Num texto publicado no Profblog.org, o Prof. Doutor Ramiro Marques sugere aos candidatos a professores que façam a especialização em educação especial, fundamenta com cinco argumentos:
1- As ofertas de escola continuam a ter vagas para os grupos de recrutamento em Educação Especial. A oferta é superior à procura.
2- Os docentes de Educação Especial mantiveram o suplemento mensal de 104 euros, criado na altura em que não havia quadros de escola para docentes de Educação Especial e os docentes tinham que prestar serviço em várias escolas, por vezes, em diferentes concelhos.
3- O suplemento de 104 euros mensais dos professores de Educação Especial não foi objecto de corte, ao contrário dos suplementos de direcção dos directores, sub-directores e adjuntos.
4- Os professores de Educação Especial não fazem substituições.
5- Cada professor de Educação Especial tem, regra geral, menos de 5 alunos.
As reacções foram contundentes, perspicazes, realistas. Sem querer repetir os argumentos de alguns colegas, mesmo daqueles que não são docentes de educação especial, vou emitir a minha opinião, referindo alguns aspectos.
Em muitos artigos ou comentários sobre modalidades de educação, que não seja o ensino regular, transparece um desconhecimento da realidade que, muitas vezes, cai no ridículo! Para criticar é preciso conhecer a realidade das escolas, do dia-a-dia, da prática.
Este aliciamento à formação e à facilidade em conseguir colocação em educação especial é falacioso. Existem já muitos docentes com especialização, mas, no dia-a-dia, constatamos que continuam a faltar em número suficiente para dar resposta adequada às verdadeiras necessidades dos alunos com necessidades educativas especiais. Este aliciamento pode levar (leva) à criação de expectativas que dificilmente poderão ser concretizadas. Atende, ainda, outro factor que tem a ver com o perfil do docente de educação especial! Nem todos os docentes têm vocação, sensibilidade, compreensão, abertura de espírito para lidar com este tipo de alunos.
A questão do suplemento remuneratório tem de ser compreendida num determinado contexto. Estes suplementos foram criados para os docentes que obtinham especializações e exerciam funções de acordo com essa formação. Não foi aplicado apenas à educação especial, mas também a outras funções! Esta crítica mostra alguma mesquinhez na medida em que procura desvalorizar a formação obtida e o reconhecimento da função e, com isso, retirar aos outros aquilo que deveria, eventualmente, ser aplicado a outras situações.
Os docentes de educação especial têm os mesmos direitos e deveres que os restantes pares e, nesse sentido, por aquilo que conheço, fazem de facto substituições, assim como outras tarefas, como dinamização da sala de estudo, vigilâncias... Para além disso, deslocam-se por várias escolas, nas suas viaturas, a prestar apoio aos alunos dispersos.
Quanto ao número de alunos a acompanhar, há que atender a cada realidade, designadamente ao perfil de funcionalidade dos alunos! Cada caso é um caso! Ao nível dos apoios especializados, existem duas modalidades, o apoio directo ao aluno e o apoio indirecto,normalmente aos professores do conselho de turma, dando orientações, gerindo o processo do aluno... No apoio directo, penso que a realidade anda longe de serem os cinco alunos mencionados! Se contabilizarmos os apoios indirectos, então teremos um número muito mais alargado! Só a título de exemplo, enquanto docente de educação especial faço parte de seis conselhos de turma!
A realidade da educação especial é muito diferente daquela que frequentemente é apresentada e comentada pelos politólogos educacionais!
5 comentários:
Realmente é uma especialização a ponderar só é pena que a oferta seja muito pouca na zona de Lisboa e ainda muito menos no público. Como eu muitos professores que gostariam de fazer esta e muitas outras especializações ficam só pelo desejo porque as propinas no particular são muito elevadas.
Penso que quem tem perfil, vocação, sensibilidade para trabalhar com alunos com NEE deve frequentar uma especialização! É uma mais valia! No entanto, lidar com estes alunos é desgastante, exigente mas, também, compensador!
Sendo especializada em educação especial, estando a fazer serviço de educação especial a par de outros relacionados com o ensino regular, pertencendo a diversos conselhos de turma, percorrendo diversas escolas e não recebendo nenhum complemento por coisa nenhuma, sou levada a reflectir a partir da provocação do Professor Ramiro Marques. Sei que somos todos mal pagos, mas parece-me que há contas que ainda não foram feitas.
Não é o trabalho de todos os professores desgastante?
Ser professor deveria ser abraçado como profissão, apenas por aqueles que sentem essa vocação como verdadeira... ter a especialização em educação especial, devia apenas pressupor uma imensa vontade de dar o seu contributo numa àrea tão sensível, exigente e complexa, como a deficiencia. Ensinar a quem é especial, é um acto de entrega e gosto muito grande.´Estas crianças aprendem, mas não é qualquer um que as consegue ensinar. Daí a existencia de uma especialização. Creio que a especialização em ensino especial não existe para que se ganhe mais ou se tenha melhor colocação e menos horas, ou a isenção de outras tarefas... ensinar crianças especiais é dar bastante mais de si. (Assusta-me que existam profissionais, assentes nas premissas que aqui se exortam)!
Grande abraço
Lamento um post destes vindo do Dr. Ramiro Marques. Não é colocar ao debate é banilizar o compromisso do docente de educação especial. A realidade da educação especial, como refere o João é muito diferente. Nem mais me pronuncio que o assunto não merece. Dar os parabéns ao comentário de Atena, o mais pertinente e acertado.
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