segunda-feira, 20 de maio de 2024

EU SOU DISLÉXICA, E TU O QUE ÉS?… UMA ENTREVISTA COM SARA RAFAELA DUARTE

Como é que descobriste que tinhas dislexia? Como foi detetada?

Através uma professora de 1º ciclo reformada, que outrora teve formação em Dislexia, era amiga da minha mãe e na altura estava-me a ditar um texto para escrever no computador bastou 5 minutos para dizer à minha mãe: “A Sarinha é Disléxica!”

O que é que sentiste ao descobrires que tinhas dislexia?

Bem… um misto de situações, percebi a razão dos erros repetitivos que não tinham fim, e senti como “uma luz ao fundo do túnel”, uma explicação válida que me levava a um nível de autocompreensão mais profundo, sem esquecer que surgiu uma pequena esperança que os meus sonhos podiam virar realidade.
Quais eram/são as tuas principais dificuldades?

Dava imensos erros, não conseguia diferenciar sons, escondia de todos que confundia a direita e a esquerda em mim quanto mais nos outros, ler era mau e horrível em público.

Que estratégias arranjaste para as superares?

Comecei por estabelecer objetivos, a comprometer-me comigo mesma de que ia à “luta”, a aplicar métodos de estudo que diziam que resultavam, não abdiquei nem por um segundo das atividades extracurriculares (natação e conservatório de música) que me faziam sentir viva.
Os primeiros resultados não foram de todos os esperados, mas a minha mãe sempre me disse deste o teu melhor, e para próxima vai correr melhor é continuar e continuei e os resultados vieram.

Alguma vez sentiste que as tuas dificuldades eram desvalorizadas? Se sim, por quem? Como é que isso te fazia sentir?

Imensas vezes, pelos meus amigos, por alguns professores que claramente hoje vejo que não entendiam o que era a Dislexia.
Senti-me péssima, das piores coisas de sempre, era como me roubassem a alegria de viver, e só tivesse motivos para chorar.

Alguma vez sentiste que eras desvalorizada, por teres essas dificuldades?

Sim, um bom exemplo disso foi após a conclusão do 9ºano a Diretora de Turma disse à minha mãe que não tinha capacidades para seguir o Ensino Regular, para ir para o Profissional.

Houve alguém que influenciou o teu percurso?

Graças a Deus não houve só uma pessoa, tive várias pessoas que foram surgindo na minha vida que as palavras delas era como sementes de motivação plantadas na minha vida. Aqui destaco a minha família, muito na pessoa da minha mãe, porque sempre ambicionou que os filhos fossem além do que os pais dela deixaram, nunca, mas nunca deitou os braços abaixo, e depois também tive amigos, Professores ensino regular e Ensino Especial, Tutores, explicadores, e claro não posso deixar de referir a mulher que em 1ª mão me disse, quando me avaliou aos 11 anos, que eu era capaz de ir para a Universidade: a Doutora Helena Serra, uma verdadeira inspiração não só em termos profissionais.

Manténs esse apoio? Qual é, para ti, a importância desse apoio?

É engraçado a pergunta porque hoje não tenho mais esses apoios, mas posso dizer que os que tive foram muito importantes mesmo, permitiram-me desenvolver muito bem gatilhos e escapes aos meus problemas até diários, a desenvolver uma mente positiva baseada em fé e em esperança a aproveitar cada palavra de afirmação para relembrar nos momentos menos bons.

Que conselho darias ao encarregado de educação de uma criança com dislexia?
Não desista nunca dela, e lhe garanto que ela nunca vai se esquecer nem de si, nem do que fez. Invista no que poder nem que seja só em tempo de qualidade e um bom ouvido para ela desabafar, seja o abraço mais caloroso dela.
E no dia que duvidar não lhe conte, deixe-a acreditar e lutar porque realmente tudo mas tudo é possível quando acreditamos.

Que conselho darias a uma criança com dislexia?

Sabias que és muito inteligente mesmo que não te sintas assim, sabias que com a tua vontade e determinação podes viver o que idealizas, então sê forte e corajosa e luta por tudo o que acreditas aplica-te sem precisares de dizer aos outros o quanto trabalhas em casa. Se ainda não vês resultados, não desanimes, persiste, insiste e vais ver que consegues tudo o que ambicionas.

Como é que surgiu a ideia de escreveres um livro?

Na verdade, mesmo sendo disléxica sempre gostei de escrever e por isso ter sempre muitos mas muitos erros diferentes e iguais chegava a fazer composições 5 a 10 paginas tamanho A5 com apenas 7/8 anos, depois aos 20 anos fui convidada a estar numa partir conferencia intitulada “Dislexia: Dificuldade e Dons” surgiu logo titulo e como o queria fazer.

Qual é a influência da dislexia na tua vida?

A Dislexia é como uma cicatriz ainda tenho algumas marcas, mas já não é nenhuma ferida, já foi tratada e agora faz-me muito mais forte do que antes, com áreas que para minha idade já estão mais desenvolvidas do que esperado, atrevo-me a dizer que hoje é empoderamento pessoal.

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