quinta-feira, 8 de junho de 2017

72% dos alunos retidos no 5.º ano tiveram negativa a pelo menos cinco disciplinas


Quais as disciplinas em que os alunos revelam maiores dificuldades? E aquelas em que obtêm nota “cinco”? Qual a probabilidade de um aluno recuperar uma nota negativa no ano letivo seguinte? Como se comparam as notas de rapazes e raparigas? Que notas conseguem os alunos mais carenciados? Estas e outras questões encontram resposta no estudo “Resultados Escolares por Disciplina – 2.º ciclo”, divulgado em maio pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência. 

Ciências Naturais, Educação Física, Educação Musical, Educação Tecnológica, Educação Visual, História e Geografia de Portugal, Inglês, Matemática e Português são as disciplinas que compõem o currículo do 5.º e do 6.º anos. Para perceber “as circunstâncias em que ocorrem o sucesso e o insucesso escolar no 2.º ciclo” nestas nove disciplinas, o Ministério da Educação mostra as classificações obtidas por todos os alunos matriculados em escolas públicas de Portugal continental, no ano letivo de 2014/2015. 

Além de analisar as pautas finais, em cada ano de ensino, o estudo faz um seguimento dos melhores alunos, os que obtêm “cinco”, entre dois anos letivos consecutivos. Desta forma, percebe-se quantos alunos do 5.º ano conseguem manter a nota no 6.º ano. 

Por outro lado, o Ministério da Educação faz as contas às taxas de recuperação de negativas trazidas do 5.º para o 6.º ano e do 6.º para o 7.º ano, entre os alunos que transitaram de ano. Com base nestes dados, a tutela argumenta que a elevada taxa de classificações negativas em Matemática, associada a uma fraca capacidade de recuperação à disciplina, é prova da “ineficácia da retenção”. 

“Nucleares” causam mais dificuldades
Os resultados não surpreendem. As três disciplinas que já foram consideradas “nucleares” são as que mais dificuldades causam. Começemos pelo 5.º ano, em que 26% dos alunos têm negativa a Matemática, 14% Inglês e 13% Português. As percentagens de chumbos nas três disciplinas pouco diferem no 6.º ano: 30%, 15% e 9%, respetivamente. 

Nas restantes disciplinas há menos insucesso. No 5.º ano e no 6.º ano, a percentagem de negativas em História e Geografia de Portugal é de 12% e de 9% e em Ciências Naturais é de 8% e 9%. No 5.º ano, 4% dos alunos tiram negativa em Educação Visual, Educação Musical e Educação Tecnológica, no 6.º a percentagem varia entre os 3% e os 2%, e apenas 2% dos alunos chumbam em Educação Física nos dois anos de ensino. 

Olhando para o total de classificações, os resultados mostram que 63% dos alunos do 5.º e do 6. ano passaram de ano, designadamente para o 6.º e 7.º ano, sem negativas. Já 16% transitaram com uma negativa. Poderão ter passado de ano ou não, dependendo das decisões do conselho de turma, 11,5% de alunos com duas negativas e 9,5% com três ou mais negativas. Dito de outro modo, mais de um terço dos alunos que frequentaram o 2.º ciclo no ano letivo de 2014/2015 chumbaram em pelo menos uma disciplina.

“Curiosamente”, diz o Ministério da Educação, apesar de as negativas a Matemática e Inglês serem mais frequentes, “onde uma maior proporção de alunos revela dificuldades sérias”, ambas as disciplinas têm também a sua quota parte de excelentes alunos, com classificação “cinco”. 

Quais as diciplinas de nota “cinco”?
As notas variam numa escala de 1 a 5 valores, no 2.º ciclo, o que permitiu ao Ministério da Educação analisar não apenas os casos em que o aproveitamento escolar é insuficiente, mas também em que é excelente. 

Quais as disciplinas em que os alunos tiram mais notas “cinco”? Tanto no 5.º, como no 6.º ano a resposta é a mesma: Educação Musical foi a disciplina em que uma maior percentagem de alunos, 24%, alcançou a classificação máxima. Os dados mostram também que bastantes alunos obtêm “cinco” Educação Física, Educação Visual e Educação Tecnológica. 

