De uma maneira empírica e quase sempre pouco estruturada na sua concepção e possíveis outcomes, o mentoring começa a ser ouvido como uma “coisa” que se pode fazer nas escolas. Ainda com alguma confusão entre mentorias, coaching e tutorias. Mas começa a ouvir-se aqui e ali a vontade de desenvolver alguns projetos de mentoring.
O mentoring tem a sua génese na aprendizagem holística e direta de um para um, na mitologia grega, com Homero, no livro A Odisseia, quando Ulisses partiu para lutar na guerra de Tróia e deixou o seu filho Telémaco à responsabilidade de Mentor para o cuidar e o orientar tanto a nível pessoal, quer a nível de competências para a vida. Neste tempo, aprendia-se com os mais velhos, considerados mais sábios e hábeis, onde a maturidade e sensatez faziam a diferença. Mentor era conselheiro, professor e tutor de Telémaco. Por volta dos anos 1970, o mentoring emergiu nas escolas de gestão nos EUA, como ferramenta de desenvolvimento de carreira profissional.
A verdade é que se cada um de nós pensar em quem alguma vez na vida o marcou pelo que lhe ensinou, a quem recorre quando a vida aperta, em quem cujos conselhos confia, em quem quando conversa o faz pensar e chegar a boas interrogações e decisões, a quem admira pela sua sabedoria e inspiração, temos aí alguém que alguma vez foi nosso mentor. Que bom será trazer essas pessoas de volta à nossa vida!
Longe de ser uma atuação empírica, ao sabor dos acontecimentos, requer trabalho, estudo, largueza de horizontes, foco na individualidade de cada um, não julgamento, dar contexto e novas perspetivas, a par de uma superior capacidade de escuta, e perguntas desconcertantes, provocadoras e poderosas. Os conselhos e partilha de experiencias vêm ao sabor da conversa, assim como a elaboração de planos de ação, tendo consciência de que se não forem feitos e executados, os objetivos continuaram apenas na esfera dos desejos.
Na atualidade da educação, e não apenas pelo impacto causado pela pandemia, o mentoring assume uma grande importância, como acelerador de desenvolvimento e aprendizagem, trazendo ao de cima o potencial de cada um. É motor de consolidação e confirmação da cultura da escola, trabalhando os gaps geracionais no corpo docente, criando boas sinergias, valorizando e dando à escola a sabedoria dos docentes mais antigos na carreira, a par de capital de motivação, autoconfiança e adaptação a novas situações.
Se conseguirmos pensar nas pessoas que em alguns períodos das nossas vidas, nos transformaram, como seria se as tivéssemos de volta? O que aprenderíamos com elas? O que nos proporcionariam de aprendizagem, motivação e felicidade?
Uma escola com cultura de mentoring preocupa-se com o talento de cada um, com a cultura de escola e com o alinhamento das estratégias com o seu propósito e que não quer desperdiçar boas sinergias na construção de mais potencial e felicidade individual e coletiva. Um programa de mentoring numa escola, desenhado com um propósito claro, apoiado e sustentado pelos seus líderes, num ambiente de verdadeira aprendizagem, faz a diferença pela sua força transformadora, em que todos aprendem, se sentem motivados e comprometidos. Em qualquer organização, quando as iniciativas são apoiadas e facilitadas pelos seus líderes, tem logo à partida mais de 50% de probabilidades de serem bem-sucedidas.
Começam a aparecer referências a programas de mentoring nas escolas. A verdadeira aprendizagem holística e personalizada, com potencial de transformação pessoal, espreita. Temos um novo ano escolar a ser preparado!
O que distinguia as escolas antes da pandemia? Como estão agora todas mais ou menos uniformizadas, públicas e privadas? O que as distinguirá a partir de agora será a força do novo paradigma na educação.
Fonte: Público
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