Uma exposição de fotografia dirigida a pessoas invisuais parece ser uma brincadeira de mau gosto. Mas está bem longe de o ser.
A mostra «Fotografia em Relevo», de Paulo Abrantes, foi especialmente criada para este público e pode ser visitada no edifício da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA) até ao dia 29 de Outubro.
A mostra «Fotografia em Relevo», de Paulo Abrantes, foi especialmente criada para este público e pode ser visitada no edifício da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA) até ao dia 29 de Outubro.
O fotógrafo usou uma técnica que assenta em imagens a preto e branco e recorre a um papel especial que adquire relevo ao ser impresso. O preto corresponde às zonas com maior relevo e o branco à ausência deste, com os cinzentos a adquirir alturas diferentes, conforme a sua intensidade. A legenda da fotografia também está inscrita em Braille.
A iniciativa foi lançada no Dia Mundial da Visão, que se celebra a 8 de Outubro. Numa sessão muito participada, já que foram muitos os alunos da Universidade do Algarve presentes, Paulo Abrantes, que já há cerca de seis anos se dedica a projectos nesta área, foi muito crítico no seu discurso.
Segundo o fotógrafo, quando revelou a sua ideia ao mundo, apenas foi incentivado a avançar pela Acapo-Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal. «Se não fosse a Acapo, nada disto existia», garantiu.
Paulo Abrantes, ainda que sem lançar nomes, disse que, quando deu a conhecer a ideia, não viu «grande entusiasmo das pessoas ligadas à fotografia, arte e cultura», nem «por parte das entidades». Mais tarde, acabou por encontrar um entusiasta no comissário de Coimbra Capital da Cultura 2003, que lhe abriu as portas do evento. Esteve também na Faro Capital da Cultura, em 2005, com a sua mostra «Luz Táctil».
O facto de, por ocasião da inauguração desta exposição, estarem juntos na mesma sala os responsáveis pelo Governo Civil, pelas direcções regionais de Educação e de Cultura e pela Administração Regional de Saúde do Algarve (ARSA), esta última a organizadora do evento, significa, para Paulo Abrantes, «que algo já mudou no Algarve».
O artista vê as exposições que promove nesta área, que já o levaram a Espanha e ao Brasil, como «uma oportunidade de juntar as pessoas e aproximar a sociedade em geral dos que vivem directamente os problemas da visão e da cegueira». Ricardo Martins, dirigente da Acapo a nível regional, também partilha desta visão. Até porque considera que a associação que representa, «além do dever de reabilitação e integração profissional e social» que tem para com os seus associados, também tem interesse «em estar junto da sociedade em geral».
«É neste tipo de iniciativa que a palavra inclusão está escrita com todas as letras e das quais nos sentimos orgulhosos», revelou. «Eu já vi, em tempos, pelo que tenho noção da imagem. Mas para os que nunca viram, esta é uma experiência que certamente lhes ficará marcada na memória. Será uma oportunidade única para muitos deles», considerou Ricardo Martins.
O presidente da ARSA Rui Lourenço frisou ainda que o entendimento da entidade que dirige, em termos de saúde, «é mais lato do que a maioria das pessoas pensa». «A saúde é também um recurso para o desenvolvimento pessoal e bem-estar da comunidade», considerou.
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