Uma mutação do receptor da hormona de crescimento que provoca um tipo de nanismo (síndrome de Laron) pode ser a chave para as pessoas que sofrem deste problema não terem cancro nem diabetes. Os autores do trabalho agora publicado na «Science Translational Medicine» estudaram um grupo de 99 pessoas da mesma família, das províncias de Loja e de El Oro, sul do Equador, que sofrem da síndrome.
Há 22 anos que Jaime Guevara-Aguirre, director do Instituto de Endocrinologia, Metabolismo e Reprodução, estuda estas pessoas. Nestas duas décadas, nenhuma delas desenvolveu diabetes, apesar de muitas sofrerem de obesidade, e apenas uma desenvolveu cancro, do qual conseguiu sobreviver.
O médico começou a aperceber-se desta situação em 1987, quando chegou à conclusão que era pouco provável alguém com esta estatura e excesso de peso não desenvolver diabetes. Em 1994, o médico apercebeu-se também da ausência de problemas cancerígenos.
Tentou chamar a atenção da comunidade científica para este facto, mas só em 2005 um especialista em envelhecimento da Universidade do Sul da Califórnia, Valter Longo, se interessou pelo estudo desta população.
O estudo agora publicado explica cientificamente aquilo que os protagonistas atribuíam à acção “divina”. Os 99 equatorianos constituem um terço da população (de todo o mundo) afectada com a síndrome de Laron. Esta teve origem em Espanha e afectou os descendentes dos judeus (cristão novos) que abandonaram o país há mais de 200 anos.
A síndrome foi identificada pelo investigador israelita Zvi Laron há mais de 40 anos, em alguns pacientes israelitas e outros da Europa de Este, todos judeus. É provocada pela défice de IGF-1, uma proteína de factor de crescimento semelhante à insulina tipo 1, que actua regulando o crescimento das células musculares.
Num outro artigo, agora publicado por Laron, no European Journal of Endocrinology, demonstra-se que a deficiência congénita de IGF-1 protege dos tumores malignos.
Valter Longo considera que o trabalho da Science baseia-se mais na observação directa do que o do seu colega. Acredita que este estudo pode ter implicações práticas e defende que se deve estabelecer o excesso de IGF-1 como factor de risco.
O investigador diz que em menos de um ano pode iniciar-se um ensaio clínico em doentes com cancro, para evitar os efeitos tóxicos da quimioterapia visto que foi demonstrado em laboratório que o défice de IGF-1 reduz os danos químicos. O fármaco pegvisomant, utilizado para as doenças associadas ao gigantismo, diminui os níveis desta hormona.
In: Ciência Hoje
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