Os nossos filhos estão, por esta altura a regressar às aulas. Com o frenesi de reencontrar amigos, professores, rotinas, lugares, o cheiro dos livros novos, o material imaculado, etc. E a nova turma, claro. Falemos, hoje, da forma como se constituem as turmas.
Fará sentido que, depois de constituída uma turma, ela acompanhe, por vários anos de escolaridade, os nossos filhos? Qual será a mais-valia de uma turma que se constrói no jardim de infância (acreditem, não é enfático; isto existe!) e os acompanha até ao 9.º ano de escolaridade, por exemplo? Alguém ganha que, dentro de uma turma, se definam vários papéis, de forma informal, tais como: “o certinho”, “o distraído”, “o preguiçoso”, “o rebelde”, ou “o inteligente”, e assim se mantenham por vários anos? Porque é que parece ser prejudicial, aos olhos de quase todas as escolas, que cada turma “se divida em três ou em quatro” e esses diversos meninos se organizem, todos os anos, em novas turmas, obrigando-os a todos a reorganizar os seus lugares num grupo, a empenharem-se a conquistar um novo espaço e um novo papel no contexto dos novos colegas da turma, obrigando-os assim a crescer com a diversidade e com a pluralidade? Porque é que, por mais que quase todas neguem essa espécie de desigualdade, a Turma A de imensas escolas pareça ter meninos agrupados de forma muitíssimo pouco aleatória, considerando os respetivos apelidos e a sua ascendência social? Será que uma escola ganha quando separa os meninos de “classe A” dos “NEE’s” (como, tantas vezes, de forma tão escandalosamente discriminatória, são referidos os meninos com dificuldades escolares)? E o que é que lhes traz como experiência amiga do futuro uma escola que assume ter turmas a “duas velocidades”, disciplinas de “categorias” diferentes e áreas de estudo de "1.ª” e de “2.ª” às quais são atribuídos professores, claramente distintos, considerando as suas competências, a sua experiência e a sua formação pedagógica? Como pode uma escola ser educativa e democrática quando, ao mesmo tempo, discrimina? Como pode ser um bálsamo que democratiza o mundo à boleia das desigualdades que acentua? Pode a forma como se constituem as turmas ajudar a enviesar a relação das crianças com a escola e, em vez dela ser vivida como um local onde se cresce com a pluralidade, criar-se uma tendência para a unicidade que dá a muitas turmas uma aragem de “apartheid” e de “xenofobia” muito pouco amiga do mundo em que os nossos filhos vão crescer? Será um prenúncio de sensatez que a alunos com melhores resultados se atribuam professores com mais recursos educativos e aos alunos com maiores dificuldades professores menos experientes, por exemplo? Como pode uma escola ser, ao mesmo tempo, séria na forma como reúne recursos e os estimula no sentido do conhecimento e batoteira, considerando o modo como separa e divide? Poderá esta forma de crescer na escola tão pouco versátil e tão pouco aberta à transformação e à mudança e à pluralidade ser um local onde se aprende a conviver com a vida e com todas as pessoas que ela nos traz? Como pode uma escola ir acentuando a exclusividade ao mesmo tempo que se reclama inclusiva? Como pode uma escola esquecer que a vida é, ela própria, “o ensino público” que a escola, pública ou privada, nunca será, se alimentar estes vícios de forma que torna os meninos diferentes na forma como lá chegam e, ainda, mais diferentes, quando de lá saem? Não poderá uma escola amiga das “turmas A” correr o risco, perigosíssimo, de estar a formar, contra a vontade de todos, estudantes da “classe B”?…
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