sexta-feira, 15 de abril de 2016

Professores: as sentinelas dos impérios

Um percurso de vida dedicado à Educação faz-se com amor e responsabilidade. Corre-nos no sangue. Respira-se. Vivencia-se. Começa-se por gatinhar e, passo a passo, bem devagarinho, vamos dando os primeiros passos. Ensinam-nos a ler, a escrever, a contar. Formam-nos. Mostram exemplos. Eles próprios — os professores, os educadores — são o modelo, o padrão, as nossas referências. Aprende-se a aprender e aprende-se a ensinar com os bons… e com os maus.

Com um percurso fortemente acidentado e irregular, conheci vários sistemas educativos, desde o Ensino Pré-escolar ao Ensino Superior, como o francês, o português, o espanhol, o inglês, o suíço, o mexicano, o moçambicano, o equato-guineeense, o cabo-verdiano, não só como aluno, mas como professor e também na qualidade de formador de docentes. Convivo com milhares de profissionais da educação de várias nacionalidades. Observo-os, escuto-os, aprendo constantemente com eles.

Com todos eles, aprendo que neles reside o pulsar de uma nação. Confrontam-se pessoal e profissionalmente, todos os dias, por interação com os seus pares, com os seus alunos, com os órgãos de gestão, com as famílias e com as comunidades onde desenvolvem a docência.

Percorri milhares de quilómetros de estrada, permitindo-me refletir, ponderar as minhas escolhas, de modo a identificar com clareza o meu papel e o valor das minhas atitudes, da minha postura e das minhas capacidades de ajudar, de orientar, de formar alunos e professores. Manter acesa a chama da minha vocação, exigiu estudar mais, ler, pesquisar, investigar e experimentar Aprender constantemente alternativas e buscar novas ideias, novas metodologias.

Um percurso assim, exige que se interiorize um modo de vida, um princípio: “morre e transforma-te”, como diz Christiane Singer. É essencial armar-nos de uma forte capacidade de fazer o luto, de modo a sermos mais felizes e fazer felizes os outros. Sermos capazes de ir fazendo vários lutos de partes de nós próprios e procurarmos a verdadeira essência de nós, procurando abandonar projectos, ideais, sítios ou lugares, opções e escolhas. Recomeçar e fazer mais e melhor. Esta aprendizagem da vida permite-me manter-me disponível e alerta constantemente para mim e para os outros.

Como professor, devo ser capaz de me conservar em contínua e permanente vigia, mantendo-me alerta ao meu posto, tal como uma sentinela. A responsabilidade é enorme e não me permito cerrar os olhos, quando me assumo garante da felicidade, do bem-estar e do crescimento de outros seres, que dependem da minha eficiência, da minha capacidade de promover o sucesso, a integridade, a segurança, o conhecimento e a motivação para as aprendizagens de cada criança, jovem ou adulto.

É na expressão de Saint-Exupéry que encontro a valiosa metáfora para a responsabilidade, o dever, o amor que cada professor possui em si para mudar — a si próprio, em primeiro lugar! — e aqueles que o rodeiam: “cada uma das sentinelas é responsável por todo o império”.

Este papel de sentinela é ainda uma esperança para cada escola, cada comunidade, cada país. Este sentido de elevada responsabilidade do Professor deve ser visível através do seu percurso de vida, do seu próprio exemplo, conduzido pelo seu dever e a sua digna missão perante a sociedade, o seu país, mas, sobretudo, por cada criança e jovem que diariamente conta com ele para aprender, crescer e viver.

Cabe a cada professor assumir-se como o garante, o vigia, a sentinela ideal para os impérios de que é responsável.
João Paulo Santos

Professor | Especialista em Tecnologias Educativas

Fonte: I online por indicação de Livresco

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