Olhando, agora, para os resultados excelentes nas disciplinas em que se registam mais negativas, vê-se que tanto no 5.º como no 6.º anos é mais frequente encontrar alunos com nota “cinco” em que Inglês e a Matemática do que a Português. Apenas 9% e 7% dos alunos conseguem nota máxima no 5.º e no 6.º anos em língua materna. Em Inglês, a proporção de alunos com nota “cinco” é bastante mais elevada: 17% no 5.º ano e 15% no 6.º ano. 

A análise da distribuição das classificações dos alunos, por disciplina, na escala de 1 a 5 valores possibilitou outras descobertas. Como a de que os professores praticamente não dão a nota mais baixa. 

Se o “um” é a classificação mais rara, o “três” é a nota mais comum na generalidade das disciplinas. Exceto em Educação Musical e Educação Física, em que o “quatro” é mais frequente e em que 65% dos alunos ou têm “quatro” ou tem “cinco”, no final do ano. Em Matemática, por exemplo, a percentagem análoga é aproximadamente de 35%. 

Da “nega” à positiva
Existe uma proporção significativa de alunos que passam de ano, com negativa a uma ou a duas disciplinas. A falta de aproveitamento, como foi referido, é mais frequente a Matemática, e em menor percentagem, também em Inglês e em Português. 

“Chegados ao ano seguinte, é natural que estes alunos sintam algumas dificuldades em acompanhar devidamente a matéria das disciplinas que já traziam sem aproveitamento do ano anterior”, explicam os autores do relatório “Resultados Escolares por Disciplina”. 

Esta dificuldade em entender a “nova” matéria, quando a “antiga” não foi corretamente aprendida, acaba por gerar aproveitamento negativo no novo ano de escolaridade. Qual a probabilidade de um aluno recuperar uma nota negativa no ano letivo seguinte? Foi a pergunta a que o Ministério da Educação quis dar uma resposta, analisando as recuperações de negativas no ano seguinte. 

Qual das situações é mais frequente: o aluno conseguir a positiva ou voltar a ter negativa? A resposta varia, consoante a disciplina em causa. Em Educação Tecnológica ou Educação Visual, é muito frequente os alunos obterem positiva no 6.º ano, quando tiveram negativa no 5.º ano. Os dados mostram que 85% dos alunos que trouxeram do 5.º ano uma “nega” a Educação Tecnológica tiveram positiva no ano seguinte. Em Educação Visual, a percentagem de recuperações é também elevada, situa-se em 81%. 

A recuperação é mais difícil quando o insucesso ocorre às disciplinas de Matemática e de Inglês. Só 21% dos alunos que transitaram do 5.º ano para o 6.º ano com negativa a Matemática alcançaram a positiva nesse mesmo ano. Em Inglês a taxa de recuperação foi de 34%. O que diz o Ministério da Educação sobre estes dados? 

“Estes resultados sugerem que obter uma classificação final negativa a Matemática é um problema mais sério do que obter uma classificação negativa noutra disciplina, pois a probabilidade de posterior recuperação dessa negativa é muito menor.” 

O estudo mostra ainda as taxas de recuperação de negativas dos alunos que transitaram do 6.º ano para o 7.º ano no final de 2013/2014, analisando os resultados que esses mesmos alunos obtiveram no final de 2014/2015. Como o 7.º ano já pertence ao 3.º ciclo, e nem todas as disciplinas do 6.º ano existem no ano seguinte, as comparações do Ministério da Educação cingiram-se às disciplinas de Português, Matemática, Inglês, Ciências Naturais, Educação Visual e Educação Física. 

De novo, “a dificuldade de recuperação de negativas difere muito de disciplina para disciplina”, lê-se no relatório. Alguns exemplos: entre os alunos que passaram do 6.º ano para o 7.º ano com nota negativa em Matemática, apenas 22% recuperaram no final do 7.º ano. Em Inglês, a mesma percentagem de recuperação de negativas foi de 40%. E em Português, 45% dos alunos conseguiram recuperar e acabar o 7.º ano com positiva. No extremo oposto, em Educação Visual e Educação Física, 78% e 76% dos alunos conseguiram recuperar a negativa trazida do 6.º ano. 

Recuperação entre os “repetentes”
A informação recolhida pela tutela mostra que entre os alunos que chumbaram em 2014/2015, e que representam 10% do total de alunos do 2.º ciclo, a recuperação é ainda mais difícil. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, tem argumentado que a retenção é um dos principais focos de preocupação do sistema educativo português. 

