quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Trabalho infantil aumentará em Portugal

O investigador Pedro Goulart alerta que a "crise actual vai conduzir, no curto prazo, a um aumento do trabalho infantil em Portugal, provocando efeitos negativos no sucesso escolar".


Numa conferência na Universidade do Minho Pedro Goulart estabeleceu, por outro lado, uma relação entre o trabalho infantil em Portugal e a situação de crise a que se chegou.
Nos estudos que realizou em parceria com Arjun S. Bedi, o investigador verificou que "nos anos 70 há um abrandamento da redução da taxa de trabalho infantil com o surgimento de muitas pequenas empresas de cariz familiar", nomeadamente ligadas aos setores têxtil e do calçado.
Essas empresas "tiveram uma viabilidade de curto prazo, porque tínhamos salários muito baixos comparativamente aos nossos parceiros europeus" e parte do trabalho "nem sequer era remunerado, porque realizado por familiares e filhos", lembrou.
Com a abertura dos mercados, primeiro a Leste e agora à China, Portugal deixou "de ser competitivo e essas pessoas ficaram sem trabalho, nem forma de o encontrar, por falta de qualificações".
"As crianças, que nessa altura trocaram a escola pelo trabalho, estão hoje em dia, na sua maioria, numa situação de pobreza", resumiu. Por isso, o investigador alertou que o trabalho infantil vai crescer no curto prazo por causa da crise, "especialmente nas famílias com terras, em que os filhos vão ter de trabalhar antes de irem para a escola". Situação que "vai ter efeitos negativos no sucesso escolar, como está provado" nos estudos já realizados, antecipou.
Como soluções para o problema, Goulart refere a necessidade de "iniciativas que mantenham e atraiam os adolescentes à escola". O emprego de crianças e jovens diminuiu radicalmente de 1950 até à actualidade, como reflexo das transformações económicas e sociais de Portugal. Nos anos 50, a taxa de trabalho infantil era na ordem dos 60 por cento. Uma década depois tinha caído para 50% e no final dos anos 70 andava à volta dos 35%. Na viragem do milénio, "8 a 12% das crianças ainda declaravam algum tipo de atividade, a qual tinha efeito negativo no sucesso escolar, mesmo sendo apenas uma hora de trabalho diária", confirmou Pedro Goulart.
 A actividade económica de jovens com menos de 16 anos em Portugal "é maioritariamente a ajudar a família, numa posição subserviente, sem remuneração e com saberes muito diferentes e por vezes antagónicos à escola", referiu. Os dados contrapõem-se aos de outros países mais escolarizados -- com uma expansão da escolarização menos recente - e onde adolescentes exercem atividade do tipo "empreendedor", afirmou o investigador. Pedro Goulart é doutorando na Universidade Erasmus de Roterdão, tendo já dado aulas ao nível de licenciatura e mestrado. Faz investigação sobre economia do trabalho e da educação e história económica, com realce para o trabalho infantil e a escolaridade em Portugal.

2 comentários:

Anónimo disse...

E não se esqueçam que vai haver muitos alunos, à semelhança de antigamente, que ficam privados de estudar porque os pais não têm condições económicas.

nelya disse...

Já se notam carências alimentares nalguns alunos, agora imaginem se deixarem de ser subsidiados...penso que vai ser crescente o abandono escolar. Com a barriga vazia não há escola que nos valha por melhor que seja....