segunda-feira, 19 de junho de 2017

Os cães que ajudam os seus filhos a ler (e não só)

Acha que o seu filho está a ter problemas na leitura? É tímido, introvertido ou ansioso? Cães com um treino especial podem dar uma ajuda. O método inovador foi trazido para Portugal pela Cães&Livros R.E.A.D. Portugal.

Em julho de 2015, o programa R.E.A.D. (Reading Education Assistance Dogs) chegou a Portugal, pela mão da Cães&Livros e pelas patinhas do Bagas. Esta é a única entidade autorizada pela ITA (Intermountain Therapy Animals) a desenvolver o programa em Portugal.


A ITA é uma organização sem fins lucrativos especializada em terapia assistida com animais. Em 1999, lançou o R.E.A.D., o primeiro programa que, com a ajuda de cães, ajuda crianças a desenvolver as suas capacidades de leitura. Em muitos casos, isso passa por pedir às crianças que leiam, em voz alta, (exclusivamente para os cães). Os cães não julgam e, apesar de não compreenderem, são ótimos ouvintes.

O R.E.A.D. já se espalhou por vários países em todo o mundo. Desde o Canadá até à África do Sul, passando por Espanha, Reino Unido ou Alemanha, entre outros.
A quem se destina?

Principalmente, a crianças com dificuldades de leitura e de aprendizagem.

Com a presença dos cães podem libertar-se do receio de ler em voz alta e ganhar mais autoestima e confiança naquilo que são capazes de fazer. Mas os benefícios da interação dos mais pequenos com os animais vão além da leitura.

As crianças que sofrem de défice de atenção ou têm necessidades educativas especiais também se poderão libertar de alguns medos e elevar a sua autoconfiança através da interação direta com os animais. A ideia é que, ao ler para os cães, as crianças vão sentir-se mais confiantes para melhorar a leitura e evitar esbarrar nas dificuldades iniciais, por vezes embaraçosas.


Não há nenhuma cura na Cães&Livros, por exemplo, para a dislexia. Mas, as crianças disléxicas, ao trabalharem com os cães, poderão trabalhar algumas capacidades e superar medos e receios”, disse Cristina Lopes, em conversa com o Observador.
Há estudos que sustentem a ideia?

Sim, os benefícios da Terapia Assistida com Animais estão comprovados cientificamente.

Estudos como os da Pet Partner afirmam que as interações entre os seres humanos e os animais, mesmo que não sejam cães, trazem vantagens positivas para a saúde.

Andrea Beetz, em 2012, comprovou que a presença de um animal poderia reduzir os níveis de stress do ser humano, deixando-o mais relaxado e descontraído. E Erika Friedman, em 1988, comprovou que as interações entre humanos e animais poderiam ter repercussões positivas no alívio da tensão arterial.

A Cães&Livros está a ser a base de uma tese de Doutoramento em Ecologia Humana na Faculdade de Ciências Sociais e Políticas (FSCH), da Universidade Nova de Lisboa.

O estudo tem como objetivo avaliar se há espaço, dentro do ensino português, para inserir programas de Terapia Assistida com Animais, como é o caso da R.E.A.D.

Uma turma do 2.º ano da escola EB1 Terra dos Arcos, na Amadora, Lisboa, foi o alvo do estudo. As crianças foram divididas em grupos, consoante os seus níveis de leitura. As crianças que foram acompanhadas pela Cães&Livros foram mais tarde comparadas às que não tiveram este acompanhamento, de forma a avaliar as diferenças entre quem aprendem a ler com a presença de um animal e quem o faz com um adulto.

Os resultados do estudo ainda não foram publicados.

Mas as coordenadoras do projeto, Cátia Lopes e Cristina Lopes, garantiram numa sessão do Laboratório de Conhecimento Interdisciplinar, na FSCH, que os resultados do programa R.E.A.D. em Portugal, ao fim de um ano (e de 28 sessões realizadas semanalmente), são notórios.

Duas crianças tinham muito medo de cães no início, mas agora já superaram isso totalmente”, contou Cátia Lopes.

Mas porquê os cães?
  • Não julgam, nem criticam as crianças;
  • São uma figura menos intimidante do que um adulto;
  • Deixam que a criança leve o seu tempo e prossiga o seu caminho;
  • São obedientes, atentos e respeitadores;
  • Não causam stress.
Os cães utilizados no projeto recebem um treino especial, sendo expostos a diferentes ambientes (por exemplo: aeroportos), onde podem aprender a lidar com a sua própria ansiedade.

Assim, quando são levados até às escolas não irão reagir às brincadeiras das crianças, mantendo a calma em todas as situações.

Não levamos os nossos cães ao extremo. Sabemos respeitar as suas necessidades e o seu cansaço. Eles não trabalham para nós, trabalham connosco e são respeitados”, afirmaram as coordenadoras da Cães&Livros.
Quem trabalha com os cães?

A Cátia Lopes e a Cristina Lopes são as coordenadoras da Cães&Livros.

São também elas que integram as três equipas que estão agora no ativo. À semelhança dos cães, também receberam uma formação para poder integrar as equipas mundiais da R.E.A.D.

As equipas são formadas pelo seu cão e o respetivo guia, que não pode realizar uma sessão sem o cão ao qual está “filiado”, assim como o cão não o pode fazer sem o seu guia.

Se eu quiser pegar no cão da Cátia e realizar uma sessão, não posso. Só posso trabalhar com o meu cão, e a Cátia com o cão dela. As equipas não se separam”, explicou Cristina.

As equipas têm avaliações rigorosas de dois em dois anos.

Com elas trabalham, desde julho de 2016, a Busy, uma cadela border collie com 3 anos, e a Pepper, uma cadela golden retriever com 2 anos. E Bagas, um labrador retriever, que foi o pioneiro do projeto, em julho de 2015.

Atualmente, a Cães&Livros faz projetos de cooperação em escolas, bibliotecas e centros terapêuticos.

Fonte: Observador por indicação de Livresco

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