As interações sociais são cruciais para o desenvolvimento cerebral, cognitivo, social e emocional. Nos contactos sociais, pistas conscientes e inconscientes são recebidas e enviadas, como, por exemplo, o olhar, o tom de voz, os gestos e as expressões emocionais. Neste tipo de situações, os indivíduos tendem a sincronizar automaticamente o seu comportamento, emoções e atividade fisiológica e cerebral.
Interações coordenadas, recíprocas e gratificantes entre dois indivíduos denomina-se “sincronia diádica”. A sincronia não é verbal, é caracterizada por padrões e ritmos relacionais específicos da díade, como o olhar, o sorriso e o toque. Estes padrões e ritmos relacionais são únicos e específicos do cuidador e do seu bebé, sendo mutuamente correspondidos.
Deste modo, a sincronia entre pais e filhos não é simplesmente espelhar comportamentos das crianças, mas sim uma “dança” que ocorre durante interações lúdicas e que envolve a correspondência do comportamento, de estados emocionais e de ritmos biológicos entre os pais e as crianças. A sensibilidade parental e adaptação aos sinais dados pelas crianças são essenciais para estabelecer a sincronia.
Durante interações síncronas, pais e filhos conseguem aceder aos estados mentais internos um do outro, predizer e compreender o comportamento um do outro, facilitando a partilha emocional e formação de um vínculo entre os dois seres humanos. O grau de sincronização dos comportamentos, afetos e atividade fisiológica e cerebral encontra-se associado à qualidade das relações entre pais e filhos, influencia a consolidação da ligação entre ambos e promove relações saudáveis e seguras. As interações síncronas consistem num mecanismo que incorpora as crianças no mundo social, transmitindo de pais para filhos padrões relacionais e comportamentos sociais.
Foto A sincronia entre pais e filhos não é simplesmente espelhar comportamentos das crianças, mas sim uma “dança” que ocorre durante interações lúdicas Inês Morais
A sincronia influencia a regulação e ajustamento emocional, visto que interações recíprocas entre os pais e as crianças, como, por exemplo, diálogos empáticos, fornecem uma oportunidade para as crianças aprenderem a expressar e lidar com as emoções, assim como a autorregular-se para se sintonizarem com os outros.
Ao praticarem competências de autorregulação em conjunto com o adulto, as crianças desenvolvem competências socioemocionais que promovem interações sociais mais adequadas, tendo repercussões no bem-estar social e emocional infantil, e diversos impactos positivos no desenvolvimento infantil, incluindo o estabelecimento de uma vinculação segura; o desenvolvimento de um autoconceito positivo e a promoção de competências de autorregulação, sociais (ex: empatia, relação com os pares), cognitivas e académicas.
Estes ritmos e padrões interacionais entre pais e filhos mostram-se relativamente estáveis desde a infância até à adolescência e predizem de forma longitudinal o desenvolvimento da regulação emocional e o ajustamento psicológico. Pensa-se que a capacidade de autorregulação parental seja fundamental para que os pais sejam capazes de se envolverem em interações síncronas com os seus filhos e para modularem de forma positiva a excitação afetiva da criança.
A sensibilidade parental, o toque, a expressão vocal e facial de emoções positivas e o vínculo entre os pais e filhos são fatores cruciais para o estabelecimento da sincronia.
Inês Morais
Fonte: Público
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