O maior problema que a Educação terá de enfrentar nos próximos anos é a falta de professores qualificados. O debate não é novo em vários países e em Portugal tem vindo a instalar-se à medida que o envelhecimento da classe se foi tornando mais evidente. Sem professores qualificados não há educação de qualidade, por muitas mudanças que se façam nos currículos ou por muito que se invista em equipamentos. Os números que hoje apresentamos são mais um sério alerta.
Desde logo, porque três semanas depois de as aulas terem começado continua a haver alunos sem professor, o que é particularmente grave num ano que se quer que seja de recuperação intensa das aprendizagens depois do impacto da pandemia nas escolas.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) é dos que não se têm cansado de chamar à atenção: é urgente a integração “de mais professores no sistema para obviar a falta que já se faz sentir, possibilitando ao mesmo tempo o rejuvenescimento dos quadros e o aumento da estabilidade” (Estado da Educação, edição 2020).
Mas os dados oficiais publicados esta semana ilustram bem como, na hora de escolher uma aposta de futuro, tantos jovens deixaram de considerar a possibilidade de estudar para vir a ser professor. Em meados dos anos 90 havia 30 mil inscritos nas universidades e politécnicos em cursos de Educação. No ano 2000 mais de 50 mil. No ano passado 14 mil. Há outras vias para entrar na profissão – mas que nos cursos especificamente de Educação haja uma quebra de 70% dos inscritos em 20 anos é um sinal evidente do que está em causa.
E se há sinais de que nas edições mais recentes do concurso nacional de acesso ao superior houve alguma recuperação, ela parece insuficiente face a isto: até 2030, mais de 50 mil docentes (cerca de metade dos do quadro) poderão aposentar-se, segundo estimativas do CNE.
Números da OCDE, divulgados há dias, mostram que os professores portugueses em início de carreira ganham menos do que muitos dos colegas europeus. Mas essa não é a única razão que leva à pouca atractividade da profissão. Um outro estudo da OCDE de 2018 assinala que apenas 9,1% dos professores inquiridos em Portugal consideram que a sua profissão é valorizada pela sociedade – a média nos países participantes é de 32,4%, na Finlândia atinge os 58,2%. Junte-se a imagem crónica de uma profissão instável, em que se anda com a casa às costas durante anos e em que dificilmente se chega ao topo, os problemas de indisciplina de algumas escolas, ou a ausência de medidas para fixar docentes nas regiões onde são mais escassos e percebe-se como ser professor se foi tornando menos apelativo.
Voltar aos tempos em que sistematicamente se recrutavam professores sem uma formação de excelência será uma tragédia.
Andreia Sanches
Fonte: Público por indicação de Livresco
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