Por esta altura, muitos pais estão ao mesmo tempo exaustos de cuidar das suas crianças, e tristes por voltar ao trabalho e não passar mais tempo com elas. Uma preocupação comum é a re-adaptação das crianças à escola.
Uma corrente de pensamento em pedagogia lamenta as longas férias de verão. As crianças perdem os hábitos escolares e parte dos conhecimentos do ano letivo anterior por falta de prática. Os professores passam parte do início do novo ano a recuperar os "danos" feitos pelo verão. Para além disso, umas férias longas implicam um ano letivo mais concentrado e por isso apressado. As férias de verão serão também promotoras da desigualdade. As crianças de meios sociais mais favorecidos têm campos de férias e atividades familiares em que o conhecimento é estimulado e aprofundando, que não estão ao dispor dos mais desfavorecidos.
Estes argumentos levam algumas famílias portuguesas a escolher escolas privadas com férias de verão mais curtas. Outros defendem a abolição das longas férias de Verão no sistema público.
No entanto, não é claro que os argumentos acima sejam relevantes. Outra corrente em pedagogia fala da importância das crianças terem tempo para brincar livremente, sem supervisão. Estes tempos estimulam a criatividade e a independência. Por sua vez, outros notam a importância da diversidade na educação, e o verão oferece o tempo fora do currículo único da escola pública em que pais e crianças podem responder às necessidades específicas da criança. As férias longas podem aliás ajudar a combater a desigualdade, porque são um tempo em que as crianças fazem novos amigos, fora da sua vizinhança.
Nos EUA estas discussões levaram alguns distritos escolares a adotarem calendários "todo-o-ano". O número de dias de aulas é o mesmo, mas existem 4-6 pausas de 4-6 semanas espalhadas durante o ano. Isto permite-nos estudar o efeito das férias de verão. Uma dificuldade, no entanto, é que os distritos que escolhem estes calendários alternativos talvez sejam aqueles que sabem que iriam beneficiar com eles. Mas, se impuséssemos a mesma medida a todos, os efeitos até podiam ser negativos.
Um conjunto de economistas olhou para o efeito do calendário todo-o-ano num distrito da Carolina do Norte que o impôs, não por escolha pedagógica, mas porque teve um aumento rápido no número de alunos. Dividindo os alunos em diferentes turmas com férias curtas em alturas diferentes, o mesmo edifico escolar pode acolher mais 20-30% de alunos com o calendário todo-o-ano. Comparando os alunos desse distrito com colegas que moram uma rua ao lado num distrito que não teve de fazer esta mudança, podemos aprender o efeito das ferias de verão
Os resultados são claros: as férias de verão não têm efeito no desempenho escolar dos alunos. Nem em média, nem na desigualdade entre grupos. Talvez todos os argumentos acima se cancelem mutuamente. Talvez nenhum deles seja válido. Seja como for, esta é uma preocupação a menos para os pais. Gozem o resto das férias.
Ricardo Reis
Fonte: Dinheiro Vivo por indicação de Livresco
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