Os últimos 10 anos têm mostrado que os alunos gostam menos de ler. Será que também leem menos horas? As conclusões retiram-se das respostas dos alunos de 15 anos que têm participado nos testes do Programme for International Students Assessment (PISA), realizados a cada quatro anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Tal como em anos anteriores, o questionário contextual do PISA 2018 perguntou aos alunos quanto tempo costumam passar a ler livros, revistas, jornais, sites, blogues e emails para se divertirem. Entre 2000 e 2009, o tempo passado a ler por prazer diminuiu, mas aumentou – ainda que lentamente – entre 2009 e 2018. O que contrasta com a diminuição do prazer da leitura, entre 2009 e 2018.
Na Áustria, Hungria, Portugal, Sérvia e Tailândia – bem como em média na OCDE – os alunos mostraram significativamente menos prazer a ler, mas mais horas de leitura em 2018 por comparação a 2009. Para os autores do relatório 21st-Century Readers: Developing Literacy Skills in a Digital World, divulgado em junho deste ano, “esses resultados sugerem que menos horas de leitura estão associadas a menos prazer, ou nenhuma mudança, enquanto longas horas de leitura nem sempre se traduzem em mais prazer”.
Os alunos relataram ler menos por lazer e também ler menos livros de ficção, revistas ou jornais porque querem, por oposição a terem que ler. Em vez disso, “os alunos leem mais para satisfazer necessidades práticas e leem mais online na forma de chats, notícias online ou sites com informações práticas”, aponta o relatório. Uma realidade, explica a OCDE, que está “provavelmente associada a mais tempo gasto a ler e à estagnação do prazer”.
As respostas dos alunos ao PISA 2018 mostram que não só o prazer de ler, como o formato de leitura - papel ou digital - podem influenciar o quanto gostam de ler. Mas estes não são os únicos fatores: “a experiência anterior de leitura e os ambientes de aprendizagem em casa e na escola também afetam o prazer de leitura”, sublinham os autores do relatório.
Envolvimento e desempenho na leitura estão intimamente dependentes. A OCDE cita vários estudos que reforçam precisamente esta ideia. “Os alunos que leem regularmente para se divertir têm mais oportunidades de melhorar as suas competências de leitura por meio da prática.” Mas, se ler por prazer melhora a leitura, “alunos com dificuldades sentem-se menos competentes e ficam menos motivados a ler por prazer”, alertam os autores do relatório 21st-Century Readers: Developing Literacy Skills in a Digital World.
No PISA 2018, um em cada quatro (28%) alunos “concordou” ou “concordou fortemente” que “ler é um desperdício de tempo”. No entanto, “o índice de prazer de leitura pode ser particularmente sensível a diferenças culturais no estilo de resposta. Portanto, as comparações dentro dos países são mais aconselháveis do que a comparação entre os países”, ressalva a OCDE.
Em todos os países e economias que participaram no PISA em 2018, as raparigas relatam níveis muito mais elevados de prazer na leitura do que os rapazes. O género, todavia, não é o único fator que mostra diferenças no índice de prazer de leitura dentro dos países. As origens socioeconómicas são outro fator: os alunos mais favorecidos leem mais por prazer.
Papel ou digital
Os alunos que dizem ler com mais frequência livros em papel do que digitais têm melhor desempenho na leitura e passam mais tempo a ler por prazer. Comparados com os alunos que raramente ou nunca leem livros, os leitores de livros digitais nos países da OCDE leem por prazer cerca de três horas a mais por semana. Já os leitores de livros impressos leem cerca de quatro horas. Os que equilibram os dois formatos cerca de cinco horas ou mais por semana. Os dados foram obtidos depois de controladas as variáveis relativas ao contexto socioeconómico e ao género.
Apenas 8,7% dos alunos nos países da OCDE conseguem desempenhos elevados (níveis 5 ou 6) no teste de leitura do PISA. Isto significa que compreendem textos extensos, lidam com conceitos abstratos ou contraintuitivos e estabelecem distinções entre facto e opinião com base em pistas implícitas no conteúdo ou relacionadas com a fonte da informação.
Cerca de 49% dos alunos nos países da OCDE “leem apenas se for necessário”. No PISA de 2000 eram 36%. Um em cada três alunos “raramente ou nunca” lê livros. Também um em cada três afirma ler com mais frequência em papel do que em formato digital. Cerca de 15% afirma o inverso: lê mais em dispositivos digitais. Leem nos dois formatos, de forma igual, cerca de 13% dos alunos inquiridos.
Ora, comparados aos alunos que raramente ou nunca leem livros, os alunos que leem com mais frequência livros em papel pontuam mais 49 pontos nos testes de leitura; os alunos que leem com mais frequência livros em dispositivos digitais pontuaram apenas 15 pontos a mais.
O relatório conclui ainda que os alunos que leem livros em dispositivos digitais são, com mais frequência, propensos a terem uma origem imigrante e uma condição socioeconómica desfavorecida. Assim acontece em 20% dos alunos imigrantes em comparação com 14% dos alunos não imigrantes e a 16% dos alunos desfavorecidos, por comparação a 13% dos alunos favorecidos. O formato digital também é mais usado entre rapazes (15%) do que raparigas (14%).
Hábitos de leitura
“O prazer da leitura é importante para ajudar os alunos a desenvolver competências de leitura”, razão pela qual a OCDE está preocupada com a diminuição significativa do índice de prazer da leitura registada entre 2009 e 2018 em um terço dos 70 países e economias participantes no PISA. “Essa queda na valorização da leitura pode afetar as competências de leitura e a equidade, visto que o prazer da leitura medeia a relação entre contexto socioeconómico e desempenho em leitura.”
Contrariar esta tendência passa por dar às crianças e aos jovens o exemplo do que é ser leitor. O relatório 21st-Century Readers: Developing Literacy Skills in a Digital World implica não apenas os professores como também os pais nesta tarefa. Ambos são “modelos importantes para os hábitos de leitura”.
No PISA 2018, os alunos cujos pais gostam de ler têm um índice mais alto de gosto de leitura. Um aumento de uma unidade no índice de prazer de leitura dos pais está associado, em média, a um aumento de 0,05 no prazer de leitura dos rapazes e 0,11 das raparigas. Em média, nos países da OCDE, os alunos que falam com seus pais sobre o que leem ou vão com eles a uma livraria ou biblioteca, pelo menos uma vez por semana, têm um índice de prazer de leitura mais alto em 0,13 e 0,10, respetivamente.
“Os pais desempenham um papel crucial na transmissão de atitudes positivas em relação à leitura em casa, desde a infância. As atividades do dia a dia que os pais realizam estão altamente correlacionadas com a aprendizagem inicial e o desenvolvimento socioemocional das crianças”, lê-se no relatório. Atividades como, por exemplo, ler para as crianças quase todos os dias e fornecer-lhes livros. As evidências do PISA sugerem ainda “que os pais que são observados a ler ou que endossam a visão de que a leitura é prazerosa estão associados às atividades de leitura das crianças em casa, à motivação e ao desempenho da leitura”.
Fonte: Educare
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