Dos alunos do 5.º ano que não transitaram para o 6.º ano no final de 2014/2015, cerca de 43% tiveram nota final negativa a seis ou mais disciplinas. Somando estes aos alunos que chumbaram com cinco negativas, percebe-se, segundo o Ministério, que “uma esmagadora maioria” de 72% dos alunos retidos no 5.º ano tiveram negativa em pelo menos cinco disciplinas. Para os responsáveis pela Educação, isto significa que “entre quem chumba no 5.º ano, as dificuldades escolares são generalizadas”. 

Apenas 7% dos alunos retidos neste nível de escolaridade, em 2014/2015, tinha negativa a três disciplinas e, por isso, estava no limiar de mínimo de negativas a partir do qual os conselhos de turma, por norma, decidem chumbar o aluno. “O que mostra que existem relativamente poucas retenções à tangente”, esclarece o relatório. 

No caso dos alunos retidos no 6.º ano de escolaridade, o cenário é muito semelhante. Ainda assim, são mais frequentes as retenções “marginais”, ou seja, com duas e três negativas. De notar, em matéria de chumbos, que o aluno fica reprovado com negativa a duas disciplinas se estas forem em simultâneo Português e Matemática. 

As reprovações no 6.º ano com negativa em cinco ou mais disciplinas representam 47% do total de retenções, uma percentagem relativamente inferior aos 72% observados no 5.º ano. As disciplinas com aproveitamento insuficiente entre os alunos que chumbaram no 5.º e no 6.º ano são sobretudo a Matemática, o Inglês, o Português e a História e Geografia de Portugal. 

Rapazes e raparigas 
Os desempenhos escolares das raparigas são bastante superiores aos dos rapazes, em praticamente todas as disciplinas consideradas no estudo, exceto a Educação Física. Seja em Matemática, ou Inglês, Ciências Naturais ou Educação Musical, seja no 5.º ou no 6.º ano, há sempre mais notas negativas entre os rapazes. Mas o fosso é “particularmente largo” na disciplina de Português, diz o relatório. No 5.º ano, tiram negativa nesta disciplina 17% dos rapazes, contra 8% das raparigas; no 6.º ano, 13% dos rapazes e 6% das raparigas. 

As raparigas voltam a ganhar na percentagem final de “quatros” e “cincos”, tanto no 5.º como no 6.º ano, exceto na disciplina de Educação Física, na qual mais rapazes do que raparigas obtêm as pontuações máximas. 

O estudo faz ainda uma análise das classificações por disciplina tendo como critério o facto de o aluno ser ou não beneficiário dos apoios da Ação Social Escolar (ASE). A comparação realizada foi semelhante à efetuada entre rapazes e raparigas. O apoio ASE, recorde-se, está dividido em dois escalões: o A corresponde a dificuldades económicas severas e o B a carências mais ligeiras. 

Considerando as duas disciplinas geradoras de maior percentagem de notas negativas no 2.º ciclo, os dados mostram, por exemplo, que 44% dos alunos do 5.º ano com nota final negativa a Matemática estão no escalão A, 28% no escalão B e apenas 16% não são beneficiários de apoios. Relativamente às negativas em Inglês, a distribuição é semelhante: 25% dos alunos estão no escalão A, 14% no B e 7% não têm escalão. 

Mas há mais exemplos: no 6.º ano, 48% dos alunos com negativa a Matemática estão no escalão A, 32% no B e 20% não são beneficiários. Em Inglês, 26% dos alunos com negativa no final do ano estão colocados no escalão A, 17% no B e 9% não têm ASE. Nas restantes disciplinas, tanto no 5.º como no 6.º ano, a distribuição segue o mesmo sentido: mais negativas entre os alunos beneficiários e muito menos entre os não beneficiários. 

Na leitura feita sobre os dados recolhidos, o Ministério da Educação realça que “não deixa de impressionar a regularidade e a intensidade da correlação entre as classificações dos alunos nas disciplinas e o seu contexto económico”. Efeitos “muito marcados” sobretudo em Matemática, Inglês, História e Geografia de Portugal, Português e Ciências Naturais, e “um pouco mais suaves” em Educação Musical, Educação Visual, Educação Tecnológia e Educação Física. 

“Parece ser inegável que, em Portugal, o sistema educativo terá de continuar a trabalhar para que a escola pública cumpra o seu papel nivelador de oportunidades entre alunos oriundos de diferentes estratos socioeconómicos”, lê-se no estudo.

Fonte: Educare por indicação de Livresco

Sem comentários: