Incluir os alunos da licenciatura de Linguagem Gestual Portuguesa nas actividades extra-curriculares da Universidade Católica (UCP) foi o ponto de partida. O exemplo dado pela série norte-americana "Glee" - transmitida em Portugal no canal Fox Life - num dos episódios da primeira temporada, foi a inspiração.
A coordenadora do curso do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UCP, Ana Mineiro, enviou em abril do ano passado um email à diretora e ao maestro do coro da Universidade com um vídeo em que um grupo interpretava a música de John Lennon "Imagine", acompanhado por alunos surdos.
Na mensagem eletrónica lançava um desafio: "o que acham de fazermos o mesmo?". Ana Mineiro explicou à Lusa que "é importante as pessoas entenderem que estes alunos podem ser integrados também nesta dimensão, que podem cantar tal como os ouvintes, mas que cantam com as mãos e não com a voz".
"O facto de não haver audição não implica que não haja competência do movimento do corpo que permite fazer ritmos. É uma questão de informar o corpo dessas pessoas das regras do movimento, para que ele surja. O prazer que dá aos ouvintes cantar é exatamente o mesmo que dá ao surdo fazer a melodia do corpo", referiu o diretor do ICS da UCP, Alexandre Castro-Caldas.
Surpresa geral
O desafio de Ana Mineiro foi abraçado pelo coro, que ficou surpreendido com o resultado final. "Foi uma surpresa para todos. No primeiro ensaio em que nos juntámos ficámos tão estupefactos com o que o coro de surdos estava a fazer que nem conseguimos cantar, não entrámos a tempo", recordou a diretora, Rita Ferreira Fernandes.
O maestro, Rui Peixoto, partilha da mesma opinião. "Foi uma surpresa e um grande desafio para todos", disse, revelando que, como a experiência "resultou muito bem" há "projetos para o futuro com outras peças e outro tipo de participação".
A primeira atuação do coro que mistura ouvintes e surdos decorreu na festa de Natal da UCP, a segunda foi na quinta-feira passada nas cerimónias do dia do ICS.
Os ensaios tiveram de começar separados "para que [os alunos surdos] aprendessem a música através do ritmo e das direções que o maestro lhes ia dando", lembrou Rita Ferreira Fernandes.Antes da primeira apresentação bastaram dois ensaios em conjunto.
Para Carlos Martins, solista, integrar o coro é uma forma de ter "um estatuto de igualdade" e espera que no futuro iniciativas deste género se estendam a todo o país.
Aprender a música "foi fácil" para este aluno da licenciatura de Linguagem Gestual Portuguesa.
"O maestro tem connosco um código visual, que acompanhamos. Além disso, as pessoas surdas têm uma noção de ritmo e melodia e é só incorporar isso. É fácil", disse em língua gestual, traduzido para a Lusa pela intérprete do coro.
O diretor da UCS lembra que "a música faz parte do organismo" e, por isso, basta estimular o ritmo de quem, não a conseguindo ouvir, sente-a.
Notícia com vídeo em Expresso online.
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