Magda Dias Gomes, formadora certificada na área da inteligência emocional, educação positiva e coaching, conhecida pelo blogue ‘Mum’s the Boss’ e várias obras lançadas, falou sobre o antes e depois da educação, reprimindo o facto das ‘palmadas pedagógicas’ serem prejudiciais nas crianças.
O que nos diferencia entre sermos bons ou maus pais?
Boa questão, mas muito subjetiva. Há duas funções nos pais e que têm um enorme peso. Uma é a educação, ou seja, educar a criança e formá-la no que diz respeito aos valores que a família defende e a sociedade em que ela está inserida, no fundo, humanizá-la. E utilizo este termo porque à medida que a criança vai crescendo ela vai sabendo gerir as emoções e compreendendo as dos outros e tornando-se mais humana. Depois, temos a função afetiva, isto é, dar afeto à criança para que ela possa crescer com sentimento de segurança e pertença a um grupo, neste caso, à família ou à sociedade onde ela está inserida. Só seremos bons pais se conseguirmos atingir estes dois propósitos, no entanto, a criança à medida que vai crescendo e aproximando da idade adulta vai apercebendo-se que tem livre arbítrio, ou seja, independentemente do sítio onde ela tinha nascido ou da família onde ela cresceu, a criança tem sempre a possibilidade de escrever o seu presente e futuro.
A ideia da conferência passa por ajudar os pais?
Sim. Creio que alguns dos oradores vão dar exemplos práticos e dicas, mas acredito que esta acção vai sensibilizar ainda mais as pessoas a participar na conferência, já para outras será a primeira vez que vão falar sobre este tema de forma específica e podemos estar a agir em dois níveis. A entusiasmar as pessoas que já gostam do próprio tema, isto é, os oradores, e ao mesmo tempo oferecer a outros o conhecimento em torno destas questões.
É da opinião que, enquanto pais, nós sabemos educar os nossos filhos?
Há um provérbio africano que diz que ‘é preciso uma tribo para educar uma criança’. A educação de uma criança é feita com a intervenção de todas as pessoas à volta, não só os pais, mas a escola e a sociedade em geral. Todos nós temos uma grande influência na vida de uma criança, portanto, não são só os pais que estão a educar os seus filhos. Agora, se estamos a saber fazê-lo posso dizer que educamos com as estratégias e as ferramentas que temos. Ainda há pessoas que pensam que tudo se educa, da forma que for, mas está à vista de todos que tudo foi mudando progressivamente nas últimas três décadas. Há aqui uma dificuldade em acompanhar os tempos e de se adaptar às tecnologias, às próprias necessidades dos miúdos e acho que estamos a tentar fazê-lo, porque a mudança foi tão rápida e tão tremenda, dando a ideia que às vezes estamos a tentar apanhar um comboio, portanto, acredito que na maioria dos casos os pais fazem mesmo aquilo que conseguem e o que lhes é possível, com aquilo que sabem.
Pegando nessa perspetiva que deu em relação às tecnologias, assiste-se por vezes alguns pais a entregarem tablets ou telemóveis às crianças para os distrair. É correto?
Não podemos ver as coisas a preto e branco. Há situações em que as crianças ao utilizar o tablet podem estar a aprender, mas existem outros casos em que as famílias vão a um restaurante ou um café e aí é importante guardar-se as tecnologias dentro das malas para podermos apreciar o momento em família. Não sei se faz bem ou faz mal, mas a quantidade de vezes que se dá talvez seja problemática. Em sítios que as crianças não podem brincar, até podemos dar coisas para elas se distraírem, mas também há espaço para conversar ou brincar com jogos de mesa como a forca ou o galo. Aquilo que eu quero dizer é que a mim preocupa-me a quantidade de vezes que se dá e não a situação em si. Tudo com moderação faz sentido, agora quando é excessivo não. Devemos de nos questionar em relação à frequência.
Portanto, o paradigma da educação evoluiu com os tempos?
Claro. Não se pode educar como antigamente. O 25 de Abril foi celebrado recentemente e posso dar um exemplo. Antes, a melhor posta de peixe era entregue ao pai, porque era o chefe de família. Antigamente os miúdos tinham modelos de obediência em casa, ou seja, a mãe obedecia ao marido e os filhos obedeciam à mãe. Na geração dos meus filhos aquilo que os miúdos vêem é um modelo democrático dentro de casa, portanto, deixam de ter um exemplo do que é obedecer e passam a ser miúdos que nascem numa família que tem uma concepção de valores diferentes. Não é possível educar à maneira antiga, pois quando antigamente o meu pai arregalava-me os olhos eu ficava direita e agora se isso acontece pensamos que ele pode é ter algum problema no olho. O que se mantém igual é a base fundamental que é a família. A estrutura continua a ser a mesma.
Os pais devem ser rígidos? Devemos ou não dar umas ‘palmadas’ para educar?
Não. Primeiro, a agressão física é agressão física, mesmo que se diga que é uma palmada pedagógica. Está prevista na lei como sendo proibida de fazer. Não se pode infligir maus tratos físicos ou psicológicos a quem quer que seja, sobretudo a uma criança. Ponto número dois, existem diversos motivos para dizer não à palmada. Não vou entrar em questões de investigações científicas e os danos que isso pode provocar no próprio desenvolvimento da criança, mas basta dizer que quando um pai dá uma palmada ao filho aquilo que ele demonstra é que perdeu todas as estratégias que tem ao seu alcance para conseguir aquilo que quer que o filho faça. Quando se tem de exercer a autoridade desta forma não estamos muito bem. (...)
Fonte: Dnotícias por indicação de Livresco
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