quarta-feira, 21 de abril de 2021

Inclusão?

Quando li a notícia pela primeira vez, sendo Abril, fui ao calendário para perceber se estava naquele filme com o Bill Murray, a Andie MacDowell e a marmota que previa o estado do tempo, pois poderia ter ficado preso no primeiro dia deste mês. Mas não. E fui então em busca de confirmação. E confirmou-se.

A Universidade de Hull, em nome da “descolonização do currículo” e da “equidade de oportunidades” decidiu aconselhar os seus professores a não insistir com os alunos para que escrevam em inglês correcto e a não assinalar os seus erros ortográficos. Parece que é tudo em nome de uma “ortografia inclusiva” que contrarie um “modo de expressão elitista”, típico de um norte da Europa, masculino e branco (The Telegraph, 11 de Abril). Em outra notícia (The Times, 12 de Abril), sublinha-se ainda que são várias as universidades que estão a adoptar “avaliações inclusivas” como parte de um esforço para combater a diferença de desempenho entre alunos brancos e negros, asiáticos ou de outras minorias étnicas e para reduzir o abandono escolar mais elevado por parte de alunos de contextos económicos mais pobres.

Muito se poderia escrever sobre esta noção distorcida de inclusão que parece achar que para se ser “inclusivo” e “equitativo” se devem abandonar padrões de maior rigor na avaliação. Por cá, existem tendências semelhantes, não vale a pena negá-lo e as justificações usam um vocabulário semelhante. Mas vou-me ficar, por agora, por apenas dois pontos sobre esta matéria:

Chama-se “paternalismo” e não “inclusão” às práticas de condescendência preconceituosa que assumem que os alunos de outras origens culturais/étnicas ou contextos económicos desfavorecidos só podem ter bom desempenho se os padrões de avaliação forem adaptados no sentido da simplificação.

E chama-se “desresponsabilização” e não “inclusão” às atitudes que prescindem de exigir que a sociedade no seu todo garanta condições para que todos os alunos, independentemente da sua origem, consigam o melhor desempenho possível, em vez de ser o sistema educativo a mascarar as desigualdades com artifícios administrativos.

Paulo Guinote

Fonte: Educare

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