sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Manifestação de pais de alunos com necessidades educativas especiais surtiu efeito antes mesmo de acontecer

Bastou aos pais dos 132 alunos com necessidades educativas especiais anunciarem a realização de uma manifestação para que antes mesmo de acontecer, fosse dada “luz verde” ao Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital para proceder à colocação dos três professores de ensino especial em falta.
Pais e encarregados de educação dos 132 alunos com necessidades educativas especiais cumpriram, ao final da manhã de hoje, a anunciada intenção de se manifestarem contra a resistência mostrada pelo Ministério da Educação em colocar no Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital os três professores de ensino especial em falta.
Realizada à porta do Agrupamento, a manifestação aconteceu porém com a indicação prévia de que o problema já estaria “ultrapassado”, visto que durante a manhã a escola teria recebido luz verde para dar início ao processo de recrutamento dos três professores de [educação] especial. “Por mais ridículo que pareça, chegou hoje de manhã a informação”, reagiu Ana Lencastre, mãe de um menino com necessidades educativas especiais, a frequentar a Escola do Vale do Alva e que, desde o início do ano, se encontra à espera do necessário apoio especial. “Tem sido muito complicado”, comentou também Graça Silva, uma encarregada de educação que desde o início viu o apoio prestado ao filho reduzido a 50 por cento e com manifestos prejuízos ao nível de comportamento e de aprendizagem.
Pais e mães que, desde o início do ano, se têm desdobrado em contactos com a escola no sentido de verem resolvido o problema que afeta os seus filhos. Bastou, porém, a marcação de uma manifestação à porta da escola, para que, antes mesmo de acontecer, já começasse a surtir o efeito desejado, de colocação dos três professores numa bolsa que conta atualmente com apenas oito docentes.
“O agrupamento está autorizado a pedir recurso humanos. Fui eu que fiz o pedido”, informou esta manhã a delegada regional de estabelecimentos escolares e vereadora do PSD na Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, no decorrer da reunião pública do executivo e à qual acorreu a presidente da Associação de Pais do Agrupamento, acompanhada pelo pai de uma criança com necessidades educativas especiais. Cristina Oliveira assegurou, assim, que a questão está “ultrapassada”, mas não se coibiu em criticar a forma como a Comissão Administrativa Provisória do Agrupamento de Escolas oliveirense geriu a bolsa dos oito professores com que contava.
“Se há escolas que não têm professores deve-se à gestão do agrupamento da bolsa de professores”, observou a responsável regional pela educação e vereadora da oposição no executivo municipal, condenando ainda o que chamou de “aproveitamento político” nesta situação. “Os alunos de educação especial são um público muito sensível , mas o caminho não deve ser por aí. Tudo se resolve, pode é não ser nos timings certos”, continuou Cristina Oliveira dirigindo-se à presidente da Associação de Pais e encarregado de educação presentes na reunião.
A solidarizar-se com os pais ainda antes de tomar conhecimento da informação que mais tarde veio a ser dada por Cristina Oliveira, José Carlos Alexandrino ausentou-se dos trabalhos da reunião para à hora marcada se posicionar ao lado dos pais dos 132 alunos.
“Assistimos a uma tentativa de destruição da escola pública”, denunciou o presidente da autarquia oliveirense, considerando “inadmissível” que se continuem a ver “gestores de colégios privado em grandes carros” e a assistir à “falta de meios nas nossas escolas”. No entender de José Carlos Alexandrino, o ensino está “a caminhar para o caos”, dando como exemplo concreto o processo de agregação de escolas que foi feito por “pessoas que não conhecem o país real”. Solidário com os pais, o autarca está certo de que o problema só foi resolvido devido ao conhecimento prévio da manifestação, pelo que não deixou de lamentar que os problemas se resolvam por via da “pressão”. José Carlos Alexandrino diz mesmo tratar-se de um “país indigno” e em face do mau momento porque estão a passar os alunos e os seus pais, está certo de que “há pessoas com responsabilidade na educação que só têm um caminho a seguir, que é demitirem-se”.
“Felizmente, hoje foi-nos autorizado pedir os três professores”, reagiu também o vice-presidente da CAP do Agrupamento de Escolas que, em todo este processo, louva a atitude dos pais que “tiverem uma postura de grande dignidade e envolveram-se nesta iniciativa que felizmente deu resultado”. De acordo com Luís Ângelo, este era um problema que preocupava a CAP que, desde setembro, “tudo fez para ter os professores a que tinha direito”. “Devíamos ter 11 e apenas tínhamos oito”, contou o responsável que, contrariando as afirmações de Cristina Oliveira em reunião de executivo, assegurou que os oito professores fizeram o possível atendendo à realidade educativa concelhia da qual fazem parte “cinco unidades de gestão num raio de 30 quilómetros”. “Os professores têm-se desdobrado imenso, deslocando-se de um lado para outro e ainda não conseguimos chegar a todo o lado”, continuou Luís Ângelo, assegurando que a situação era do conhecimento da Delegada Regional de Educação que sabia que os horários para os três professores “foram indeferidos por falta de autorização superior”.
A corroborar da preocupação dos pais, Luís Ângelo entende que com os oito professores só seria possível assegurar cerca de uma hora semanal a cada aluno. Uma resposta insuficiente atendendo às necessidades dos alunos. “Nós não podemos brincar à educação especial”, reagiu ainda o responsável, verificando que “quem decide em gabinetes não sabe o que é a realidade”.
As necessidades sentidas pelo Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital não se esgotam na área [da educação] especial. Pais, alunos e professores queixam-se igualmente da falta de psicólogos na escola, visto que atualmente a escola dispõe de um psicólogo com 18 horas atribuídas para um total de mais de três mil alunos.
A discussão em torno da falta de professores de [educação] especial voltou a trazer à tona de água o conturbado processo de agregação de escolas num único mega agrupamento escolar. Uma medida que continua a merecer a oposição do executivo socialista, mas que Cristina Oliveira hoje defendeu em nome da “marca Oliveira do Hospital”.
Comentário:
Ontem, à tarde, fui informado de que tinha sido autorizada a contratação de mais um docente de educação especial. De um total de seis docentes nos últimos anos, para o mesmo número de alunos e a mesma distribuição geográfica de escolas e jardins de infância, passamos inicialmente para três que, segundo consta, alterará para quatro. No entanto, o incumprimento das medidas definidas nos programas educativas individuais, designadamente as hora de apoio, continua a vigorar por falta de docentes. Esta situação é do conhecimento da DGEstE. Será necessário recorrer a uma manifestação?! Passará a manifestação pública a integrar o lote dos requerimentos administrativos?!

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