terça-feira, 27 de outubro de 2009

Fiocruz desenvolve exame inédito e mais confiável para autismo


O Brasil está a desenvolver um exame laboratorial inédito para o diagnóstico do autismo , uma alteração caracterizada pelo isolamento do seu portador do mundo exterior. O método promete ser uma alternativa mais confiável aos testes de laboratório hoje utilizados para identificar a doença. "Ainda estamos em fase de estudo, mas os resultados são promissores", diz o investigador responsável, Vladmir Lazarev, do Instituto Fernandes Figueira, centro de pesquisas ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro : "Testámos o método em 16 jovens autistas e obtivemos dados homogêneos, muito significativos estatisticamente. Agora, queremos realizar novos testes. A previsão é de que o exame esteja pronto dentro de cinco anos."
De acordo com Lazarev, cientista russo radicado no Brasil há 15 anos, a vantagem do novo método está no uso da foto-estimulação rítmica. O recurso torna o exame mais completo do que outros. Em linguagem comum: durante o já usual encefalograma (radiografia), projecta-se sobre o paciente uma luz que pisca de forma ritmada, estimulando o cérebro a acompanhar. Como o autismo é uma doença do foro cerebral, a reacção do cérebro ao estímulo luminoso pode indicar um enquadramento, ou não, no campo da doença.
Os 16 autistas examinados no decurso do estudo, apresentaram, por exemplo, uma deficiência no lado direito do cérebro. Na referida área, (responsável pelas habilidades socioafectivas do individuo), a mente dos pacientes seguia o ritmo da luz, mas de maneira mais tímida. "Assim, podemos concluir que existe uma deficiência funcional no hemisfério cerebral direito do autista", explica Lazarev.
Exames de imagem como a encefalografia (radiografia ao cérebro realizada após a retirada de um fluido) ou o próprio encefalograma, se empregados sozinhos, deixam o paciente em estado de repouso. Nesta situação, não se nota nenhuma alteração na atividade eléctrica do cérebro. Os resultados, portanto, nem sempre são satisfatórios.

Diagnóstico complexo:
Os métodos laboratoriais, chamados métodos de típo objectivo, complementam o diagnóstico do autismo realizado clinicamente, quando o paciente (na maioria dos casos, criança) é avaliado por médicos de diferentes especialidades: pediatria, neurologia e fonodiologia, além de psicologia. Ou seja, isoladamente, o parecer deve sempre ser associado aos exames de laboratório. "A dificuldade de diagnosticar clinicamente o autismo deve-se ao facto da doença (um problema neuropsiquiátrico funcional) ter aspectos parecidos com os de outras enfermidades", explica Lazarev. Daí a importância de um diagnóstico objectivo, cada vez mais confiável.

Na grande maioria dos doentes (entre 60% e 70%) existe comprometimento da linguagem, em níveis variáveis. Nos restantes casos (de 30% a 40%), a linguagem e inteligência são normais e, tecnicamente, chamam-se “autistas de alto desempenho”. Embora sejam iguais aos demais na dificuldade de compreender o contexto em que se encontram, emitem menos sinais da doença, que pode demorar a ser identificada e tratada. Este é um factor de risco.

Entendendo melhor a doença:
Segundo Adailton Pontes (parceiro de Lazarev no estudo), hoje o autismo é considerado, não apenas como uma doença, mas também como uma série de distúrbios do desenvolvimento capazes de comprometer a interacção social, a comunicação social e as habilidades imaginativas. "O autismo não é uma coisa única, há várias formas de autismo que variam consoante o grau de comprometimento das funções (mais leve, moderado, mais gráve) e com os diferente níveis de inteligência", diz o investigador.
A base da doença é genética. O papel do ambiente (das influências externas recebidas pelo autista) ainda é desconhecido. "O que se sabe é que a pessoa nasce com uma predisposição para o autismo e, já a partir dos dois anos de idade, pode apresentar os primeiros sinais da doença, como a ausência de linguagem e a dificuldade em brincar", conta Pontes. "O ideal é diagnosticar a doença até aos três anos. Está provado que, quando se faz a intervenção precoce, o prognóstico é melhor. Eles não se vão curar, mas irão desenvolver-se mais, superar algumas dificuldades que outros, sem estimulação, podem não conseguir superar."
O autismo não tem cura, mas o portador da doença pode tomar medicamentos contra sintomas específicos, como a agressividade.

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