As compras focam-se na decoração do quarto do bebé, nas roupas mais confortáveis, na aquisição das "cadeirinhas" mais adequadas...
A mãe e o pai idealizam o rosto da criança, com uma esperança, quase secreta, que ela venha a herdar geneticamente o melhor de cada um. Durante nove meses, a família é, assim, imbuída de emoções positivas e anseia o momento do nascimento!
Quando a criança nasce, o pai comemora com os amigos, a mãe recebe telefonemas das amigas, enfim... vive-se o melhor momento da vida de qualquer ser humano!
Todavia, nem sempre este cenário é assim! Quando o pediatra chega, com um ar quase ensimesmado, os olhos pequenos e um franzir na testa... O medo instala-se e os pais perguntam, quase desesperadamente:
- O meu bebé está bem? Nasceu perfeitinho?
E quando a resposta é: "Poderá haver um problema" ou "O seu filho nasceu com uma deficiência" Naquele momento, naquele minuto fatal, desmorona-se tudo!
A criança sonhada, a criança idealizada, dá lugar a uma criança não desejada, isto porque nenhum ser humano deseja ter uma criança com deficiência!
E no meio deste sequestro emocional, a mãe tem alta, vem para casa com "outro" bebé e sem qualquer tipo de apoio psicológico!
Os pais percorrem, assim, um longo período de sofrimento, passando por várias etapas, muitas vezes, sozinhos.
São estes pais que chegam à minha "Escola de Pais Especiais". Pais revoltados, amargurados, sem vida própria, que esqueceram de viver, pois tudo passou a centrar-se nos cuidados do novo ser.
A estes pais eu gostaria de dizer que ter uma criança com deficiência não é prenúncio de uma vida futura infeliz. A deficiência não é uma fatalidade! É, antes, um reaprender a amar de forma diferente, mais intensa, mais verdadeira e única! E lembrem-se, quanto mais depressa superarem o ciclo de sofrimento, mais depressa apreciarão os encantos que só estas crianças são capazes de oferecer!
Chegam-me ainda outros pais especiais, como o caso da mãe Rosalina, que me disse: "Eu tenho três filhos com necessidades educativas especiais, mas tenho a certeza que não existe um família tão feliz como a nossa"!
É esta raridade de emoções positivas, é este amar superiormente, é este viver apaixonadamente com um filho especial, que precisa ser "contagiado" àqueles que se deparam, neste momento, com a impotência de ser pais com um filho com deficiência.
Urge, por isso, um agitar de consciência social e política, no que concerne ao apoio emocional destes pais tão especiais e à intervenção precoce do seu filho.
Urge fazer perceber a estes pais e ao mundo em geral que se a Natureza ditou estas crianças é porque necessita delas! Afinal... elas são seres excecionais!
Urge a desmistificação da deficiência.
Urge acreditar no que estas crianças nos acrescentam diariamente, tornando-nos, a todos nós, também pessoas especiais!
A estas crianças o meu eterno Obrigada, e a todos os pais especiais,
Um sorriso especial!
Manuela Cunha Pereira
In: Educare
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