O elogio é uma importante ferramenta em termos educativos. Quanto a isto, penso que não restarão quaisquer dúvidas, nem será necessário elencar os muitos estudos que o comprovam. Note-se, no entanto, que esta certeza colide com a nossa bem enraizada crença cultural de que, se está bem feito, nada há a dizer, uma vez que fazer bem é a nossa obrigação.
Como qualquer ferramenta, o elogio só é poderoso se for bem utilizado, sendo a sua banalização contraproducente. Não vamos contribuir para o aumento da autoestima elogiando tudo o que a criança faz, pois ela própria vai perceber que há elogios ocos e frívolos. O elogio deve surgir na sequência de comportamentos, tarefas e atitudes muito concretas, que efetivamente sejam dignas de reforço. “Que bonita que tu és!”, “És mesmo muito inteligente”, “Que olhos maravilhosos” são exemplos de elogios superficiais, que se enquadram na tendência atual e que não promovem o crescimento de adultos resistentes à frustração e emocionalmente equilibrados. O Facebook ilustra bem esta realidade, na medida em que apela constantemente ao “like”. Quantos adultos se expõem de uma forma verdadeiramente espantosa em troca de um “gosto”? Recentemente, as pernas de uma professora universitária eram elogiadas pelos seus alunos (“Que belas pernas, professora!”), a propósito de uma foto que ela própria publicara, em que desfilava na praia em biquíni, na companhia das filhas. Não consigo deixar de olhar para esta exposição pública com perplexidade e tenho andado a procurar sentido para esta necessidade de receber reconhecimento, na sequência da divulgação de acontecimentos, frequentemente do foro íntimo e privado. Depois deste desvio, que conscientemente não programei, volto ao tema inicial, o elogio infantil.
Sempre que a criança realize uma determinada tarefa com sucesso é importante valorizar e elogiar o esforço e o investimento por ela despendidos e não a sua inteligência. Estudos realizados mostram que, quando a criança é elogiada pela sua inteligência, pode ter receio em aceitar novos desafios, com medo de errar, temendo que esse erro altere a perceção que os adultos têm acerca dela. As crianças que são valorizadas pelo esforço são mais persistentes na realização das tarefas, têm autoestima e autoconfiança mais elevadas, estabelecem mais facilmente relações com os pares e têm maior facilidade na aprendizagem escolar.
Para concluir, diria que, apesar de ser perfeitamente compreensível que crianças e adultos caiam na tentação do Calvin, na verdade o elogio só é poderoso se surgir na sequência de uma conquista obtida com empenho, dedicação e envolvimento pessoal.
Adriana Campos
Fonte: Educare
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