Novos estudos da DGEEC confirmam que a condição socioeconómica continua a ser um factor determinante para conseguir ou falhar a conclusão do ensino secundário no tempo esperado.
Não é por chumbarem que os alunos vão aprender mais e terem assim mais hipóteses de sucesso. Bem pelo contrário, como mostram mais uma vez dados sobre o percurso dos estudantes no ensino secundário, divulgados nesta terça-feira pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).
Quando se olha para o desempenho dos alunos que ingressaram em 2017/2018 nos cursos científico-humanísticos (CCH) e no ensino profissional, salta à vista que a idade de entrada no secundário é um factor determinante para o que irá acontecer a seguir. Nos CCH, 75% dos alunos que tinham entrado com 15 anos ou menos concluíram o secundário em 2019/2020, ou seja, no tempo normal para o efeito (três anos). Já entre os que tinham 18 anos ou mais à entrada só 20% alcançaram o mesmo feito. E neste grupo etário, 38% já nem estavam matriculados em qualquer oferta do secundário, porque, entretanto, desistiram de estudar.
Mas basta ter reprovado um ano para que tudo redunde para pior: apenas 44% dos alunos que entraram nos CCH com 16 anos concluíram em três anos, quando nos seus colegas mais novos esta proporção foi de 75% como já referido.
A tendência repete-se no ensino profissional: 80% dos que entraram nos cursos profissionais do secundário com 15 anos ou menos concluíram em três anos, enquanto só 37% dos que ingressaram com 18 anos ou mais chegaram ao fim em 2019/2020. E nesta faixa o abandono foi a opção escolhida por 36%. Quanto aos que entraram com 16 anos, a proporção de conclusões foi de 66%, bastante inferior aos 82% dos mais novos, mas signifiticativamente superior ao que foi conseguido nos CCH.
Dados que levaram o Ministério da Educação a alertar de novo para o seguinte: “A retenção e consequente atraso na idade de desenvolvimento dos estudos não revela eficácia comprovada”. Em 2020 a taxa de retenção no secundário estava nos 8,5% contra os quase 40% registados em 2001.
Os estudos divulgados nesta terça-feira pela DGEEC vêm também confirmar que a condição socioeconómica dos agregados familiares dos alunos continua a ter um peso significativo no desempenho, embora possam existir excepções.
Para apurar esta condição, a DGEEC comparou a percentagem de alunos que concluíram o ensino secundário em três anos em função da sua situação face à Acção Social Escolar (ASE), que é concedida a agregados que vivam no máximo com um rendimento mensal igual ao salário mínimo nacional. Existem dois escalões de ASE (A e B), sendo que o primeiro é o das famílias mais carenciadas.
Nos cursos científico-humanísticos, 54% dos alunos no escalão A concluíram o secundário em três anos, um valor que sobe para 66% no escalão B e que chega aos 70% entre os alunos que não precisam destes apoios. Nos cursos profissionais, o padrão é semelhante, mas como uma dissonância: a percentagem dos estudantes do escalão B que concluíram em três anos (66%) é superior à dos alunos que não têm estes apoios (61%). O que pode remeter para o facto de estes estudantes escolherem o ensino profissional sobretudo por terem maus desempenhos. Voltando à ASE, refira-se que no escalão A só 55% conseguiram concluir em três anos.
Como em Portugal continua a existir uma forte ligação entre as reprovações e as condições socioeconómicas dos estudantes, estes últimos dados vêm também apontar para o facto de os alunos carenciados terem um forte peso entre aqueles que chegam ao secundário em idades mais avançadas e acabam por ser penalizados por isso.
(Continuação da notícias aqui)
Fonte: Público
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