Uma das consequências da pandemia prolongada no tempo, foi a maior atenção à saúde mental profundamente afetada, sobretudo no período dos confinamentos. Um estudo recente divulgado no portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a partir de um questionário online dirigido a várias carreiras e categorias profissionais, entre maio e agosto de 2020, revela que mais de um quarto dos indivíduos da população adulta e cerca de metade dos profissionais de saúde reportaram sintomas compatíveis com depressão e ansiedade moderada a grave, bem como stress pós-traumático. Quase 34% manifestaram sofrimento psicológico, 27% ansiedade moderada ou grave e percentagens próximas para o stress pós-traumático, a depressão ou o burnout. Talvez o único benefício deste quadro negro é o reconhecimento da importância da saúde mental e, em consequência, maior visibilidade e aceitação das doenças mentais. Ainda hoje há uma reserva em relação às doenças mentais, começando no nível da depressão, como se revelasse uma espécie de falha, fragilidade, incapacidade que é preciso esconder, como se fosse uma mancha duradoura de que não é possível recuperar.
Entre as profissões que foram consideradas de maior risco durante a pandemia estão os profissionais de saúde e os professores, postos à prova nos seus limites e cujo bem-estar emocional tem implicações naqueles com quem contactam para além de si próprios. Em maio deste ano, foi apresentado o estudo Saúde Psicológica e Bem-Estar, com coordenação científica de Margarida Gaspar de Matos, professora catedrática da Universidade de Lisboa, que se tem vindo a destacar-se pela investigação sobre os comportamentos dos jovens portugueses, os seus sentimentos, a sua relação com o risco, com a comunidade, com a família e com a vida em geral. O referido estudo, que resulta de uma parceria alargada entre investigadores da Universidade de Lisboa com diferentes unidades do Ministério da Educação, com apoio da Ordem dos Psicólogos Portugueses e da Fundação Calouste Gulbenkian, teve como objetivo conhecer o panorama da saúde psicológica das crianças e adolescentes desde o pré-escolar ao 12º ano, mas também a situação dos docentes/educadores, formulando um conjunto de recomendações para promover a saúde psicológica e bem-estar do ecossistema escolar.
Participaram no inquérito 1457 professores, realizado nas duas semanas anteriores à avaliação, na sua maioria, mulheres (81,8%), tendo mais de metade (54,6%) referido uma satisfação com a vida igual ou superior a 7 numa escala de dez. Contudo, mais de metade revela ter-se sentido nervoso (55,3%), triste (53,4%), irritado ou de mau humor (51,3%), com frequência semanal ou superior, e uma parte significativa (48,5%) indica dificuldades em adormecer. É, porém, de ressaltar que 8 em cada 10 docentes mostra-se satisfeito com o seu trabalho na escola.
São muito relevantes as recomendações incluídas neste estudo, algumas com caráter de urgência, de que destaco o desenvolvimento de competências socioemocionais, não apenas dos profissionais em exercício, mas também dos futuros educadores e professores. Conhecemos a importância da neurociência na Educação, mas importa ressaltar que o bem-estar emocional dos professores, diretores e todos os profissionais do ecossistema educativo cria melhores oportunidades de aprendizagem para os estudantes.
A plataforma Educatopia criada pela Fundação George Lucas, destinada a professores e alunos, dedica uma área importante ao bem-estar docente que considera uma tarefa essencial da escola. Num momento em que reconhecemos a falta de professores e se discute a atratividade desta profissão, importa mudar a escola para que seja possível restaurar a alegria de ensinar e aprender.
Ana Paula Laborinho
Diretora em Portugal da Organização de Estados Ibero-Americanos
Fonte: DN por indicação de Livresco
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